Li 21-X-59
Meu Caro Lúcio,
Infelizmente não me posso alongar desta vez envolve um certo número de problemas que estão em suspenso. Voltarei a escrever-te amanhã.
Esta é para te anunciar que acabo de saber pela secretária da Embaixada da Guiné em Paris que eles não aceitam mais cartas do e para o M.M., pelas vias até aqui utilizadas. Não sei exactamente o que se passa. Talvez o gajo se tenha recusado a entregar a correspondência aberta, presumo. Um certo número de coisas leva-me a supor que o nosso amigo tem brilhado pela falta de tacto político, diplomático – o que não arranja nada a nossa situação. Sei que ele é inexperiente. Enfim, não entendo o sentido dessa carta do Araújo Lima. (A propósito: ainda não nos reunimos).
Aqui tens a morada do H. M.: Hôpital Ballay. Conakry. Chegou há dois dias a noiva que aguarda bilhete para lá.
Vê se te informas aí do itinerário postal para a Guiné; se não passar por Paris, creio que tu lhe podes escrever directamente.
Em meu entender, tu devias pedir imediatamente o visa (v. formulário junto; onde está France lê Allemagne) e partir sem a tua mulher e filho. A Embaixada exige bilhete de ida e volta.*
Na mesma altura em que me remeteres o formulário, deves anunciar ao MM. a tua decisão.
Penso, por mim, ir a Londres o mais breve possível ou talvez na altura em que o S.T. fizer a sua visita.
Isto, no que se refere à Guiné.
O resto segue.
Um abraço do teu
Mário.
*condição essencial para o v/ turista. [escrito do lado esquerdo da página, na vertical]
[Escrito do lado esquerdo da 1ª página, na vertical]
Acaba de sair: Franz Fanon: L’An V de la Révolution Algérienne.
É livro pequeno mas de suma importância. Li-o numa noite. O editor mandou à Mme Bouvier mas eu posso enviar-te dentro de dias um exemplar. Lembra-me.
Carta de Mário de Andrade a Lúcio Lara