Carta de Viriato da Cruz a Lúcio Lara

Cota
0009.000.019
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Viriato da Cruz
Destinatário
Lúcio Lara
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
1
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Carta de Viriato da Cruz
[dactilografada]

10.1.60
Caro Amigo

1 – Junto o projecto do trabalho para a tribuna.
2 – Pedi ao Mário que o traduzisse rapidamente. Não sei se ele o fará a tempo. Em face da dúvida, vós podereis talvez, por pura prevenção e prudência, iniciar a tradução do mesmo aí. Se a tradução do Mário vier, ficamos com a tradução dele.
3 – Pensei que um trabalho para esse fim teria que ser curto (pois mais gente quererá também falar), denso, e teria que mostrar a posição específica dos nossos problemas com exemplos de todas as colónias, como convém à natureza do mac. Um trabalho destes não pode ter a preocupação de exprimir, enciclopedicamente e de uma só vez, os nossos problemas. Como sempre, escrevo-o, tendo em vista a ignorância das outras delegações, a necessidade de informar à imprensa e opinião mundiais, e o dever de, permanentemente, alimentarmos e impelirmos a mobilização anti-colonialista dos nossos povos. Quer dizer: pelo tom e pela substância, esse trabalho não se dirige a um só tipo de auditor.
4 – Interessa tirar, a copiógrafo, cópias, em francês, desse trabalho. Depois de lido, ou no caso de não ser lido, ele seria distribuído ao menos aos representantes da imprensa presentes na conferência.
5 – Acho que deveríamos também imprimir umas centenas de postais com pelo menos seis fotos dos acontecimentos de S. Tomé, em 53. Vou tentar (não garanto) conseguir isso aqui. É mais do que claro o valor que tais postais teriam.
6 – O secretário-geral da ONU estará em Lisboa no dia 25. Penso que deveremos enviá-lo, via Lxa, no dia 24, um telegrama com um conteúdo adequado aos nossos problemas permanentes, à situação em Angola e à abertura da Conferência. [acrescentado à mão, na margem: Ao cuidado talvez, do Ministério dos Negócios Estrangeiros.]
7 – Para apensar aos ditos postais, deveríamos redigir, passar a copiógrafo, uma descrição sumária (50 linhas) dos acontecimentos de S. Tomé. Descrição não puramente histórica, mas dinâmica e com intenções várias.
8 – Como sabes, o verdadeiro trabalho de uma Conferência é feito nas Comissões.
Também temos de nos preparar para ele. E nesse sentido, acho que a presença do Abel [Amílcar Cabral] seria indispensável, a fim de nós não tomarmos engajamentos e não fazermos propostas parciais.
9 – O Mário devia ter tido ontem audiência com o vice-presidente dos Juristas, o tal brasileiro. Mas ele queixa-se de falta de elementos, e acusa – (e eu apoio) – o silêncio e certo comportamento infantil e histérico de Lxa. Calcula tu que alguém lhe disse ter lido, num jornal de Luanda, uma lista dos amigos que serão julgados. Mas esse alguém não teve a genial e dificílima ideia de enviar um recorte desse jornal. Medo da pide? Mas como, se é recorte de um jornal? Alguém teve possibilidades de consultar os processos num cartório de Lxa, mas esse alguém, a conselho dos amigos, partiu para o estrangeiro sem trazer os dados fundamentais e necessários às nossas démarches. Falta de reflexão, histerismo e infantilidade.
10 – Os dois moços1 já estão em Leipzig. Mas as condições de vinda deles para aqui não deverão mais repetir-se!
11 – Pedi ao Horta que me apresentasse, até o dia 12 deste, um projecto de uma associação de estudantes, que seria organizada e filiada a uma dessas federações mundiais. Única maneira de, mais uma vez, lançarmos para o caixote de lixo as obstruções que, nesse sentido, Paris levantou, com êxito temporário.
12 – Bom. Irei escrevendo-te, talvez dia a dia. Ainda não sei quando parto, pois não recebi ainda o pass que vem sendo tratado. Os organismos oficiais sabem, no entanto, que necessito dele muito antes do dia 25.
13 – Pedi ao Mário, há dias, que enviasse ao Abel um telegrama assim concebido:
Sobre análises laboratoriais solos urgente presença A aqui.
14 – Levarei o que a Ruth pede. Cumprimentos.
ass.) V.

Carta de Viriato da Cruz (Berlim) a Lúcio Lara (Túnis)

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