Carta de Viriato da Cruz a Lúcio Lara e Amílcar Cabral

Cota
0011.000.061
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Viriato da Cruz
Destinatário
Lúcio Lara e Amílcar Cabral
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Carta de Viriato da Cruz [dactilografada] Conakry, 8 de março de 1960 Caros Amigos L. [Lúcio Lara] e Abel [Amílcar Cabral], 1 – Antes de tudo quero felicitar ao Abel pela conf. de imprensa que ele deu no dia 4, em Londres. A edição de ontem da «Agence Guinéenne de Presse» (diário oficial) refere-se ao acontecimento nos seguintes termos: «L'Afrique sous domination portugaise entre dans la danse. Selon une depêche de l'Agence France Presse, au cours d'une conférence de presse tenue vendredi dernier à Londres, M. Abel DJASSI membre du Comité-directeur du Front Révolutionnaire Africain pour l'Indépendance des Colonies Portugaises, a déclaré qu'une série de procès en haute trahison va s'ouvrir lundi en Angola. Et il lance à cette occasion un appel à l'opinion mondiale».1 Depois deste parágrafo, a referida Agência guineana comenta sarcasticamente a atitude geral dos colonialistas portugueses perante o movimento de libertação africano. Os comentários estendem-se por umas 50 linhas. Vou mandar ao L. esse recorte, a fim de ele, se possível, transmiti-lo aos amigos de Port. 2 – Acho que se impõe que, em Port., os nossos camaradas entrem em contacto c/ o p.c. [PCP], a fim de este, por intermédio da sua imprensa, dar larga difusão, no seio do povo portug., à actividade exterior da Frente e aos comentários da imprensa mundial acerca do caso colonial port. 3 – Aqui, pedimos ao UPC, à UGTAN e ao Comité Nacional de Libertação da Costa do Marfim para enviarem telegramas de protesto ao Governador de Angola. Eles acederam. Porém, apesar dos passos que dei, não sei se chegaram a cumprir o que prometeram. 4 – Acabo de receber uma carta do Abel, que foi posta no correio em 5 deste. Acho muito bem que cada um de nós faça o máximo que pode; mas também é indispensável que, como membros de uma organização, ponhamos os outros camaradas, igualmente responsáveis, ao corrente do que formos fazendo. Precisamos de nos aconselharmos uns aos outros, de nos estimularmos com as vitórias de uns, de aprendermos com as experiências de outros, de retomarmos, dentro das n/ condições particulares, o trabalho que outros, ainda, não puderam concluir. Enfim, trabalho organizado, disciplinado; emulação; e «presença» de camaradas. Se aceitarmos que quem trabalha está desobrigado ou desculpado de informar sobre o decorrer dos seus trabalhos, eu e o Zé Silva, se quisermos ser mais malandros, podemos deixar de escrever a todos os camaradas só para dar a impressão de que estamos trabalhando. Não concordo que cada um se assente sobre os seus ovos para chocá-los, calado, durante semanas. Estou a dizer isso com um bocado de laracha; mas o conteúdo do que digo não podia deixar de o dizer, se falasse c/ a maior seriedade possível. 5 – No caso de terdes dificuldades de publicar o manifesto em Londres (prefiro Londres), enviem-nos uma cópia do manifesto definitivo para nós tentarmos publicar aqui, pois, como já vos informei, o sec.-geral da organização daqui disse que nos ajudaria no respeitante à impressão. 6 – Recebi hoje carta do «Indian Council for Africa», que teve um grupo de observadores na conf. de Túnis. A carta é oficial. Pedem-nos: relações frequentes e estreitas; que lhes informemos das n/ actividades; literatura e documentação sobre os n/ países. Que pensais disso? A propósito, acho que o Abel não devia sair daí sem tentar contactar o Goan League. Sinto que é inadiavelmente necessário que, dentro de meses ou de menos tempo ainda, realizemos um Congresso ou uma Conferência de todas as organizações do maior número possível de colónias portuguesas (incluindo as asiáticas), a fim de estabelecermos um plano de coordenação da actividade geral contra o inimigo comum. O acontecimento, em si mesmo, seria de grande efeito. E a realização prática de algumas resoluções adoptadas nesse Congresso ou Conf. teria um apreciável valor transformador sobre o colonialismo português. Se concertarmos, desde já, uma Conf. dessas com o Goan League, poderemos, com mais trabalho é certo, concertar o mesmo com organizações de Macau e Timor, seguindo vias colaterais (China e lndonésia). E talvez organizações (oficiais ou não) da Índia, da China e da Indonésia aceitem ajudar financeiramente essa Conf. 7 – Pergunto ao L. se ele recebeu os 5 dinars que lhe enviei o mês passado, por carta registada. O que se passa com o L.? Estará doente? Estará em Agadir? – Também estou por receber o papel timbrado. Cumprimentos. Abraço a todos. ass.) V.

Carta de Viriato da Cruz (Conakry) a Lúcio Lara e Amílcar Cabral

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