Editorial «O que eles não entendem» do Diário da Manhã

Cota
0013.000.059
Tipologia
Texto de Análise
Impressão
Manuscrito
Suporte
Papel comum
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3

Editorial do “Diário da Manhã”1

“ O que eles não entendem”

[cópia do editorial do Diário da Manhã, Ano XXX, nº 10 407, de 19 de Junho de 1960]

Recebemos de Conakry um papel onde certo pretenso "Comité Directeur du Mouvement Populaire de Libération de l'Angola" pede ao Governo de Lisboa, em francês, que faça o favor de conceder todas as exigências já nossas conhecidas através das várias formas de agitação comunista, que está hoje por trás de quanto se refere a "emancipação" da África.
São essas exigências: a autodeterminação (claro!), a amnistia dos presos políticos, o estabelecimento de partidos políticos, a retirada de forças militares e a convocação duma Conferência de Mesa Redonda para discutir a solução pacífica do problema de Angola.
O papel não é melhor nem pior do que outros que por aí têm andado; ou do que as emissões da Rádio-Moscovo. Afinam pelo mesmo tom. O interesse só está em servir de documento no processo dos nossos inimigos – no processo dos que pretendem vir ocupar as terras que são portuguesas há séculos. Documento, aliás, revelador de fraca maleabilidade de entendimento, na medida em que mede pela mesma bitola as províncias de uma Nação integradora de terras, homens e de culturas, com a simples ocupação colonial que foi a atitude de outros povos.
É claro que, na sua fúria rasoirante, estupidamente rasoirante, o comunismo não vê que uma província de estado unitário não sente autodeterminações e que a proposta de uma Conferência de Mesa Redonda, poderia entender-se para uma partida de "bridge", mas não tem sentido quando se trata de discutir soluções de problemas inexistentes. Essa fúria rasoirante tem sido o maior defeito do comunismo ocidental. Dele provem o desprestígio que conseguiu entre as camadas da juventude de toda a Europa, desde a Polónia até à França e à Itália.
Um amigo nosso teve possibilidade, há bastantes anos quando a Espanha se debatia na guerra civil, de conhecer em Inglaterra um dos altos trunfos do comunismo internacional. E, naturalmente perguntou-lhe o que pensavam os dirigentes supremos do partido acerca do futuro duma revolução portuguesa se esta fosse possível.
E o outro respondeu: – Isso lá na Península é com o Dr. Negrin. Quer dizer: Portugal era atirado para a situação de simples parcela peninsular, sem quaisquer respeitos de outra ordem. A tal fúria rasoirante.
Há dias o Sr. Nehru reconheceu que na ofensiva contra a África portuguesa seriam necessárias unidades especiais porque, dizia, "a capacidade dos portugueses para compreenderem qualquer coisa era limitada". Tem razão o Pandita. Há coisas que os Portugueses não conseguem compreender nunca. Por exemplo, o que é incompreensível. E entre o que é incompreensível está a procura de soluções para problemas que não existem. Problemas de autodeterminação sobre mesas redondas, quadradas ou de pé de galo...
Em compensação, quando em Mueda, na circunscrição de Macandas, em Moçambique, alguns desordeiros vindos de Tanganica apedrejaram o edifício da administração do Concelho e tentaram perturbar a feira popular (banja) que estava a decorrer; e quando a população portuguesa, de pretos, os agrediu indignadamente, enquanto não interveio a força pública – sucedia um facto que o Sr. Nehru, e os seus amigos comunistas, decididamente, não entendem.
E nem por isso ele deixa de corresponder a uma das mais belas, saudáveis e profundas realidades da unidade portuguesa.

Cópia do editorial «O que eles não entendem» do Diário da Manhã, Ano XXX, nº 10.407

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