«Prisão de Joaquim Pinto de Andrade», por Nguengue

Cota
0014.000.006
Tipologia
Notícia
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Autor
Nguengue
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
1

Foi preso (o Padre Joaquim de Andrade) no dia 25 de Junho pelas 13h05 aproximadamente, quando saia do s/ quarto, situado na Paço Arquiepiscopal (numa antiga sala de aulas do 4º e 5º ano do semin., para o almoço em casa do s/ tio. Não foi conduzido para as prisoes de costume, mas sim conduzido à sede da Delegação da PIDE, onde ficou num dos quartos. O seu carro foi mandado buscar  mais tarde à porta do quarto onde se encontrava e foi também e onde esta até presente data, junto à Delegação. Foi a partir de 27 que começou a receber visitas, a horas marcadas. A 28 foi-lhe permitido ter um altarzinho no quarto para celebrar; mas que concerteza, para inglês ver, pois se celebrou apenas foi na manhã de 29 porque às 11h10, foi conduzido para o Aeroporto, com desconhecimento de todos, inclusivè do Arcebispo, que havia chegado a 27 vindo da Metropole, onde embarcou a bordo dum avião militar, acabado de chegar com um grande carregamento de tropas ou melhor policiais. Até à presente data nada se sabe do seu paradeiro. Já se escreveu para Lisboa a saber dele e de lá dizem que ainda não chegou. A Mai está aflitíssima! Chegou do Golungo há dias por causa do filho e não sabe até aqui onde se encontra.
    Dizem “eles" que seguiu para a Metrópole que posto lá deixa-lo-iam em liberdade; foi apenas devido ao estado de coisas que por cá reina. Decretaram o estado de sitio. Patrulham das 21 horas às 5h da manhã, os muceques. Têm assaltado as cubatas dos indígenas e procedido a buscas. Têm sido muitos os espancados e alguns mortos. Vivemos com o coração nas mãos. Reina o terror, a ameaça! Têm chegado tropas camufladas, material de guerra, policiais, barcos de guerra patrulham as águas, espera-se para breve a chegada da força aérea. Patrulhas militares de metralhadora em riste, percorrem as zonas sub-urbanas. Então pelo interior sabe Deus a chacina das autoridades administrativas. Aos comerciantes foram-lhes distribuídos armas, para o primeiro sinal descarregarem contra nós, enfim, só Deus sabe o que por aqui vai!
    O Arcebispo parece que está com eles, pois até aqui nada resolveu! Continua a não saber do paradeiro do Joaquim. Receio bastante o seu estado de saúde, que ultimamente não aparentava bom aspecto. Já teria escrito se de facto tivesse seguido com a condição de ser posto em liberdade. deus nos há de ajudar. Aguardemos.

NGUENGUE
4/7/960

Informação sobre a prisão de Joaquim Pinto de Andrade, no dia 25 de Junho de 1960, por Nguengue

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados