Carta de Viriato da Cruz a Bernard Dombele e Pascal Luvualu

Cota
0015.000.037
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Viriato da Cruz
Destinatário
UNTA, Bernard Dombele e Pascal Luvualu
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

 Carta de Viriato da Cruz a B. Dombele e P. Luvualu [dactilografada – original em francês] Ref. 1/AI/60 Conakry, 21 de Outubro de 1960 Camaradas Bernard DOMBELE e Pascal LUVUALU Vice-presidente e Secretário da UNIÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES ANGOLANOS Leipzig W 35 Thorerstrasse 12-14 Caros Camaradas, Agradecemos a vossa carta de 10 do corrente assim como a confiança que em nós depositam. Temos em boa consideração todas as vossas propostas. Antes do mais devemos dizer que aceitamos lançar, uma vez mais, um apelo à unidade de todas as organizações africanas anti-colonialistas dos países sob dominação portuguesa. Mas permitam-me que vos exponha um método: 1 – Na nossa opinião, os Angolanos devem, antes de tudo, desenvolver todos os seus esforços para agrupar numa ampla Frente nacional todos os partidos políticos, todas as organizações sindicais e populares, todas as personalidades patrióticas, todas as organizações religiosas africanas, todas as nacionalidades (ou etnias), todas as camadas sociais africanas de Angola e todos os Angolanos residentes no estrangeiro. Precisamos, antes de tudo, de uma Frente unida angolana. 2 – Pensamos que a acção prática é mais decisiva e convincente que dois ou três apelos cujos resultados são sempre problemáticos. É por essa razão que somos de opinião que as organizações angolanas pró-unidade (como a UNTA e o MPLA) devem, desde já, entabular conversações com o objectivo de se assinar um pacto de unidade de acção na base de um programa mínimo e comum, visando unir todo o povo na luta pela libertação de Angola. A Frente formada pela UNTA e pelo MPLA estaria aberta a todas as organizações angolanas que quisessem aderir a ela. Todas as organizações membros da Frente teriam o direito de manter intacta a sua estrutura. Estamos certos que este acto positivo da UNTA e do MPLA contribuiria para liquidar o isolamento das organizações angolanas e para criar a ideia justa e imperativa de unidade de acção, da Frente nacional angolana. A unidade entre a UNTA e o MPLA será um bom exemplo de entendimento e de patriotismo, acima das ambições partidárias. O campesinato e a classe dos trabalhadores angolanos ganhariam imenso com isso. 3 – Estamos convictos que a unidade entre as nossas duas organizações seria um acto absolutamente natural, tanto mais que o programa e a actividade do MPLA se baseiam nas reivindicações do campesinato e da classe dos trabalhadores de Angola, as duas classes sociais angolanas que englobam quase a totalidade da população africana do nosso país. 4 – Chamamos a vossa atenção para o facto, que certamente é do vosso conhecimento, de que, na nossa época, nenhum povo colonizado levou a cabo com sucesso a resistência anti-colonialista e conquistou a independência total (a independência para a imensa maioria dos camponeses e dos trabalhadores e não apenas a independência que aproveita a uma minoria africana associada ao neo-colonialismo) sem uma Frente nacional unida, sem o concurso primordial da aliança organizada do campesinato e da classe dos trabalhadores, e sem encarar a resistência armada da nação inteira, agindo como um só homem. 5 – Caso estejam de acordo com a abertura das conversações entre as nossas duas organizações, propomo-vos que as nossas negociações sejam publicamente conhecidas apenas após a sua conclusão. A – Enviámo-vos ontem, por avião, cópias dos últimos documentos do MPLA. Far-vos-emos chegar outros regularmente. B – Dois dias depois da conversa que tivemos, pedi bolsas sindicais às autoridades competentes. Parece-me certo que o pedido venha a ser satisfeito. Outros países prometeram-nos, para o próximo ano escolar, bolsas para várias especialidades. Estaremos sempre à vossa disposição. Creiam, Caros Camaradas, nos nossos mais fraternos sentimentos.

Carta de Viriato da Cruz (Conakry) a Bernard Dombele e Pascal Luvualu

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.