Segundo apelo à Unidade

Cota
0015.000.055
Tipologia
Apelo
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
MPLA, Comité Director
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
4
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Segundo Apelo do MPLA à Unidade
[policopiado]

SEGUNDO APELO À UNIDADE

Depois do «Apelo à Unidade», lançado em Maio de 1960, o MPLA lança, mais uma vez, este premente apelo à unidade de todos os partidos, organizações e personalidades patrióticas de Angola.
Porquê a unidade?
A unidade de todos os partidos, organizações e personalidades patrióticas do país, na luta comum contra o colonialismo e o imperialismo, é a única garantia para que à dominação estrangeira não se substitua a dominação de uma minoria nacional sobre a maioria do povo, e para que a luta popular pela independência seja levada até ao fim, até a independência total, política e económica.
A unidade dos partidos, organizações e personalidades patrióticas de Angola será também a mais sólida barreira contra um neo-colonialismo que se prepara para intervir oportunamente no nosso país.
A experiência da luta contemporânea dos povos colonizados mostra que só foi possível ganhar a batalha pela independência total,
1 – Ali onde a luta anti-colonialista e anti-imperialista foi travada por uma larga Frente nacional;
2 – Ali onde as massas populares mais oprimidas e mais exploradas do país (a quase totalidade da população) estavam organizadas e unidas e tomaram parte na direcção da luta pela independência nacional;
3 – Ali onde a eventualidade de uma resposta eficaz por parte do povo colonizado à agressão armada dos colonialistas estava garantida pela união orgânica do povo através da Frente nacional.
O MPLA está convencido de que o povo angolano só poderá libertar-se completamente do colonialismo português, conquistar uma independência total e liquidar todas as tentativas de neo-colonialismo, se ele conseguir reunir os três factores acima apontados e tirados da lição da história.
O MPLA está convencido de que é absolutamente possível ao povo angolano reunir, dentro de pouco tempo, os três factores citados.
O MPLA saúda vivamente a ALLIANCE DES RESSORTISSANTS DE ZOMBO (ALIAZO) que defende, nos seus Estatutos e no seu Programa Preliminar, as teses da independência total, da unidade africana e da Frente comum angolana, e que sustenta que a «unidade dos povos como das tribos deve tornar-se firme para que a Unidade Africana, sonho de todos nós, seja forte e estável...».
O MPLA saúda vivamente o desejo de uma colaboração estreita entre todos os partidos e organizações de Angola, desejo manifestado por dirigentes de organizações angolanas, nomeadamente da UNIÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES ANGOLANOS (UNTA) e da MLEC e por militantes da UNIÃO DAS POPULAÇÕES DE ANGOLA (UPA).

QUEM SÃO OS ADVERSÁRIOS DA UNIDADE?
A experiência da acção política do povo angolano demonstra que os adversários da unidade têm sido
a) todos aqueles que alimentam a ilusão ou a ambição de que a independência de Angola possa ser conquistada por um só partido;
b) todos aqueles que têm medo da marcha do povo unido;
c) todos aqueles que, dizendo-se neutros, optaram, na verdade, por uma posição ou por uma tendência que os leva à prática da intolerância; ou todos aqueles que, dizendo-se democratas, provocam, na realidade, a divisão do povo, explorando as diferenças ideológicas entre indivíduos de uma mesma pátria.

O MPLA tem evitado e evitará entrar nessa competição insensata e prejudicial aos sagrados interesses do povo angolano.
Tudo quanto une os angolanos deverá ser sempre colocado acima de tudo quanto os separa.
O MPLA denuncia como política de leilão e sem nenhum interesse patriótico a atitude daqueles dirigentes angolanos que procuram aumentar o número de aderentes das suas organizações declarando falsamente que estas são as únicas que têm repercussão no exterior. A repercussão, a aceitação e o prestígio que o MPLA tem no plano internacional são incontestáveis. Mas o MPLA declara abertamente que todas as organizações angolanas, que têm tido possibilidades para agir no plano internacional, têm feito trabalho útil. O MPLA garante a todas as organizações angolanas que, se elas tiverem oportunidade de chegar ao plano internacional, serão bem aceites pelas forças que se solidarizam com a luta do povo de Angola. O MPLA declara-se disposto a facilitar a projecção internacional de todas as organizações patrióticas angolanas que queiram utilizar os seus serviços.
Mas a que pode levar a corrida pela projecção particular de cada organização patriótica de Angola no plano internacional?
Uma projecção dessa espécie só leva à dispersão do apoio da solidariedade internacional ao povo angolano; só torna possível que certas correntes estrangeiras, que se dizem anticolonialistas mas que não estão na realidade interessadas na independência total de Angola, intriguem as organizações angolanas e dificultem a nossa unidade necessária e imperativa.
Aquela espécie de projecção contém ainda o perigo de tornar algumas organizações contentes de si mesmas e cegas perante as suas próprias fraquezas. Esta atitude não pode conduzir à unidade nacional, à colaboração nacional, e é a mãe da arrogância.

COMPATRIOTAS!
A unidade de todas as organizações patrióticas angolanas é, por conseguinte, o único caminho sensato e que pode levar o nosso povo à independência imediata e total.

COMO CONSTRUIR A FRENTE ANGOLANA?
Movido pela única preocupação de fazer avançar o movimento de opinião angolano que deseja a unidade dos partidos e das organizações e personalidades patrióticas de Angola, o MPLA torna públicas as seguintes proposições:
1) A Frente angolana deverá ser uma larga união de todos os partidos políticos, de todas as organizações sindicais e populares, de todas as personalidades patrióticas do país, de todas as organizações religiosas, de todas as etnias, de todas as camadas sociais africanas, de todos os angolanos residentes no estrangeiro, sem discriminação de tendências políticas, de crenças religiosas, de condições de fortuna, de sexo e de idade.
Todos os partidos e organizações membros da Frente terão o direito de manter intacta a sua estrutura.
A Frente não poderá intervir nos assuntos internos dos partidos e das organizações membros.
A Frente deverá possuir Estatutos, Programa e organização.
2) Nenhum motivo de ordem ideológica deverá ser invocado para não admitir na Frente ou excluir dela qualquer organização ou personalidade patriótica de Angola. A Frente deverá perfilhar e respeitar o espírito dos Artigos 18º e 19º da «Declaração Universal dos Direitos do Homem», que declaram respectivamente:
– «Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião;...»
– «Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão...»
A intolerância por motivos ideológicos é contrária às tradições africanas. Além disso, todos os angolanos sabem, por dolorosa experiência, que é também por intolerância ideológica que a PIDE vem prendendo, torturando, deportando e matando os nossos compatriotas. Ninguém ignora, por exemplo, que, acusando os patriotas angolanos de seguirem esta ou aquela ideologia, a PIDE acha-se com o dever moral de encarcerar, humilhar e assassinar os nossos irmãos.
O MPLA, certo de estar de acordo com as tradições democráticas e humanistas dos povos africanos e com os princípios da «Declaração Universal dos Direitos do Homem», denuncia vigorosamente essa intolerância como uma grosseira imitação da ditadura fascista portuguesa. É evidente que o povo angolano, que vem sofrendo na carne e no espírito os males do fascismo português, não deseja instaurar em Angola um regime fascista ou fascizante, mas sim uma democracia onde todos os cidadãos angolanos, seja qual for a sua ideologia, crença ou convicção, poderão dar o seu trabalho e o seu saber ao engrandecimento de Angola.
Angola deverá ser a pátria benévola de todos os seus filhos e não apenas de minorias intolerantes que se comportem como donas dos destinos da nossa terra e do nosso povo.
3) O MPLA propõe uma Conferência de todos os partidos e de todas as organizações patrióticas de Angola.
Objectivos da Conferência:
a) Estudo construtivo dos problemas referentes à unidade do povo angolano na sua luta pela independência imediata e total; e
b) Constituição solene de uma Frente angolana de libertação.
Lugar da Conferência: Um país africano independente.
Data da Conferência: Segunda quinzena do mês de Fevereiro de 1961.
Meios materiais para a realização da Conferência: As organizações patrióticas angolanas deverão apresentar propostas e sugestões sobre esse assunto. Um comité preparatório da Conferência estudará todas as propostas e sugestões e decidirá sobre os meios materiais para a realização da Conferência.
Démarches imediatas: O Bureau do MPLA em Conakry (République de Guinée, Boite Postal 800) aceita encarregar-se de pôr imediatamente em marcha todas as propostas e sugestões que os partidos, as organizações e as personalidades de Angola apresentarem desde já. Na base das propostas e sugestões que lhe forem apresentadas, o mesmo Bureau encarrega-se de fazer todas as consultas e de dar todos os passos necessários à constituição urgente do comité preparatório da Conferência.

COMPATRIOTAS!
Unamo-nos!
Coloquemos a necessidade de libertação urgente e total do povo angolano acima de ambições, vaidades ou rivalidades partidárias, que não são mais, afinal, do que o insulto da indiferença ou do egoísmo perante os sofrimentos por que vem passando, dia a dia, o nosso povo.
No presente, a tarefa imediata e sagrada de cada angolano e de todos os partidos e organizações patrióticos é tornar Angola livre e independente. Só na liberdade e na independência poderá o povo angolano escolher o regime político e social em que ele quer viver. E essa escolha só deverá ser feita pelo povo e por meios democráticos.

COMPATRIOTAS!
O MPLA apela a todos os angolanos para que façam tudo para aumentar o movimento de opinião popular que exige, com razão, a unidade combativa de todos os partidos e organizações patrióticos de Angola.

VIVA A LUTA UNIDA DO POVO ANGOLANO!

O COMITÉ DIRECTOR DO
MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA
Conakry, 5 de Novembro de 1960

Segundo apelo à Unidade (Conakry)

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.