Carta de Lúcio Lara a António Nogueira Santos

Cota
0018.000.019
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
António Santos
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

 Conakry, 25 de Janeiro de 1960 [é de 1961] Meu caro Toni Obrigado pela tua carta de 8 do corrente. O motivo que te levou a escrevê-la foi por nós devidamente considerado. Escrevemos ao senhor dando-lhe o nosso acordo de princípio e pedindo-lhe que entre em contacto connosco directamente. A única restrição a um presumível acordo será a de ser de nossa conveniência que a viagem se efectue a partir de Conakry. Mas isso não constituirá obstáculo... As condições expostas são bastante aceitáveis. Agradecemos- -te o teres tido o cuidado de nos transmitires esta questão. Quanto à possibilidade de um encontro com a oposição portuguesa no Brasil, logo que haja algo de concreto quanto à presumível viagem de um delegado nosso, estudaremos a questão. Naturalmente que um encontro desse género pode ser de grandes vantagens para ambas as partes, sobretudo porque a oposição portuguesa no Brasil não tem uma posição definida quanto aos nossos problemas: cada sector os encara de sua maneira... Gostei que contactasses aí com os nossos camaradas do MPLA. A amizade que os portugueses de Londres lhes dedicaram é a prova cabal de que, noutras condições, a luta dos povos das colónias portuguesas poderia ser apoiada pelos portugueses honestos de uma forma mais activa. Aguardemos o futuro, que não será longo, para que os problemas comuns a Portugal e ao que são hoje as colónias portuguesas possam ser tratados numa base de confiança e serenidade. Será que tencionas ir a Portugal por estes tempos? Que faz a Anita que nunca mais deu acordo de si? Nós aqui estamos cheios de trabalho. A par das actividades políticas alguns de nós exercem profissão aqui na República. Eu estou como professor de Matemática. A Ruth trabalha para uma Agência noticiosa da República Democrática Alemã. E assim o exílio deixa de ser um problema, pois temos sempre com que nos ocupar. Até já armamos em capitalistas e compramos um VW em não sei quantésima mão, mas que nos faz o favor de nos rebocar para onde é preciso e quando é preciso. Foi baratucho, mas mesmo assim ainda não o pagamos todo. De resto ainda estamos alojados muito incomodamente, pois ainda não chegou a minha vez de receber uma casa do estado, que é devida a todos os professores. Claro que vivemos razoavelmente e não fossem os imensos problemas da nossa luta, poderíamos dizer que a vida decorre normalmente. A Ruth é corajosa e aceita tudo isto com desportivismo. O Paulchen dá-se perfeitamente. No fundo ele é a única pessoa que talvez venha a ressentir toda esta vida. A verdade é que não temos condições para o educarmos como sonháramos: umas vezes andamos enervados, outras vezes falta-nos o tempo e a paciência para lhe dedicar­mos uns momentos, mas apesar de tudo ele vai-se criando e em condições que não podemos sinceramente lamentar, pois nesta terra onde ele não tem nenhumas raízes, consegue ter uns companheiros com quem se diverte o dia inteiro. Esta vai longa, meu caro. A Ruth não pode escrever desta vez, mas envia-vos muitas saudades. Como vai o vosso Pedrinho? Aguardamos ansiosos a carta da Anita com a descrição da vossa aventura na compra da casa. Já temos saudades das suas cartas... Bem caríssimos. Carinhos nossos para o Pedro e um abraço para cada um de vós. Agradeço-te que te encarregues de endereçar a carta para o Carlos Thiré. O assunto parece ser sério. + 1 abraço do teu

Carta de Lúcio Lara (Conakry) a António Nogueira Santos, em resposta à carta de 8 de Janeiro. Aborda a possibilidade de um encontro com a oposição portuguesa no Brasil, contactos com o MPLA em Londres, sobre a vida em Conakry...

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