Carta de Savimbi à UPA

Cota
0018.000.042
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Jonas Savimbi
Locais
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º volume de «Um amplo movimento…»

 Suíça, 9 de Fevereiro 1960 [mas é de 1961] Caros amigos e compatriotas da «UPA» Antes de mais nada peço-vos desculpas pela demora em responder em definitivo à visita que o Sr. Holden [H. Roberto] me fez. Como sabem, não regatearei esforços para a reconstrução de uma nova e autêntica ANGOLA. E para todos os verdadeiros filhos da Pátria o sacrifício não conta. Estou certo que estais fazendo o que podeis para levar além esta luta que nos impacienta e arrasa os nervos mais fortes. Antes de responder à vossa amável proposta de seguir para Nova-York dirigir o escritório encarregado dos assuntos da UPA, podendo continuar os meus estudos numa Universidade americana, proposta esta que se situa no âmbito político da evolução dos acontecimentos em Angola, reflecti não quanto às possibilidades dos estudos pois estes serão interrompidos quando os altos deveres da Pátria se levantarem, mas no alcance político do meu esforço. Por natureza gosto de me dedicar ou afanosamente ou não. Nunca aceitei encetar carreiras sem convicção pessoal. Como o Sr. Holden se deve recordar mostrei-me bastante chocado ao saber que existem diferendos, entre a UPA e o MPLA. Continuo a protestar contra este princípio. Seja qual for a origem das dissidências, ela é inferior quanto ao objectivo a atingir. Seja qual for a diferença de meios a empregar, ela é nada em relação à Pátria a salvar. Se as divergências existentes têm por base a ideologia de cada um dos membros (não falo de ideologia de Partidos porque estes têm princípios para atingir fins) lamento verificar logo de princípio que as bases de democracia são violadas. Acrescento ainda, que seja qual for a ideologia que rege cada um dos Partidos ela não é africana. Foi importada das culturas de que somos detentores e somos obrigados a adaptá-la à nossa cultura e civilização se quisermos realmente contribuir com algo de sólido para a nossa terra. Não haja ilusões: o governo de Portugal não dará a independência a nenhum dos partidos seja qual for a sua moderação. A independência será conquistada. Para tal o concurso de todas as forças e todas as capacidades será imperioso. Só uma união de todos os angolanos sem distinção de credos ou ideologias políticas tornará possível esta realidade que diminui dia a dia o nosso sofrimento porque tendemos para a vitória. As divergências entre esposos não devem nunca sair fora do lar. Estou pronto a dar o meu concurso a qualquer movimento para a conquista da Pátria sob a base da UNIÃO. Em secessões, prefiro continuar na sombra pois não quero assumir a responsabilidade de um caos ou derrota. Espero que tereis em consideração as minhas palavras ditas com todo o fervor de patriota. Escrevo para Conakry em termos idênticos e se possível for encontrar uma solução mesmo temporária todos angolanos estarão em redor dessa União. Em princípio sugiro que se tenha em vista um encontro entre os representantes dos dois grandes Movimentos da nossa querida Pátria. Discutir-se-á o alcance e o valor que essa União pode trazer à nossa causa comum. Um esforço coordenado tem maiores possibilidades de triunfar que um partido único por mais forte que ele seja. Não é tempo de chamar para cada um de nós a exclusividade de representar o povo de Angola. Representamos todos essa Angola escravizada e cansada de tanto sofrer. Não devemos rejeitar o auxílio de seja quem for para atingirmos o fim, contudo devemos examinar em comum o emprego desse auxílio e o compromisso a assumir. Seja sob que pretexto for, não está compreendido nas possibilidades humanas um auxílio desinteressado porque ele não existe. Como angolano e homem assumo a responsabilidade desta frase. Por isso todo o auxílio actual impõe compromissos no futuro. Porquê desprezar um e aceitar outro se for risco corre-se na mesma? O partidarismo deve ter fim para dar lugar a uma luta comum. Na Juventude africana uma política de separatismo não tem mais adeptos e se ela consegue adeptos é duma maneira passageira porque quando a verdade soar todo o homem com faculdades normais tenderá para ela. Espero ouvir de vós o mais depressa que seja possível. Antes de ouvir qual a atitude que pretendeis tomar considero-me fora da proposta. O Sr. Holden não deixou cá a máquina fotográfica. Talvez em Lausanne em casa do Pastor. Farei o possível por saber onde se encontra. Renovo os meus maiores desejos de um ano novo decisivo ass.) Malheiro Savimbi

Carta de Savimbi (Suiça) à UPA, assinada por Jonas Savimbi. Tem data de 1960, mas é de 1961

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados