Carta de Castro Soromenho a Lúcio Lara (Maio? 1961

Cota
0021.000.010
Tipologia
Correspondência
Impressão
Impresso
Suporte
Papel comum
Remetente
Castro Soromenho
Destinatário
Lúcio Lara
Data
Mai 1961
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»



[Sem data – provavelmente meados de 1961]
Meu caro Lara:
Obrigado pela sua carta. Gostei de saber de vocês e da boa disposição que o anima. Também lhe agradeço os “papéis”, que recebo sempre em tão pouca quantidade, 1 ou 2 exemplares, que não dão para distribuir. É pena, porque há aqui gente mtº interessada no problema colonial – e só conhecia a existên­cia da UPA. Americanos e espanhóis naturalizados americanos, professores na Universidade, antigos emigrados, gente da guerra de Espanha.
Admirável a intervenção do Mário na Conferência dos Povos Africanos, e óptima a sua nomeação.
O Luiz [de Almeida] mandou-me o Boletim dos Estudantes e uma plaquete com poemas do Neto e a gravura de um belo desenho. A expressão está admirável. Dos versos não se fala, porque ele é Poeta.
Recebi ontem uma carta, muito estranha e muito significativa de um velho amigo de Angola, casado com uma mestiça, de quem tem filhos, alguns nossos amigos. Deixa-
-me bastante triste e preocupado. Como é possível tanta ceguei­ra! A carta termina assim: “Ou são dominados, ou MORREM TODOS”. Aos negros, refe­re-se.
Junto mais um recorte. Chamo a sua atenção para o artigo. Esse Robert é o Gilmore? Penso que sim.
O meu filho Waldemar lembra-se muito bem de si e várias vezes perguntava-me por [?] V[ocê]. e Mário; mas do Mário era mais por ouvir falar dele, porque não o podia recordar. Do irmão, que viu uma vez em Lisboa, sim, porque ficou muito admira­do de “o pai ser amigo de um padre”. Mandei-lhe os seus parabéns. Obgº [Obrigado].
O que se está a passar em Angola, levou-me a rectificar muitos dos meus pontos de vista em relação aos brancos de lá; todavia, gostaria de saber o que pensam os do Sul e como se comportam. Vamos ter ali algo de semelhante à Argélia, no que diz respeito a relações. Salazar não só liquidou Portugal, não resolvendo os seus problemas económicos fundamentais, como liquida Angola, que estou certo não dominará, por muitos anos. Todavia, estou em crer que a sua queda não está longe, embora sejam os ­“moderados” e o exército que tomem conta do país. Isso será o termo do colonialismo, mas não creio que do fascismo, embora pincelado de liberalismo católico... pa­ra es­trangeiro ver. Esses moderados serão os homens da mesa redonda, que não concordam, com as naturais restrições iniciais à independência imediata, para acabarem por concordar com tudo. Mas até lá, muita gente morrerá na boa terra de Angola, nesta guerra absurda por inútil e profundamente injusta.
Li o artigo do Miguel Rodrigues sobre vocês e recebi, como recorte, notícias do Brasil. Se outra fosse a pena podia produzir efeito, mas esse tipo está desacreditado entre brasileiros e portugueses. O assunto teria de ser mexido de outra maneira e levar o jornal a tomar posição. Assim, ficou só uma colaboração.
Recomendações da Mercedes para si e Ruth, e m/ também, com beijos ao Paulo.
Um grande abraço do seu
[assinatura de Castro Soromenho]
P.S. Por correio ordinário, mandei-lhe hoje 1 exemplar de A Maravilhosa Viagem. É só para saber e reclamar se não lhe chegar às mãos.
[rubrica de C. Soromenho]

Carta de Castro Soromenho a Lúcio Lara (Wisconsin, Maio? 1961)

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