Comunicado do Comando Geral do MPLA

Cota
0022.000.024
Tipologia
Comunicado
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
Comando Geral do MPLA
Data
Jun 1961
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
5
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

COMUNICADO DO COMANDO GERAL DO MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA1 A 6 de Dezembro de 1960, o MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA (MPLA) declarava que a acção direc­ta era a única via pela qual o povo angolano poderia atingir a independên­cia. Esta declaração reflectia a inquietação do nosso povo face à crescente violência e às provoca­ções dos colonialis­tas portugueses. Alguns meses antes (Julho de 1960) tivera lugar um massacre em Icolo e Bengo, aldeia natal do Presidente de Honra do MPLA, Dr. Agostinho Neto que foi preso pelas autorida­des portuguesas ao mesmo tempo que o grande nacionalis­ta o Rev. Pinto de Andrade. A polícia e o exército abriram fogo sobre um ajuntamento de cerca de mil homens, mulheres e crianças que protestavam pacificamente contra a prisão do Dr. Neto. Este massacre provocou 30 mortos e mais de 200 feridos. Na mesma altura, o nosso povo inquietava-se com o destino de centenas de prisioneiros políticos, entre os quais os líderes do MPLA Ilídio Machado, Vieira Dias e Gabriel Leitão, presos desde Março de 1959 com um grupo de cinquenta outros patriotas. Foi por isso que a decisão do MPLA de passar à acção directa encontrou eco e foi tão entusiasticamente recebida no nosso país. Imediatamente comandos do MPLA atacaram a prisão de Luanda, numa tentativa de libertar alguns dos nossos líde­res e outros patriotas. Não obstante as pesadas baixas, estes ataques alertaram a opinião internacio­nal. As forças colonialistas portuguesas desencadearam uma repressão violen­ta cujo balanço se cifra em 3000 mortos. A 4 de Março último, na fazenda “Primavera”, perto da fronteira congolesa, quando “trabalhadores” forçados pediam um aumento dos seus ­vencimentos e uma redução das horas de trabalho, o proprietário da fazenda só encon­trou um meio de lhes responder: bateu-lhes. Os trabalhadores revoltaram-se e mata­ram o seu patrão. Os donos das fazendas vizinhas decidiram vingar o seu amigo e começaram a matar qualquer africano que agarrassem ou estivesse ao seu alcance. O povo ripostou e recorreu à violência. Foi assim que a insurreição armada se ampliou. Desde o início dos combates que as milícias do MPLA, então em período de organi­za­­ção, se coloca­ram ao lado do povo em armas. Tomaram diversas posições estratégicas, numa vasta área de cerca de 23.400 quilómetros quadrados e colocaram-se na primeira fila dos combates, fosse dirigindo operações, fosse colaboran­do com diversos grupos combatentes, ­tendo sobretudo por objectivo coordenar a acção de todos os patriotas combatentes a fim de poupar o maior número possível de vidas e elevar o nível dos comba­tes. As acções mais importantes das nossas milícias estão resumidas na tabela anexa, que apenas relata as actividades de alguns grupos que regressaram para fazer o relatório ao Comando geral. Uma parte muito importante destas acções foi executada por uma coluna de 800 homens, tendo à cabeça o nosso camarada TOMÁS FERREIRA, Comandante Geral das Milí­cias do MPLA. No início, esta coluna era composta por 24 ho­mens. Foi engros­sando depois de várias adesões de patriotas disper­sos. ­Par­tiu de uma das nossas bases, percorreu durante trinta dias uma distância de mais de 990 quilómetros, efectuou numero­sos ataques, operações, sabota­gens e emboscadas, matando 230 milita­res portugue­ses e prendendo uma dezena que mais tarde foram soltos. As perdas da nossa parte cifram-se em 10 mortos e 90 feridos durante o período indicado. Uma patrulha portuguesa que se dirigia para a Damba percorreu 64 quilómetros em 18 dias, como resultado das ameaças e ataques que enfrentou no caminho. Como os soldados portugueses só viajam pelas estradas, evitando as picadas (guer­rilheiros e coisas do género) foi preciso atraí-los para numerosas embos­cadas. As nossas milícias, ajudadas por civis, puderam colocar importantes obstáculos em ­estradas, nomea­damente nas de Quicabo–Quibaxe, Caxito–Úcua, Úcua–Pango-Aluquém, Pango-Aluquém–Quibaxe, Úcua–Quibaxe, Úcua–Quitexe e Quinzau–Ambrizete, assim como num troço do caminho-de-ferro nos arredores de Úcua. Muitos sucessos obtidos pelas milícias do MPLA podem ser comprovados, por um lado, pelos enormes danos infligi­dos aos colonialis­tas – aproximadamente 1 milhão de libras, perdidas nas plantações de café da região de Úcua; nas fazendas de colonos incendiadas; nos camiões incendiados; nas pontes destruídas com dinamite; nas armas e munições recupera­das; nos cabos telefónicos e eléctri­cos cortados, etc. – e por outro lado, pela impressionante mobilização das popula­ções que sempre ajuda­ram com entusiasmo as nossas forças. A reacção dos colonialistas foi das mais bárbaras. Não podendo atingir as milícias armadas, recorrem a atrocida­des sobre as populações inocentes. Al­deias inteiras foram massacradas, sobretudo nas regiões de Tombo­co, Úcua, Damba, Uíge, Ganda [sic], etc. Sem qualquer respeito pelas convenções internacionais, eles não só fazem prisioneiros que matam, como, pior ainda, perseguem as populações que procuram refúgio no Congo, não hesitando em atravessar as fronteiras, numa profun­didade por vezes superior a 12 km para ameaçar os refugiados. Para além disso, submetem milhares de prisioneiros às piores atrocidades e uma grande percentagem desses presos é dada como desapareci­da. Diante da obstinação dos colonialistas nas suas operações de genocídio, as milícias do Movimento Popular de Libertação de Angola e o seu Comando militar decidiram intensificar o combate em todas as frentes, até à vitória final e decisiva. [Junho de 1961] ANEXO 15/3 – Loango – importantes confrontos 19/3 – Quitexe – ataques a plantações na região Nambuangongo – ataques a plantações na região 28/3 – Pango-Aluquém – região ocupada, estrada cortada 7/4 – Tomboco – incêndio duma serração; confrontos com recupera­ção de armas; uma família com 6 crianças deixa­da em liberdade Quitexe – ataque a uma patrulha na região. 10/4 – Aldeia Viçosa – ataque a uma plantação Quitexe – incêndio de uma plantação de café na região 11/4 – Nambuangongo – avião atacado Úcua – primeiro grande ataque à vila, muitas perdas por parte dos portu­gueses Quitexe – incêndio de plantações de café na região 12/4 – Úcua – flagelamento Quitexe – ataque à vila 13/4 – Pango-Aluquém – ataque à vila Quibaxe – ataque à vila Aldeia Viçosa – confrontos Lucunga – ataque à vila 14/4 – Lucala – ataque à vila Quitexe – confrontos na região Vale do Loje – incêndio de plantações de café Estrada Quibaxe–Aldeia Viçosa – ataque a uma patrulha 15/4 – Caxito – importante ataque à vila 16/4 – Pango-Aluquém – confrontos 17/4 – Uíge – operação de reconhecimento na região Úcua – confrontos Caxito – confrontos 18/4 – Lucunga – emboscada; ataque à vila Caxito – confrontos na região 20/4 – Lucala – confrontos na vila Tabi – ataque a uma plantação nos arredores Quimbumbe – ataque à vila Quitexe – ataque a uma plantação 21/4 – Estrada Úcua–Quibaxe – ataque a uma patrulha Rio Lucunga – ponte destruída Rio Tenge – ponte destruída Lucala – confrontos 22/4 – Quinzau – emboscadas Luanda – coluna de viaturas destruída na região Úcua – ataque na estrada para Quitexe Ambrizete – emboscada 23/4 – Bessa Monteiro – flagelamento 24/4 – Vila Nova de Seles – ataque à vila, importantes prejuízos p/ os colonialistas 26/4 – Fazenda Tentativa – ataque às plantações Tomboco (oeste) – confronto 27/4 – Funda – confronto Úcua – flagelamentos 28/4 – Úcua – flagelamentos e ataque importante Quinzau – emboscada a uma patrulha Lucala – sabotagem de estradas 5/5 – Caxito – confronto na estrada Caxito–Quicabo 6/5 – Rio Dange – ponte sabotada Quitexe – emboscada a uma patrulha 8/5 – Úcua – flagelamentos 12/5 – Lucala – confrontos 25/5 – Porto Rico – confrontos 26/5 – Santo António do Zaire – duas patrulhas colonialistas caem em emboscadas 31/5 – Porto Rico – ataque à vila 2/6 – Ambriz – ataque a plantações 8/6 – Rio Loje – rebentamento de uma ponte importante 12/6 – Quitexe – confrontos 16/6 – Úcua – emboscada.

Comunicado do Comando Geral do MPLA (Junho 1961)

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