Mensagem da CONCP e do MPLA

 MENSAGEM À CONFERÊNCIA DOS PARTIDOS NACIONALISTAS DA GUINÉ DITA PORTUGUESA E DE CABO VERDE Caros camaradas e irmãos de luta, Os diferentes encargos que me são impostos pelo agravamento da situação em Angola obrigam-me a renunciar, com pesar, a assistir pessoalmente à vossa Conferência. Saibam no entanto que acompanharei em pensamento o desenrolar dos vossos ­trabalhos e estejam certos da minha indefectível simpatia para com cada um de vós, militantes esclarecidos na luta contra o colonialismo português. Três meses depois da Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, vocês reúnem-se para coordenar a acção com vista à liquidação rápida da dominação colonial na Guiné dita portuguesa e em Cabo Verde. Aí está um facto concreto que enche de alegria o coração de todos os patriotas ­africanos e particularmente o dos patriotas angolanos. Somos solidários contra as formas de exploração e de opressão particulares aos vossos países, quer se trate da fome em Cabo Verde ou das torturas nas prisões de Bissau. Dominados pelo mesmo colonialismo, somos naturalmente chamados a organizar a mais estreita cooperação. Permitam-me saudar os vossos esforços a favor da unidade de acção, da criação imediata de uma Frente de luta unida em volta de um objectivo preciso: a liquidação do colonialismo português e qualquer outra forma de exploração na vossa pátria. A consolidação desta unidade constitui o garante da conquista da independência real e da integridade territorial. Não deixarão, com certeza, de ter presente, durante as vossas discussões, o exemplo da luta do povo angolano engajado na acção directa, erguido contra o colonialismo mais bárbaro do nosso tempo. Sabemos que vós próprios estais resolvidos a aceitar o sacrifício supremo para a conquista dos direitos dos vossos povos à autodeterminação e à independência. Estejam certos de que a vossa determinação é um grande conforto moral para o povo angolano em armas. Nenhuma luta de libertação nacional se poderia desenvolver sem contacto com o exterior. Cada gesto reivindicativo vindo dos povos da Guiné e de Cabo Verde suscita a simpatia e a solidariedade dos povos das outras colónias portuguesas. Somos irmãos na opressão e na luta de libertação. Mas para o sucesso da nossa luta, necessitamos a ajuda e a assistência dos países ­africanos independentes. Penso que vão reiterar os apelos que as organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas já lançaram aos Chefes de Estado de África e da Ásia para que eles prossigam sem descanso os seus esforços a favor do triunfo1 da nossa causa e não deixem de tomar medidas comuns contra Portugal. A palavra de ordem da Conferência de Casablanca lançada para os que nos precede­ram na luta de libertação nacional e que são hoje os primeiros responsáveis dos destinos dos seus países, continua a ser a acção concertada e o boicote total do governo fascista de Salazar. O processo da nossa vitória está em curso. O dia da independência nacional deve chegar em breve. Então, os nossos países poderão jogar o seu papel no concerto das nações e contribuir positivamente para a unidade africana e para a consolidação da paz mundial. Continuo convencido que, guiados pelos mais altos interesses dos vossos povos, trabalharão com todo o ardor nacionalista reclamado pelas massas da Guiné dita ­portuguesa e de Cabo Verde. A Conferência de Dakar ficará inscrita nos anais da vossa história como a Conferência da frente de luta unida. Recebam, caros Camaradas e irmãos de luta, em nome da Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, do Movimento Popular de Libertação de Angola e em meu nome pessoal, a saudação cordial dos companheiros da nossa libertação comum. Conakry, 11–VII–61 MÁRIO DE ANDRADE Presidente da Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas e do Movimento Popular de Libertação de Angola