Relatório sobre o estágio militar de Rabat

Cota
0028.000.010
Tipologia
Relatório
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Autor
António Africano Neto, Manuel dos Santos Lima e José Ferreira
Locais
Data
Idioma
Conservação
Bom
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

RELATÓRIO SOBRE O ESTÁGIO MILITAR DE RABAT I GENERALIDADES Depois de conversações com os ministros dos Assuntos Africanos1 e Defesa do Governo de Marrocos, foi facultado a elementos do MPLA um estágio militar por tempo ao dispor dos interessados. Se bem que inicialmente se esperasse maior número de militantes, apenas compareceram: ANTÓNIO JOSÉ PEREIRA AFRICANO NETO Nascido no dia – 25 de Novembro de 1936 (25 anos), em – Luanda Estado civil – solteiro Posto no Exército Português – Alferes miliciano de Infantaria Especialidade – Armas Pesadas Outras graduações militares no E.P. – Curso de Novos Métodos de Instrução; – Estágio de Natação Ano de Incorporação no E.P. – 1959 – Curso de Oficiais Milicianos da Escola Prática de Infantaria, em Mafra Unidades em que serviu no E.P. – Regimento de Infantaria, nº10 – Aveiro Tempo total de serviço prestado no E.P. – 20 meses Como saiu do E.P. – Desertando Ocupação na vida civil – Estudante de Medicina na Universidade de Coimbra JOSÉ RODRIGUES FERREIRA Nascido no dia – 23 de Setembro de 1939 (22), em – Cabinda Estado civil – Casado Posto no E.P. – 1º Cabo de Artilharia Especialidade – Escriturário Outras graduações militares no E.P. – Atirador especial de espingarda Mauser – Ginasta da classe especial de saltos Ano de Incorporação no E.P. – 1960 – Curso de Sargentos Milicianos do Regimento de Artilharia Pesada nº2 – Vila Nova de Gaia Unidades em que serviu no E.P. – Batalhão de Metralhadoras nº3 – Porto Tempo total de serviço prestado do E.P. – 6 meses Como saiu do E.P. – Licença registada Ocupação na vida civil – Estudante do curso industrial MANUEL GUEDES DOS SANTOS LIMA Nascido no dia – 28 DE JUNHO de 1935 (26), em – Silva Porto Estado civil – Casado Posto no E.P. – Alferes Miliciano de Infantaria Especialidade – Atirador Outras graduações militares no E.P. – Atirador Especial de Metralhadora Ligeira Dreyse e espingarda Mauser; – Curso de Caçadores Especiais Ano de Incorporação no E.P. – 1958 – Curso de Oficiais Milicianos da Escola Prática de Infantaria, em Mafra Unidades em que serviu no E.P. – Batalhão de Caçadores nº 7 – Guarda; – Batalhão de Caçadores nº 6 – Castelo Branco; – Batalhão de Caçadores nº 5 – Lisboa; – Regimento de Infantaria nº 9 – Lamego; – Serviços de Inspecção e Verificação de Contas do Ministério do Exército – Lisboa; – Depósito Geral de Adidos – Lisboa Tempo total de serviço prestado no E.P. – 24 meses Como saiu do E.P. – Desertando Ocupação na vida civil – Estudante de Direito na Universidade de Lisboa Ocupação extra-académica – poeta Estes três partidários do MPLA, escolheram como designação – “OS TIGRES” Africano – Tigre II Ferreira – " III Lima – " I (chefe eleito) E como divisa: “ATÉ AO FIM” UNIDADE EM QUE SE EFECTUOU O ESTÁGIO – GLS – CAMP HASSAN II – RABAT Comandante – Capitão BOULHIMEZ BOUAZZA Características do Comandante – Simpático e camarada para com os subordinados, duro, combativo, inteligente, politicamente esclarecido; integrado nas forças marroquinas da ONU no Congo ex-belga, comandou o sector de Matadi, em 1960 e durante oito meses. Facilitou a entrada de refugiados angolanos, tendo boicotado as acções repressivas das autoridades portuguesas. Simpatizante activo da nossa luta e mostrando interesse em colaborar nela. CARACTERÍSTICAS DA UNIDADE – Não é centro de instrução mas essencialmente unidade de choque e segurança interna. Nessa medida, não reúne todos os requisitos característicos das unidades de instrução. INSTRUTOR – Alferes – com tempo de promoção para tenente – H. Semlali Características – Simpático, cumpridor, combativo mas pouco enérgico, às vezes ­impreciso nos seus conhecimentos. É também simpatizante da nossa luta e hipotético voluntário. II INSTRUÇÃO Data de início – 27 de Outubro de 1961 ‘’ ‘’ encerramento – 1 de Dezembro de 1961 PROGRAMA – estabelecido de comum acordo. 1 – Educação física a) Ginástica e luta de combate b) Marchas diurnas e nocturnas c) Cross 2 – Armamento e tiro a) Pistola semi-automática Calibre 11,43 Opinião – pesada mas certeira. Pistola metralhadora calibre 11,43 Opinião – muito certeira e muito simples, reunindo características ideais e com desvio mínimo no sentido vertical. Espingarda GARAND, Semi-automática, Calibre 7,62 Opinião – Muito certeira, apresentando o único inconveniente de o carregador desprender-se, saltando, quando do último tiro para uma certa distância. Metralhadora ligeira BAAR – Calibre 7,62 Opinião – É certeira e leve Metralhadora BRAWNING [sic] – Calibre 8 Opinião – complicada e muito susceptível a avarias (não se fez tiro com esta arma) NOTA GERAL – Para todos estas armas põem-se o problema do municiamento pela diferença de calibre em relação às armas portuguesas. Morteiro – 60 BAZOOKA – Minas – anti-pessoal e anti-carro NOTA – Somente apresentações e conhecimento teórico com minas de instrução. EXPLOSIVOS – NOTA – Explicação pormenorizada, por um oficial especializado, sobre ­preparação e utilização dos principais tipos de explosivos. Se bem que não tivesse sido possível fazer arrebatamentos de cargas explosivas fizeram-se, contudo, ensaios práticos com detonadores de guerra. 3 – TOPOGRAFIA NOTA – Conhecimento e formas de terreno. Prática de orientação diurna e nocturna. LEITURA E ORIENTAÇÃO DE CARTAS, medição de distâncias 4 – INSTRUÇÃO INDIVIDUAL DO COMBATENTE revisões gerais 5 – TÁCTICA – Estudo do terrento para acções de emboscada e golpes de mão. Patrulhas: diferentes tipos e modos de actuação. Princípios fundamentais da guerrilha e contra-guerilha 6 – TRANSMISSÕES Rádios – AN/PRC6 – AN/GRC8 – AN/GRC9 7 – CONDUÇÃO – Jeep III OUTRAS CONSIDERAÇÕES – Foi-nos oferecido a título provisório e depois definitivo (a nosso pedido) equipamento e farda individual completos, para combate. – Foi-nos dado apoio moral alojamento e alimentação. – A nosso pedido serviram de intermediário na compra de livros militares. – A disciplina foi um tanto frouxa dado as nossas condições especiais. IV CONCLUSÕES – Considerando: 1º O escasso número de estagiários 2º A falta de contacto entre aqueles e o comité revolucionário do MPLA 3º O ritmo acelerado da instrução 4º As características próprias do GLS – Pode concluir-se como útil e aceitável o estágio, na medida em que os beneficiários sendo já portadores duma bagagem militar puderam, aperfeiçoar-se na generalidade dos casos além de ganharem conhecimentos noutros sectores. V PARECER SOBRE HIPOTÉTICA VINDA DE NOVOS ESTAGIÁRIOS – De acordo com as conclusões julga-se: – Pouco eficiente e até inconveniente o envio de recrutas para unidades do tipo do GLS, sem devido enquadramento e sem programa orientado pelo MPLA. RABAT, 9 de Dezembro de 1961 [assinatura de A. Africano Neto, José Ferreira, Manuel Lima]

Relatório sobre o estágio militar de Rabat (Rabat)

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