Declaração da CONCP à Imprensa

Cota
0028.000.014
Tipologia
Declaração
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
Mário Pinto de Andrade - Presidente do MPLA e da CONCP
Locais
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
4
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

CONFERÊNCIA DAS ORGANIZAÇÕES NACIONALISTAS DAS COLÓNIAS PORTUGUESAS (CONCP) 6, Rue Paul Tirard – RABAT (Marrocos) CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO SR. MÁRIO DE ANDRADE PRESIDENTE DO MPLA E DA CONCP Fora da acção directa, não há salvação possível para os povos em luta contra o colonia­lismo português. Esse é um postulado que preside ao movimento pela ­independência dos nossos países. Expus na minha conferência de imprensa realizada em Léopoldville, a 30 de Outubro último, o desenvolvimento da luta em Angola, nos seus aspectos militares e políticos. Permito-me hoje voltar a alguns pontos e anunciar novas iniciativas tomadas pelo MPLA. Repetimos que o combate heróico, levado a cabo pelo povo angolano para a sua libertação nacional, tem insuficiências. Baseando-nos na firme determinação das massas angolanas que reclamam a unidade dos partidos políticos, o Comité Director do MPLA esteve sempre pronto a afastar os obstáculos à constituição de uma Frente de Libertação angolana. Na nossa opinião, a Frente deve surgir de um amplo confronto entre as formações nacionalistas. Foi por isso que nos opusemos ao ponto de vista expresso recentemente pelo Bureau executivo da UPA que preconiza a criação de uma Frente sob sua exclusiva direcção. Da nossa parte não colocaremos qualquer condição prévia à convocação de uma Conferência de unidade que deverá estabelecer, de uma vez por todas, a ­coordenação político-militar dos nossos esforços, nomeadamente o comando único dos nossos grupos de guerrilha. Se todas essas tentativas falhassem, o campo estaria aberto à luta fratricida em Angola. Não iríamos assumir a responsabilidade de tal situação trágica perante o nosso povo, a África e o mundo. A questão angolana exige por isso a maior vigilância por parte dos governos dos países africanos independentes. No momento em que o Sr. Roy Welensky, de conluio com o Sr. Salazar, vai assumir o reabastecimento em armas e munições ao exército português actuando em Angola, é necessário que os governos africanos encarem novas formas mais eficazes de ajuda e assistência à nossa luta de libertação nacional. Se todo o mundo se dá ao direito de afirmar que já passou o tempo das ­declarações formais de solidariedade, porque não opor concretamente uma verdadeira Frente ­africana às manobras dos retrógrados do colonialismo? Na mesma linha das nossas mensagens anteriores, propomos agora aos governos ­africanos a convocação de uma Conferência a nível dos peritos ou dos ministros dos Negócios Estrangeiros tendo como objectivo discutir as medidas a tomar contra o Governo português na África central e, mais particularmente, uma acção concertada em Angola. Esta proposta vai de encontro às sugestões que o Dr. Abdelkrim Khatib tinha feito em Nova Deli, durante o Seminário sobre as colónias portuguesas organizado pelo Conselho Indiano para a África. O Dr. Khatib pronunciou-se a favor de uma nova conferência afro-asiática que fixaria um plano de acção mínimo imediatamente realizável. O plano deveria incluir um ultimato a Portugal para iniciar o processo de descolonização com uma data precisa. Em caso de recusa, seria necessário criar um corpo de voluntários africanos. A solução do problema angolano será africana ou não existirá. O sucesso da nossa luta de libertação nacional inscreve-se no quadro de uma acção concreta da solidariedade africana. Vamos intensificar a campanha para a libertação dos nossos líderes políticos, em particular do Sr. Ilídio Machado, detido em Luanda, do Rev. Pe. Pinto de Andrade e de Monsenhor Das Neves mantidos arbitrariamente em residência fixa em Portugal, e do Dr. Agostinho Neto encarcerado numa prisão em Lisboa. O Comité Director do MPLA pretende dar à campanha pela libertação do Dr. Neto o mesmo sentido que os nossos irmãos do Quénia deram à libertação de Jomo Kenyatta e que os nossos irmãos argelinos dão à libertação de Ben Bella. O Dr. Agostinho Neto é o nosso Chefe e é o único a poder servir de árbitro amanhã nas eventuais divergências entre os partidos políticos angolanos. Esta questão também será levada à Comissão dos Direitos do Homem da ONU. No estrito quadro da sua acção no seio da Organização Internacional, o MPLA pensa ser necessário obrigar o Governo português a cessar imediatamente a guerra de extermínio em Angola, sendo isso necessariamente o prelúdio à abertura de negociações com os movimentos políticos da Angola combatente. No caso de recusar conformar-se com essa decisão, dever-se-ia aplicar a Portugal as sanções previstas nos artigos 41 e 45 do Cap. VII da Carta, ou recomendar a expulsão de Portugal da ONU. Mas a atitude real do nosso movimento em relação ao Governo de Salazar traduz-se em termos de uma luta implacável para o seu derrube. Neste sentido, a oposição ­democrata portuguesa pode tornar-se nossa aliada. Desde que essa oposição se declare pronta a reconhecer o direito à autodeterminação e à independência do povo angolano, já não existiria qualquer obstáculo a uma colaboração frutífera. No plano da luta geral nas colónias portuguesas, a CONCP cuja sede é em Rabat, já deu a conhecer à imprensa internacional os resultados do seu trabalho coordenador dos movimentos políticos. Assim o Marrocos, graças à solicitude manifestada em relação a nós, tanto pelo Governo de Sua Majestade Hassan II, como pelas organizações marroquinas, tornou-se a placa giratória dos nacionalistas das colónias portuguesas. Em resposta à mensagem enviada pelo Presidente da CONCP a todos os chefes de Estado de África e da Ásia, vários desses países tomaram medidas tendentes a realizar o boicote económico e diplomático a Portugal. O Governo do Ghana proibiu que os barcos e aviões portugueses utilizassem os portos e aeroportos ghanenses. A República da Indonésia retirou o seu embaixador em Lisboa. A República do Dahomey eliminou a presença colonial portuguesa constituída pela fortaleza de “S. João Baptista de Ajudá” em Ouhidah. Por outro lado, a CONCP recebeu, de diferentes estados afro-asiáticos assim como de várias organizações anti-colonialistas do mundo inteiro, testemunhos vibrantes de simpatia e de solidariedade. Os princípios e as ideias lançadas pela CONCP favoreceram o desenvolvimento das organizações das colónias portuguesas e, em particular, a unidade das formações políticas. Em Julho último, a Frente Unida de Libertação da Guiné e Cabo Verde (FUL) foi criada em Dakar, na sequência da Conferência presidida pelo Secretário-Geral da CONCP. Muito recentemente, a 25 de Novembro, diversas formações políticas de Goa – o Goan People’s Party, o Congresso Nacional de Goa, o Goan Liberation Council, o Azad Gomantak Dal e o Goan Club Federation – constituíram-se numa Frente unida de luta. Todos estes esforços de unidade dos partidos políticos são de molde a acelerar a liquidação do colonialismo português. Estamos convencidos que o desencadear da luta armada em Angola foi o sinal de alerta e encorajou e que encorajará cada vez mais outros nacionalistas a tomarem ­iniciativas na mesma direcção. Rabat, 11 de Dezembro de 1961

Declaração da CONCP (Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas) de Rabat, feita por Mário de Andrade numa Conferência de Imprensa (Rabat).

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