Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»
MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA
MPLA
51, Avenida Tombeur de Tabora – C.P. 720
LÉOPOLDVILLE
COMUNICADO
[carimbo do CD do MPLA]
A justeza da luta do Povo Angolano contra a dominação colonial portuguesa está hoje mais do que comprovada no plano internacional.
Todos os Estados independentes de África, já suficientemente informados da bárbara dominação colonial portuguesa, vêm condenando irremissivelmente essa dominação e vêm apoiando a luta do povo de Angola.
A condenação pela ONU do colonialismo em geral, e do colonialismo português em particular, revelam ainda mais a invencibilidade do Povo Angolano em luta pela autodeterminação e independência nacional.
Mas que esforço heróico teve de despender o Povo Angolano para fazer aceitar internacionalmente a justeza das suas reivindicações e levar a política colonial portuguesa à reprovação de todos os povos!
Isolados do mundo exterior, por longos anos, no quadro do colonialismo fascista, milhares de patriotas angolanos sofreram e morreram nas masmorras portuguesas sem que a sua voz chegasse à consciência internacional.
Diante de um colonialismo fascista e assassino restava ao povo ou ver passivamente morrer nas prisões os melhores dos seus filhos ou pegar em armas para conquistar a liberdade e a solidariedade internacional activa.
O menosprezo que Portugal vem votando às resoluções da ONU prova que o governo deste país não entende a linguagem do bom senso nem respeita o Direito; porém, o Povo Angolano, há muito, se convenceu, por dura experiência própria, que Portugal não entendia outra linguagem diferente da força.
Foi assim que o nacionalismo angolano inaugurou a sua resistência armada em 4 de Fevereiro de 1961. Mas se, por um lado, o despertar da solidariedade africana e internacional para com a luta do povo de Angola instilou ânimo a este povo, por outro, encorajou os falsos patriotas a aproveitarem-se dela para fins pessoais e criminosos. Isto é provado pelas revelações feitas publicamente pelo Comandante Marcos KASSANGA e pelo Snr. André Martins KASSINDA, Secretário-Geral da Liga Geral dos Trabalhadores de Angola.
Os snrs. Holden Roberto e Rosário Neto, respectivamente, Presidente e 1º Vice-Presidente da União das Populações de Angola (UPA) estão diante do tribunal do Povo de Angola e do tribunal da opinião internacional.
Estes dois principais dirigentes da UPA foram acusados publicamente de graves crimes contra o Povo Angolano. Quem quer que acompanhasse, atentamente, a actividade política de Holden Roberto, não poderia deixar de notar o seu desconhecimento de Angola (onde nunca viveu) a sua alucinada acção de intriguista político, o seu oportunismo, a sua desmedida ambição política que o levava a arrogar-se o título de “chefe” da revolução angolana e a engalanar-se com os postos de “presidente” e “director” de todas as organizações ligadas à UPA.
Holden Roberto pretendia, num delírio doentio e ridículo, reduzir Angola e o Povo Angolano à sua medida.
Sabendo haver, em Angola, africanos com mais carácter, instrução e capacidade do que ele, inspirou e incitou à liquidação física de negros assimilados e instruídos. Para conquistar o apoio dos dirigentes do movimento protestante mundial, procurou dividir os angolanos por razões de crença religiosa e ordenou medidas para impor a religião protestante nas regiões de Angola onde actuavam africanos enganados por ele.
Sendo descendente de famílias de S. Salvador (Angola), Holden recrutava, a troco de promessas de mando político na Angola independente, gentes de S. Salvador para seus principais agentes no interior da colónia. Ele fomentava uma política de hegemonia dos povos do distrito do Congo sobre os de outras regiões de Angola. Ele incitou a liquidação física dos angolanos do Sul residentes no Norte de Angola. Porque conhece mal a língua portuguesa, Holden Roberto, falho do senso das realidades, desenvolveu uma campanha para impor a língua francesa na Angola independente.
Para ganhar a simpatia das potências ocidentais, Holden sem escrúpulos, caluniava de comunistas as organizações nacionalistas angolanas às quais ele sempre tratou como inimigas e que (no seu entender) não lhe deixavam completamente livre a cena política angolana.
Fingindo exageradamente o seu amor pelo povo negro, Holden recebia, no entanto, dinheiro de fazendeiros portugueses do Norte de Angola para que lhes poupassem as fazendas.
Para manter a sua mentira de exclusivismo da UPA na luta armada, Holden dava ordens para que se assassinassem os militantes das outras organizações políticas empenhadas na luta armada.
Os milhares de patriotas angolanos presos nunca mereceram de Holden palavras de reconhecimento pelo seu nacionalismo, pelo seu combate e pelo seu sacrifício. Falho de lealdade e ambicioso, nunca o presidente da UPA se referiu, por exemplo, ao grande patriota e combatente que é o Dr. Agostinho NETO.
Pretensioso, Holden sempre se convenceu (ou quis convencer toda a gente) de que o nacionalismo angolano nasceu com ele e se desenvolveu unicamente com o seu esforço.
Testemunhando completo desrespeito por Angola e o seu povo (que ele sempre tratou como coisas suas), Holden teve o desplante de pretender formar, com os seus comparsas da UPA, um Governo Provisório de Angola!!
Mau político e manobrando cegamente a arma do racismo, Holden teve a ousadia de, durante a XVI sessão da Assembleia-Geral da ONU, defender, perante o grupo afro-asiático, a sua política de genocídio em relação à comunidade mestiça de Angola. É evidente que, não só o grupo afro-asiático não apoiou essa sua política de genocídio, mas ainda a condenou.
Fazendo da luta do Povo Angolano pela sua independência uma fonte de receitas e de fácil prestígio pessoal, Holden nunca esteve verdadeiramente interessado numa solução rápida do trágico conflito que se vem desenvolvendo em Angola. Daí a sua oposição sistemática a toda política favorável à constituição de uma Frente Angolana de Libertação.
Senhor absoluto dos fundos da UPA, Holden pratica a chantagem financeira para com os seus colaboradores menos dóceis e procura rodear-se de indivíduos servis, como Rosário Neto, 1º Vice-Presidente da UPA.
O passado de Rosário Neto (que fora condenado à prisão maior, em Angola, pelo crime de roubo) fazia prever que ele poderia converter-se, como se converteu, no principal colaborador das actividades criminosas de Holden Roberto. Não podendo triunfar, no plano político, com base nos seus méritos e no seu carácter e através da confrontação honesta com os patriotas angolanos, Rosário Neto vem ajudando zelosamente, o jogo sinistro de Holden e também vem desempenhando o papel de redactor, em língua portuguesa (que Holden mal escreve) das mentiras, das calúnias e das directivas criminosas do seu chefe.
Povo de Angola! Eis aí os dois chefes de um bando de traidores que, em virtude dos seus crimes, foram desmascarados publicamente pelos nossos compatriotas, Comandante Marcos KASSANGA e pelo Secretário-Geral da Liga Geral dos Trabalhadores de Angola, André Martins KASSINDA.
Povo Angolano! Abusando da tua patriótica e heróica luta e do justo combate da grande comunidade negra de Angola pela sua dignidade, esse bando de traidores vem procurando tirar proveitos pessoais do sangue, dos sacrifícios e dos martírios dos seus irmãos.
Em nome da verdade, em nome do total respeito que lhe merece o heróico Povo Angolano, e para que a causa sagrada do povo de Angola triunfe com mínimo de sacrifícios e sem traições, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) resolveu, com o presente comunicado, fazer eco das revelações feitas pelo Comandante KASSANGA e pelo Snr. André KASSINDA.
O MPLA afirma o seu apoio solene e desinteressado à luta digna que os verdadeiros patriotas da UPA vêm travando para desmascarar os traidores que existem nessa organização e para fazer com que a luta do povo prossiga na limpidez da sua verdade e da sua razão.
O MPLA renova o seu apelo para a unidade de acção de todas as forças patrióticas de Angola e para que as organizações nacionalistas angolanas se decidam a um esforço sincero para a criação urgente da FRENTE ANGOLANA DE LIBERTAÇÃO.
Seja como for, nada porém poderá liquidar a luta do Povo Angolano e muito menos abater o anseio de liberdade desse povo heróico e digno.
O dever sagrado de todas as organizações patrióticas angolanas é o de ajudar o povo a vencer nas melhores condições.
O MPLA não poupará nenhum esforço para cumprir esse dever de honra.
VIVA A LUTA UNIDA DO POVO DE ANGOLA!
IGNOMÍNIA AOS TRAIDORES!
ABAIXO O COLONIALISMO!
Léopoldville, le 26 Mars 1962 O COMITÉ DIRECTOR DO MPLA
Comunicado do MPLA sobre Kassanga e Kassinda (Léopoldville)