Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»
PARTIDO DEMOCRATA DE ANGOLA
PDA
37, Rue d’Opala – C.P. 8085 Léo II – Tel.8553
Sede em Angola – No Exílio em Léopoldville
(Rep. do Congo)
Léopoldville, 13 de Agosto de 1962
Senhor Agostinho Neto
Presidente de honra do MPLA
LÉOPOLDVILLE
Caro Senhor,
Recebemos a sua carta de 8 do corrente cujos termos de tal modo incongruentes não deixaram – acredite – de nos surpreender desagradavelmente.
Com efeito, depois de um primeiro encontro da nossa FNLA com o MPLA, do qual aliás o senhor publicou um comunicado colocando as negociações que se anunciavam entre a FNLA [e o MPLA] sob uma luz “demasiado” favorável, certamente não esperávamos receber uma carta acusando-nos de todos os pecados de Israel ao mesmo tempo que parecia justificar o seu próprio Movimento, completamente inocente de todos esses pecados.
Por outro lado, depois da propaganda de que o MPLA tinha rodeado o seu nome até então, propaganda consistindo em colocar o senhor “acima dos Partidos”, é para nós um desmentido vibrante que o senhor faz a essa propaganda não se mostrando “menos desajeitado” do que nós a quem atribui – precisamente num espírito de sectarismo e de parti pris – a inconsciência política, as perseguições das vossas equipas de assistência médico-social e dos vossos membros, sectarismo, racismo, regionalismo, tribalismo e, pior ainda, traição contra os objectivos da Revolução Angolana e, em resumo, colaboração com os Portugueses... e tantos outros crimes de que nos acusam.
Senão, deveremos nós ensinar-lhe que “não é tomando partido que se consegue conciliar os partidos”?
Além disso, não satisfeito com o balanço dos nossos crimes, e começando onde devia acabar, metendo assim a carroça à frente dos bois, ainda nos convida para uma conferência a ser realizada consigo. Deveremos concluir que, seguindo o espírito da sua carta, essa conferência erguer-se-ia como uma espécie de “Tribunal” para onde nos convidam para nos justificarmos, ou seria apenas um torneio de eloquência que teria como objectivo último consagrar o líder incontestado, Deus sabe se o senhor não supõe sê-lo.
Inútil dizer-lhe que nem um nem outro objectivos de uma tal conferência serviriam melhor os interesses e a causa dos Angolanos de quem o senhor quer, no entanto, assumir a defesa, ainda que com um espírito de parti pris.
Essa política de equívocos que consiste em se apresentarem no exterior como “Pôncios Pilatos” – política não só cara ao MPLA, mas também aos Portugueses – se bem que não menos responsáveis no plano interno da luta, dos crimes de que cinicamente “lavar as mãos”, é precisamente aquela que será a fonte da desgraça do povo angolano, e isso até mesmo quando conseguirmos unir-nos na FNLA, a menos que consigam curar-se rapidamente.
Porque demasiadas vezes o MPLA dá a impressão, por um lado, de querer ardentemente realizar uma Frente com “uma Frente” que já existe, enquanto, por outro lado, se dedica a destruir os partidos aos quais se quer unir, e isso por todos os meios desleais, “confidenciais”, indignos de um partido que se respeite. Parece de facto, de forma insólita, querer parecer provar que se pode apagar um “incêndio” derramando nele gasolina, e não anidrido carbónico.
A lógica – ignoramos se há uma lógica lusitana particular que seja cara ao MPLA – quer que quando nos dirigimos a um organismo, neste caso a FNLA, quando se foi Presidente da delegação que se encontrou com a Frente e reconheceu que a FNLA é uma realidade, quando até se tenha desejado aderir a ela, e que por isso se tenha publicado um comunicado segundo o qual as negociações se teriam encaminhado numa via normal, procurada pelo MPLA – acreditamos agora que foi por puro artifício –, a lógica, dizemos, quer que não se renuncie sem motivo prévio e válido a essas “conquistas” acima enunciadas, para envenenar ainda mais a atmosfera convidando separadamente para um “Tribunal” da vossa escolha, os presidentes dos Partidos que legaram todas as prerrogativas à sua FNLA. Também é procurar por aí querer preferir pescar em águas turvas do que numa água que já estava a ficar clara.
Lamentamos que essa atitude – que da parte do MPLA não é no entanto muito estranha – comprometa as hipóteses de uma colaboração proveitosa para todos, sobretudo para o povo angolano.
É inútil concluir que não poderíamos todos, de bom grado, decidir-nos a vir pedir desculpa junto de um líder do MPLA já imbuído da inocência do seu partido que é o próprio MPLA.
Pedimos-lhe que não se espante demais pela forma como lhe respondemos, mas é a mesma forma com que os responsáveis do MPLA sempre nos trataram e que já conhece, já que está ao corrente de tudo.
Queira aceitar, caro Senhor, as nossas sinceras saudações.
O COMITÉ
(assinado) (assinado)
DOMBELE Ferdinand KUNZIKA Emmanuel
Secretário Geral Vice-Presidente Geral
Carta do Parti Démocrate de l'Angola a Agostinho Neto, assinada por Ferdinand Dombele (Secretário-geral) e Emmanuel Kunzika (Vice-presidente Geral) (Léopoldville)