Notas sobre as relações do MPLA com a RAU

Cota
0037.000.055
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Autor
Lúcio Lara - Delegado permanente do MPLA em Conakry
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

 ALGUMAS NOTAS SOBRE AS RELAÇÕES DO MPLA COM AS AUTORIDADES DA REPÚBLICA ÁRABE UNIDA As relações entre o MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA e as autoridades da REPÚBLICA ÁRABE UNIDA estabeleceram-se pela primeira vez na Segunda Conferência Panafricana (Tunis, Janeiro de 1960) e continuaram em Conakry durante a Segunda Conferência de Solidariedade Afro-asiática (Conakry, Abril de 1960). Por essa ocasião, as conversações que a nossa delegação pôde ter com a Delegação da RAU criaram as bases de uma cooperação que prometia ser frutuosa e que devia terminar com um acordo de princípio sobre a instalação de uma Representação do MPLA no Cairo. O envio imediato de um dos nossos delegados ao Cairo com o fim de resolver a questão não teve lugar devido a alguns mal-entendidos na Embaixada da RAU em Accra (Julho de 1960). Entretanto, as negociações para a abertura da Representação continuaram sem ­resultados positivos até ao momento em que o nosso Movimento recebeu um convite das autoridades da RAU para ir ao Cairo esclarecer alguns pontos duvidosos levantados por um representante da UPA (União das Populações de Angola) durante uma breve estadia no país. Nesse momento, depois de algumas discussões com o Sr. Fayek sobre os vários problemas relacionados com a nossa luta, o princípio da instalação de uma Representação do MPLA, que pudesse resolver todos os problemas de ajuda, foi aceite. No entanto, quando enviámos um delegado – o Dr. VIANA – para resolver a questão da Representação, fomos informados que o momento não era oportuno. Isso passava-se em Julho-Setembro de 1961. Desde então, apesar das relações muito fraternais que nos unem aos representantes da RAU na Guiné e no Congo, ficámos com a impressão que uma ajuda concreta da parte das autoridades da RAU não teria lugar enquanto a unidade entre as organizações políticas angolanas não se concretizasse. Tentámos no entanto explicar as razões dessa falta de unidade, de que não temos qualquer responsabilidade porque todas as diligências e todas as concessões feitas pelo MPLA para chegar a um compromisso com a UPA foram em vão. Percebemos que as autoridades da RAU eram obrigadas a ir contra as suas tradições revolucionárias de ajuda aos povos que lutam pela sua libertação, unicamente por não quererem beneficiar nenhum partido angolano em especial, antes que se concretizasse a unidade. A nossa opinião em relação a isso era muito simples: A unidade de todas as forças nacionais angolanas constituía um dos pontos fundamentais do nosso programa. Por outro lado, éramos um Movimento que se situava na linha dimanada das Conferências de Bandung, do Cairo, de Accra, de Tunis, de Conakry e de Casablanca e por isso apenas tínhamos o apoio moral e material (muito abaixo das nossas necessidades) de muito poucos países de África. Esse facto punha-nos numa situação ainda mais difícil face à UPA que era fortemente ajudada por países para os quais era importante tornar a UPA mais poderosa que o MPLA. Como resultado, o desequilíbrio processava-se e constituía precisamente uma das razões que levava a UPA a recusar a Frente com o MPLA. Foi em vão que, aproveitando a evasão de Portugal do nosso Presidente de honra, Dr. Agostinho NETO, fizemos uma nova tentativa no passado mês de Agosto para chegar a uma Frente; as negociações foram interrompidas pela UPA. O nosso desejo de unidade não pode portanto ser posto em dúvida. E no entanto isso não impediu que os países que ajudavam a UPA continuassem a reforçar o seu apoio sob todas as formas. Estamos portanto perante um falso problema: Os países que apoiam sobretudo moralmente o MPLA condicionam a ajuda material à realização de uma Frente sem ter em conta que dessa forma contribuem para um desequilíbrio de forças que consagrará a divisão das duas organizações políticas e isso porque a eliminação do MPLA nunca será possível, tendo em conta o apoio de que goza no interior do País. É assim que fazemos mais uma vez apelo às autoridades da RAU para que nos seja concedida uma ajuda concreta. Continuamos a pensar que a abertura de uma Representação do nosso Movimento no Cairo constituiria em si mesma uma boa contribuição para a luta do nosso povo, e seria o prelúdio de uma ajuda real e eficaz que trabalharia no sentido da unidade na luta de libertação nacional. Gostaríamos portanto de ser recebidos pelas autoridades da RAU a fim de retomar as negociações em relação a esse assunto. Conakry, 27 de Setembro de 1962 Em nome do MPLA Lúcio LARA Delegado Permanente do MPLA em Conakry

Notas de Lúcio Lara sobre as relações do MPLA com a República Árabe Unida (Conakry)

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