Carta de Agostinho Neto a Joseph Kasavubu

Cota
0048.000.019
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Agostinho Neto - Presidente do MPLA
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»



Departamento de: Presidência CÓPIA
[Acrescentado à mão: 128/F/Pres/63]
Sua Excelência
JOSEPH KASA-VUBU
Presidente da República do Congo
LÉOPOLDVILLE
Excelência:
O MPLA, pela sua acção consequente contra o colonialismo, faz questão de conduzir uma actividade política e militar que visa a destruição das posições chave do ocupante português no território angolano, e foi sob a sua orientação que, a 4 de Fevereiro de 1961, as primeiras acções armadas tiveram lugar em Luanda.
Por outro lado, o MPLA desenvolve os seus melhores esforços para mobilizar a opinião pública internacional, nomeadamente a opinião pública africana, com o objectivo de obter uma ajuda efectiva para a luta que desenvolvemos com grandes dificuldades, tendo em conta o contexto histórico do nosso continente.
O Presidente do nosso movimento fez uma digressão a vários países da Europa ocidental, aos Estados Unidos da América do Norte e visitou vários países africanos.
Da participação do MPLA em várias conferências internacionais, tais como as Conferências de Chefes de Estados da UAM em Libreville, a Conferência da PAFMECSA, as Conferências de Solidariedade Afro-Asiática e outras, decorre uma preciosa colaboração, cujo resultado se traduz por uma contribuição concreta e útil à luta do Povo Angolano.
Neste preciso momento, o Chefe de Departamento das Relações Exteriores do MPLA assiste à Conferência dos Países da UAM em Ouagadougou.
O MPLA estima que se não se puser de pé uma organização ampla e unida, onde todas as correntes do nacionalismo angolano tomem o seu lugar, a nossa luta sofrerá um grave atraso.
A divisão é uma arma perigosa dirigida contra nós próprios. Isso explica todos os esforços desenvolvidos por nós para chegar à união de todos os angolanos e se essa união ainda não é um facto, a culpa deve ser atribuída – como V. Ex.ª sabe bastante bem – a outros partidos políticos que recusam intransigentemente encetar conversações sobre a colaboração na luta, sobre a formação de uma frente comum. O MPLA não pode reconhecer o pretenso governo angolano no exílio que apenas representa uma parte de Angola no sentido geográfico, étnico e político.
Considerando a ajuda unilateral que a República do Congo dá a certos movimentos, na medida em que lhes são concedidos campos de treino, apoio político e outras facilidades, enquanto o MPLA se confronta com enormes dificuldades, tais como o embargo de armamento, a prisão de militantes em missão, a falta de autorização para poder receber o equipamento militar, e considerando que isso determina a consagração dessa divisão, e por conseguinte do povo angolano;
Considerando a solidariedade que o Governo da República do Congo manifestou publicamente em relação ao povo angolano e certos de que V. Ex.ª considera a luta contra o colonialismo uma causa comum aos povos angolano e congolês;
O MPLA tem a honra de solicitar que Vossa Excelência lhe conceda as mesmas modalidades de ajuda concedidas aos outros partidos políticos, nomeadamente:
1ª – A autorização de receber o equipamento militar e a sua livre circulação no Congo, para o fazer chegar a Angola aos nacionalistas engajados na guerrilha contra o colonialismo, sob a bandeira do MPLA. (Isso diz respeito especialmente ao equipamento que se encontra no Marrocos, para o qual Sua Majestade, o Rei Hassan II, já solicitou ao Governo da República do Congo que nos possa ser entregue em território Congolês.)
2ª – A concessão de facilidades de deslocação, de possibilidades de subsistência enquanto organização política e militar, a permissão e a possibilidade de treinamento de jovens angolanos, de manifestações públicas, em pé de igualdade com outras organizações políticas angolanas.
Certos do interesse de Vossa Excelência na libertação total de África do colonialismo, esperamos que V. Excelência considere esse problema com a maior atenção.
Queira aceitar, Excelência, os protestos da nossa mais elevada consideração.
Pelo Comité Director do MPLA
AGOSTINHO NETO [com assinatura]
Léopoldville, 15 de Março de 1963 Presidente
CC/VD

Cópia da carta de Agostinho Neto a Joseph Kasavubu, Presidente do Governo central do Congo-Léopoldville (Ref. 128/F/PRES/63) (Léopoldville)

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados