Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»
MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA – (MPLA) LÉOPOLDVILLE Léopoldville, 5 de Julho de 1963 [seguem-se as rubricas de 4 assinantes] Nº 1/CD/63 Caros Compatriotas Dr. Agostinho Neto; Rev. Domingos da Silva; Mário de Andrade; Lúcio Lara; Deolinda d’Almeida; Henrique Carreira; Desidério da Graça; Aníbal Melo e Manuel Lima, LÉOPOLDVILLE Caros compatriotas, 1 – O Movimento Popular de Libertação de Angola atravessa, como vós certamente reconheceis, o momento mais difícil da sua existência. Os membros do MPLA, tanto os que investiram o melhor do seu esforço na construção do nosso Movimento, como os que vinham depositando a sua confiança na nossa organização para a realização dos seus ideais políticos, não podiam deixar de considerar grande fracasso actual do MPLA como, antes de tudo, o fracasso da actividade política do seu órgão dirigente. Os membros do MPLA sabem que, até à data, três órgãos dirigentes estiveram já à frente do nosso Movimento. Eles sabem, por conseguinte, que o nosso Movimento nunca esteve nem pode estar condenado a resignar-se a aceitar, a todo o preço uma mesma equipa de dirigentes. Por este motivo animados do melhor desejo de fazer sair urgentemente da grave situação em que se encontra o nosso Movimento – certos de que os destinos do MPLA interessam antes de tudo aos seus membros e não a uma equipa de dirigentes e convencidos de que a hora exige um gesto revolucionário de salvação da nossa organização – militantes do MPLA, reunidos, nesta cidade, em Assembleia-Geral soberana, em 5 de Julho de 1963, DECIDIRAM: a) Retirar toda a autoridade ao Comité Director que constituíeis até à data; b) Que o Comité Director, que formáveis até à data, se considere demitido a partir de 5 de Julho de 1963; e c) Que a partir desta data o MPLA passe a ser dirigido, – nos termos da Proclamação de que vos enviamos cópia junta – pelos seguintes membros: Matias Miguéis; José Bernardo Domingos; Viriato Cruz; José Miguel; Georges Manteya Freitas; António Alexandre. 2 – Apesar da gravidade da hora que todos atravessamos e dos fraquíssimos recursos dos angolanos residentes no Congo, podemos informar-vos que o número de votos que investiram os angolanos acima citados nos postos do novo Comité Director, foi superior aos que, em 3 de Dezembro de 1962, se pronunciaram a favor do Comité Director que formastes até esta data. 3 – Em face do exposto e da compreensão que (estamos convencidos) Vós mesmos tendes da situação actual do nosso Movimento e da fase nova em que entrou o nacionalismo angolano, esperamos que vós aceiteis renunciar imediatamente aos vossos postos no executivo supremo do MPLA. 4 – Nada permitirá afirmar que se trata de uma cisão do MPLA. O Movimento mantém-se íntegro. Nada permitirá afirmar que se trata de um acto dirigido contra a pessoa de qualquer membro do Comité Director que formastes até à data. Ninguém está autorizado por nós a tomar qualquer atitude ofensiva à dignidade de qualquer membro do MPLA. Todo o MPLA espera que assumireis uma posição idêntica à nossa. 5 – Afirmamo-nos prontos, em qualquer momento, a regularmos pessoalmente convosco os problemas do Movimento relativos ao vosso afastamento voluntário da direcção do MPLA. O contacto pessoal será certamente mais eficaz do que a troca de cartas entre vós e nós. Viva o MPLA! Viva a Unidade do MPLA e do Nacionalismo Angolano! Tudo pela aceleração da conquista da independência da Pátria Angolana! Saudações Nacionalistas Pelo Comité Director [seguem-se as assinaturas de:José Bernardo Domingos; Viriato da Cruz; Matias Miguéis; José Miguel]
Carta de Viriato da Cruz e companheiros à direcção do MPLA, com assinaturas de Viriato da Cruz, José Bernardo Domingos «Quioza», Matias Miguéis, José Miguel (Nº 1/CD/63).