Comunicado do MPLA «Sobre as divagações mitológicas do GRAE»

Cota
0059.000.018
Tipologia
Comunicado
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»



MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA
MPLA
C.P. 2353 – Tel. 4915
BRAZZAVILLE

C O M U N I C A D O

SOBRE AS DIVAGAÇÕES MITOLÓGICAS DO “grae”

Um pretenso “governo angolano no exílio”, contrariando pela justeza com que o nosso Movimento vem pedindo a revisão das decisões tomadas em Léopoldville e em Dakar no quadro da OUA, entendeu repetir em público as injúrias que serviram para iludir a Comissão de Conciliação.
As mesmas deformações da realidade, os mesmos subentendidos, as mesmas falsidades e calúnias povoam o comunicado. Não falta sequer a citação mitológica para completar o quadro.
Na realidade, são falsas e caluniosas as dúvidas que pretende voltar a suscitar sobre o nacionalismo dos movimentos que formam a FDLA. Os dirigentes do “grae”, que nunca demonstraram vocação para o diálogo desconhecem o papel que cabe a um verdadeiro movimento de vanguarda no esclarecimento de todas as massas do país.
Os dirigentes do “grae”, habituados a contemplar-se na insistência com que o MPLA reclamava errada e exclusivamente a unidade com a UPA, não disfarçam hoje a sua decepção, perante a correcção de uma atitude que não correspondia aos interesses do nosso Povo. Acontece, além do mais, que são suficientemente conhecidas as depurações que sofrem esses movimentos antes da formação da referida Frente para que possam ser postas em dúvida. (Referimo-nos apenas aos movimentos que participam da Frente; este não é o caso do Ntobako).
Tais insinuações não passam dum simples subterfúgio, com o qual os dirigentes do “grae” pretendem esconder a responsabilidade que o Sr. Adoula e o Sr. Holden tiveram na actuação do Comité de Conciliação.
Falsa e caluniosa é também a insinuação duma pretensa colaboração do MPLA com a FUA Esta atoarda mostra o interesse de atiçar os rancores raciais, processo odioso muito do agrado dos dirigentes da UPA e de todos os oportunistas. Com ela supõe o “grae” conquistar a simpatia dos diplomatas africanos.
Pretender que as recomendações da Comissão de Conciliação resultaram de argumentos válidos, é uma grosseira mistificação. A existência artificial do “grae”, cuja falta de representatividade se evidencia nos próprios processos de coacção que está pondo em prática com a colaboração imperialista contra os angolanos refugiados, não constitui um argumento, mas uma mistificação. Mistificação é também conferir ao FNLA qualquer representatividade. O FNLA salienta-se apenas pela confusão propositada a que se presta com o FLN argelino.
As recomendações da Comissão de Conciliação contra as quais não nos cansamos de protestar, só foram possíveis pela ingerência das autoridades congolesas a soldo do imperialismo. Foi nos corredores da reunião e nas recepções íntimas que a Comissão capitulou.
Não é apenas o MPLA que o afirma. Também “Révolution Africaine” argelino o diz, citando “The Spark”, de Accra, o primeiro a ver claro.
De facto, o caso angolano foi tratado duma maneira que dá lugar a inquietações. As autoridades de Léopoldville reconheceram unilateralmente o governo provisório de Roberto, Holden. Graças ao princípio de que o Estado limítrofe tem a sua última palavra quanto à maneira de ajudar o movimento de libertação do país vizinho, o Comité de Libertação cedeu à chantagem exercida pelo governo Adoula. O resultado foi que o movimento de libertação de Angola foi virtualmente paralisado e que se impôs a todos os revolucionários aceitar a linha de Holden (e dos E.U.A.) de negociação com Portugal”.
A formação da FDLA, que no caso duma conferência de verdadeira conciliação e no interesse do Povo Angolano estava geometricamente certa, não pode servir senão de mistificadora desculpa. De resto o FDLA continua a impor-se à vontade popular no interior, como entre os emigrados e não sente necessidade de fazer alarido no exterior.
O “grae” como o “FNLA” não têm nem a representatividade nem a idoneidade moral necessária para se permitirem falar em nome de todo o Povo Angolano.
O aval que o Sr. Adoula passou sobre a capacidade da organização do Sr. Holden Robert não lhe confere magicamente a autenticidade que não tem. Para mais o próprio aval está em contradição com algumas opiniões autorizadas mais em contacto com a realidade do país do que o Sr. Adoula.
Por exemplo, em certo dia do mês de Novembro de 1963, já depois de ordenado o encerramento das nossas instalações no Congo – Léopoldville, e no decurso de um Conselho de Ministros, o chefe do governo provincial do Kwango mostrou, nestes termos, a injustiça e a arbitrariedade que se praticava contra o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA):
(Embora as actividades do Movimento Popular de Libertação de Angola tenham sido interditadas no território da República, este Movimento fez na Província grandes realizações em matéria de ajuda aos refugiados angolanos. Criou dispensários, forneceu vestuários e alimento aos seus compatriotas necessitados, coisa que a UPA NUNCA FEZ apesar da sua PRESENÇA CONTÍNUA na Província.
A resposta do Sr. Adoula foi a que se conhece: fez endurecer a repressão que já recaía sobre os nossos membros e dirigentes, sucedendo-se as prisões e as violências.
Cerca de dois meses, dois responsáveis do nosso Movimento, Daniel Chipenda e António Condesse estiveram encarcerados e foram alvo de maus-tratos.
Ao terminar o Congresso da União dos Trabalhadores de Angola (UNTA) o chefe da organização da UPA, M. Holden Robert, fez prender por intermédio da Surêté National congolesa o secretário geral do sindicato, mais tarde posto em liberdade provisória. Como aconteceu com os membros do MPLA, também Pascal Luvualu foi preso sem culpa formada.
A resistência oposta contra aqueles que atentam contra os interesses do Povo Angolano é considerada pelos dirigentes do “grae” e por todos os partidários do oportunismo político como “inconsciência suicida”. Para eles não existe fidelidade aos interesses pessoais, imediatos ou remotos.
Estamos absolutamente certos que as instâncias da Organização da Unidade Africana, mesmo as “últimas”, meditarão das terríveis verdades que se revelam nas palavras ponderadas do presidente do Kwango. Elas são a confirmação da conspiração dos inimigos da África para afastar o MPLA da luta armada, causa fundamental do atraso do processo de libertação do nosso Povo.
E servem de aviso aos incautos que se deixarem iludir pelo comércio que a organização do Sr. Holden Robert, bem aconselhado pelos peritos imperialistas, está fazendo fora da sua rota normal, na intenção de adquirir uma etiqueta. Esse comércio não passa, igualmente, de uma mistificação, que facilitaria a introdução imperialista em Angola.

O COMITÉ DIRECTOR
B /ville, 6.2.64
DOC. 9/64

Comunicado do MPLA «Sobre as divagações mitológicas do GRAE» (Brazzaville)

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