Texto sobre a situação geral da luta do povo angolano e do MPLA

Cota
0060.000.048
Tipologia
Texto de Análise
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Autor
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
Data
Mar 1964
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
4
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

 [Nota manuscrita por L. Lara: Ghana, Accra, Março 1964] A SITUAÇÃO GERAL DA LUTA DO POVO ANGOLANO E DO MPLA O reconhecimento por certos Países africanos de um pretenso “governo angolano”, incapaz, carnavalesco e sem a mínima representatividade, instrumento funcional do imperialismo americano que o utiliza na penetração, controle e estabelecimento do seu aparelho, na perspectiva de uma dominação neocolonialista em Angola, constituíram os factores poderosos que levaram o MPLA a adoptar medidas urgentes para frustrar todas as manobras de que era alvo. A aparente cisão, observada depois do reconhecimento, foi apenas o desfecho lógico do jogo de ambições desencadeado por um grupo do qual fazia parte Viriato Cruz, antigo secretário-geral do MPLA, após a Conferência Nacional do MPLA que não os tinha reeleito para os postos que ocupavam anteriormente. Não tendo conseguido semear a confusão e a desordem durante os meses que se seguiram à Conferência Nacional, esse grupo aproveitou a ocasião do reconhecimento por Adoula, do grupo de Holden para tentar eliminar a Direcção do MPLA, apoiando a decisão de Adoula e solicitando a Holden para se juntarem à sua FNLA. Depois de ter suportado todos esses golpes, a Direcção do MPLA tomou todas as medidas para impedir que a confusão lançada do exterior prejudicasse a organização no interior. Em seguida iniciou a clarificação da situação no exterior, que se apresentava perturbada devido à interferência de certos Países africanos que se apressaram a reconhecer o grupo Holden, querendo obrigar o MPLA a dissolver-se no seio da FNLA. A Conferência de Quadros do MPLA, reunindo 50 delegados durante dez dias, fez um balanço profundo da situação. Ela constatou, por um lado, que a situação no interior tinha sido poupada às confusões forjadas pelos imperialistas e os seus agentes no exterior. Os grupos de partidários, combatendo sob a bandeira do MPLA, continuam a manter as suas posições nas regiões dos Dembos e de Nambuangongo apesar das enormes dificuldades de reabastecimento. No entanto, a actividade de guerrilha não conseguiu desenvolver-se, por um lado por causa do reabastecimento e por outro, devido à fraca consciência política do Povo, a qual não conseguimos ainda fazer atingir um nível mais elevado. Esta falta de consciência é um factor intrínseco da luta de libertação de Angola, devido à ausência de vida política legal antes do desencadear da luta armada e que, consequentemente, mal ultrapassou a fase de “insurreição armada”. No entanto, o facto da luta armada estar circunscrita a uma zona do noroeste de Angola não impediu a actividade clandestina de grupos do MPLA nas regiões do resto do País. A repressão que é exercida, as prisões constantes dos nossos militantes em todo o lado e nomeadamente nas cidades de Luanda, Nova Lisboa, Benguela e Sá da Bandeira, testemunham esta actividade. O MPLA continua a fazer-se sentir nos postos fronteiriços mais importantes entre Angola e os Congos, assim como nas actividades no Congo-Léopoldville, clandestinas ou legais, dependendo do apoio concedido pelas autoridades provinciais. Os governos provinciais do Kwango, Congo Central e Unidade do Kasai continuam a apoiar o MPLA, tão firmemente quanto lhes permite a situação caótica do Congo. A Conferência de Quadros do MPLA constatou que a criação da Frente Democrática de Libertação de Angola (FDLA) tinha sido justa e tinha tido em conta os interesses e as condições internas do Nacionalismo angolano. A FDLA continua a jogar o seu importante papel de juntar o maior número de organizações nacionalistas que aceitaram uma plataforma democrática de entendimento e de acção. Se não se tivessem manifestado alguns preconceitos na criação da Frente, ela ter-se-ia imposto tanto no interior como no exterior. Hoje, ela vê-se limitada a desempenhar o seu papel no interior e só depois de ter uma posição de força é que se apresentará no exterior. De qualquer forma, ela canaliza uma parte importante das forças nacionalistas do Norte de Angola para acções conjuntas com o MPLA, dentro dos princípios defendidos pelo MPLA e aprovados pelas organizações membros da Frente Democrática. Como resultado da actividade da FDLA e do CUNA (Comité para a Unidade dos Nacionalistas Angolanos, organização que colabora com a FDLA [e] que ainda não é membro por razões tácticas), o pretenso “governo” perdeu as suas bases em vários locais do Norte de Angola, nomeadamente na região do Bembe e de São Salvador. Por seu lado, as forças imperialistas e seus agentes não cessam as suas provocações, ingerências e campanhas difamatórias contra o MPLA. RECONVERSÃO A Conferência de Quadros decidiu uma reconversão do MPLA de forma a manter inquebrantável o moral das massas e dos militantes do MPLA. A reconversão visou: a) A redução do aparelho administrativo ao mínimo exigido e a consequente adopção de uma estrutura mais simples e eficaz, reduzida no exterior e reforçada no interior, em todo o País. b) A divisão dos membros em duas categorias: MILITANTES – os que se estão totalmente entregues à luta e que participam na realização das tarefas mais importantes; ADERENTES – os que só podem contribuir parcialmente na luta de libertação. O MPLA não se encarrega destes a não ser em condições revolucionárias especiais. c) O encaminhamento regular para o interior do maior número de quadros formados no exterior, operação que tem um grande sucesso. d) A instalação de uma certa clandestinidade no exterior, tanto ao nível dos ­militantes como de certos dirigentes. e) O reforço da disciplina. f) Intensificação da formação de quadros revolucionários nas fronteiras. Um grupo de 50 quadros está actualmente a completar uma preparação especial, para regressar às aldeias. g) Uma nova estrutura militar foi adoptada. Apoia-se nos “destacamentos de guerrilheiros”, que se distinguem tanto pela sua formação política como pelas suas aptidões militares. Isto visa aumentar o nível revolucionário das zonas de guerrilha e efectuar, o mais brevemente possível, a ocupação de certas regiões precariamente controladas pelos grupos de guerrilha. h) Foram tomadas outras medidas de carácter político, militar e social. i) Três membros do Comité Director, entre os quais o próprio Presidente, visitaram postos no interior da fronteira Angola-Congo. j) Uma Delegação do MPLA acaba de apresentar, na Conferência de Ministros dos Negócios Estrangeiros de Lagos, um Memorando acompanhado de uma Petição, pedindo a revisão das conclusões de Dakar sobre o reconhecimento de Holden. Os resultados podem ser considerados positivos visto que numerosas delegações se mostraram preocupadas com as consequências que tal atitude inconsciente estava a provocar. A DIVISÃO DO NACIONALISMO ANGOLANO a) Com a UPA/PDA/FNLA/“grae” O carácter reaccionário, oportunista e de instrumento imperialista do grupo upa/pda/fnla/“grae”, impede hoje mais do que nunca que se encare a possibilidade de unificação do movimento de libertação nacional angolano. Tendo sido alguns Países africanos embalados pela ilusão de que um reconhecimento do grupo Holden contribuiria para lhe insuflar um espírito revolucionário, a presunção de Holden aumentou e, em função disso, a sua oposição a qualquer possibili­dade de buscar uma plataforma para a unidade de acção. No entanto, a popularidade da UPA/“grae” realmente diminuiu no interior do País, tal como nas fronteiras, em benefício do MPLA e da FDLA. Além disso, no seio da FNLA manifestam-se várias tendências: Rebentaram motins (dois pelo menos), por razões tribalistas, no campo cedido à UPA pelas autoridades congolesas, causando alguns mortos e a intervenção das autoridades congolesas que controlam o campo desde então; um desentendimento entre dirigentes do PDA [sic] [da UPA] e do PDA ganha corpo, assim como rivalidades entre os pretensos “ministros”, das quais a principal é a que opõe Savimbi a Holden, que ele não ousa denunciar. Os responsáveis do “grae” já não se atrevem a ir à fronteira, por medo. Estão a perder o controle e dois deles pediram bolsas aos Americanos. Os estudantes da UPA na Suíça manifestaram o desejo de se juntar ao MPLA, decepcionados com os insucessos do seu partido. Estes factores levam alguns dirigentes da FNLA, como Savimbi e Kunzika, a declararem em todo o lado que não são hostis a um entendimento com o MPLA. O MPLA segue atentamente o desenrolar dessas situações. b) No interior do MPLA 1) O caso V. Cruz As atitudes oportunistas e insensatas de V. Cruz ficaram completamente expostas depois da chegada do Camarada Dr. Neto ao exterior, após a sua fuga de Portugal. Desde então, Cruz inventou todos os pretextos e tentou todas as alianças para afastar o Cam. Neto do MPLA. De posição em posição, Cruz chegou ao ponto de apoiar publicamente a decisão de Adoula, de reconhecer Holden e de “macaquear” um “golpe de Estado” apresentando-se com 4 amigos como um “Comité Provisório do MPLA” para pedir a sua filiação na FNLA de Holden. Chegou mesmo a depor contra o MPLA diante da Missão dita de Bons Ofícios, vinda a Léopoldville depois da decisão unilateral de Adoula. Todos esses factos, acrescidos de campanhas de calúnias que a partir de Léopoldville, de Argel, de Paris e de todo o lado, Cruz e seus amigos lançam contra o MPLA, que utilizam até elementos do diferendo sino-soviético, não permitem encarar uma reconciliação. 2) O caso M. Andrade M. de Andrade contribuiu para agravar as dificuldades criadas pelo imperialismo ao MPLA, quando, de Paris, anunciou a sua demissão por causa, dizia ele, da FDLA. Se aí havia argumentos válidos, estes poderiam ser discutidos no seio do MPLA. A atitude pública de desacordo serviu sobretudo para justificar a sua deserção do MPLA após o reconhecimento de Holden por Adoula, que ainda era apenas conhecido pelo Comité Director. Andrade tinha começado por justificar por carta o seu abandono, sob pretexto que ele era um obstáculo para a unidade com a FNLA!!! Que se saiba, no entanto, Andrade não traiu a linha do MPLA sobre a questão do “grae”, o que tornou possível manter contactos com ele, com o fim de o fazer rever a sua posição, o que ainda não aconteceu. A atitude reformista de Portugal, assim como os nossos planos, serão objecto de uma exposição verbal. FIM

Texto sobre a situação geral da luta do povo angolano e do MPLA: «La situation générale de la lutte du peuple angolais et du MPLA» (Accra, Março 1964)

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