Relatório assinado por Nicolau Spencer e Aleixo Pascoal

Cota
0061.000.012
Tipologia
Relatório
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Autor
Nicolau Spencer e Aleixo Pascoal
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

 Relatório Contactos Em Léopoldville com os seguintes membros do MNA: Mayembe, velho Lengue e Daniel. No Bureau da UNTA contactei os membros aí encontrados. Na conversa com todos eles insisti que o nosso trabalho não estava hoje na conquista de membros mas sim na consciencialização dos angolanos mostrando-lhes os perigos que correremos amanhã se não houver um verdadeiro esforço de trabalho e sinceridade desinteressada. Com a UPA, coragem e decisão. Em Boma contactei o Presidente da UPA e os conselheiros e em Tshela o Presidente e o Vice-Presidente. Situação geral dos Refugiados Politização Dum modo geral o trabalho dos comissários políticos foi nulo pois olhou mais a extensão que a profundidade: mais número que qualidade. Houve inscrição de indivíduos e não formação de militantes. Não tiveram a arte de transmitir responsabilidades, acumulavam tudo sobre si em lugar de promover os membros residentes. Vir de Léo era tudo. Perdeu-se tempo e dinheiro. Não se explorou o CVAAR nem a permanência dos comissários políticos para politização, consc[ienc]ialização dos militantes. Não se deu começo a reuniões de carácter de colóquios políticos. Assim, em Boma, Matadi não há três membros capazes de vir a uma reunião. Assistência Com o encerramento do CVAAR, a falta de dinheiro, a carência de medicamentos nos hospitais e farmácias torna difícil a situação dos refugiados. Esta é também a opinião de Vita André. O fecho das escolas faz com que as crianças refugiadas se entreguem à ociosidade. As autoridades congolesas lamentam este estado de coisas e julgam que tanto o encerramento do CVAAR como o das escolas se faz por nosso gosto. Este estado de coisas não é desesperador pois a cristalização da luta, os sofrimentos do povo, o comportamento dos militares da UPA vai abrindo o povo às palavras de ordem do movimento e sobretudo às da unidade. Trabalho feito 1º As rendas de casas foram pagas bem como as dívidas deixadas pelos camaradas em missão. 2º Fez-se explicação da situação do Movimento e das determinações da Conferência de Quadros. Em Boma, Matadi e Moanda não foi possível reuniões mas conversas isoladas. No Moanda fez-se contactos em grupos de três membros. No Luango aproveitou-se de um julgamento tradicional onde eu, acusado juntamente com o camarada Daniel e o tio, aproveitei da defesa para falar aos velhos da UPA acerca do Movimento, da sua acção e palavras de ordem e da Conferência de Quadros. Procurei convencê-los a não transportarem os mambos às autoridades congolesas mas que os angolanos resolvam as questões existentes entre eles e só recorram aos congoleses nas questões entre congoleses e angolanos. Em Boma foi criado um embrião da JMPLA; talvez seja a única forma de despertar os velhos. Este embrião é muito fraco, mas precisa de ser fortalecido por correspondência. Trabalho em suspenso Tumbamani Impõem-se a inspecção rigorosa de tudo quanto existe aí e para o efeito é necessário que camaradas sérios partam para esse ponto e permaneçam aí o tempo necessário. Deve-se insistir com os enfermeiros para que construam a casa, caso ainda o não esteja para evitar sobrecarregar o Movimento com rendas. Lufu A casa ainda não foi entregue. Aí mora a mulher do camarada Domingos e este encontra-se preso. Compete ao Movimento determinar se a casa deve ou não ser entregue. Matadi A casa do CVAAR ainda não foi entregue e as rendas estão atrasadas. Deve-se pagar as rendas e entregar a casa para se não acumular dívidas. Boma Estão por serem pagas dívidas deixadas tanto pelos comissários políticos como pelos camaradas do EPLA. É uma necessidade e uma garantia pagá-las. Os documentos dessas contas vão ser apresentadas ao DEF. Conclusões e sugestões No Tumbamani nota-se vitalidade e firmeza e podemos trabalhar os camaradas seguintes: Samuel Uwa, caçador; vai a Angola e volta, pois tem a documentação de lá. O camarada Afonso Kelele da Silva mostra decisão e não se deixou levar pelo mel da oposição. O camarada David (do NBeo) é comerciante. Vai a Angola e vem. No Malele, os do Uíge estão firmes e devemos mandar a nossa correspondência aos seguintes: Matos Pinto, Pedro Pongo, Elias Marques. Os camaradas de 31 de Janeiro estão indecisos e muitos estão cheirando a UPA. Inkisi – Deve-se fazer tudo para a fundação dum C.A.; pode-se contar com a militância de Bento Garcia Domingos. No Songololo esperam pelo MPLA e desejam que possa haver um delegado que de tempos a tempos vai explicar ao povo a nossa política. Aumentar os membros à medida que os refugiados chegam. Método de trabalho 1º Para o futuro as delegações nas fronteiras devem ter um estafeta comum que partindo da base leve material e dinheiro aos vários postos, aproveitando-se desta ocasião para inspecção de trabalho. 2º A correspondência deve ser mantida com os vários postos das fronteiras e os documentos devem ser feitos de preferência em Kicongo. 3º Devido à situação fraca dos nossos militantes e aos erros do passado, seria bom se os cursos sindicais continuarem [a] recrutar na fronteira camaradas para esses cursos. Interromperiam por meses a suas ocupações para se formarem politicamente, regressando depois às suas ocupações. 4º O camarada João Marcos e António Miranda deviam ser chamados para participarem nos cursos sindicais. 5º Em futuras bolsas devem-se também ter em conta camaradas da zona do Uíge: Matos Pinto, Elias Marques e Mendes Caiado. 6º A luta armada será o motor que apressará a mobilização e politização do povo. Impor-se-á com o seu começo a partida de brigadas jovens para interessar o povo a contribuir e colaborar na luta. Brazzaville, 13 de Abril de 1964 Nicolau Spencer [segue assinatura] e Aleixo Pascoal [segue assinatura]

Relatório assinado por Nicolau Spencer e Aleixo Pascoal (Brazzaville)

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