Relatório feito pelo camarada Luciano Sebastião

Cota
0062.000.044
Tipologia
Relatório
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Autor
Luciano Sebastião
Data
1964 (estimada)
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»



[Sem data]
[Nota manuscrita de Agostinho Neto: Importante. Considerar nos contactos em Léo.]

RELATÓRIO FEITO PELO CAMARADA LUCIANO SEBASTIÃO – ESTAFETA
ENVIADO POR TALAMUNGONGO
Chegando à Léopoldville vindo de Angola, o Camarada Luciano Sebastião, ­companheiro de Marcelino na sua viagem para cá narra o seguinte:
Depois de terminados os preparativos do objectivo que nos tinha levado a vir para cá, dia 4 de abril precisamente, partimos para o Bas-Congo a fim de regressarmos para Angola com destino a Songololo onde só partimos dia 9 de abril conseguindo alcançar o rio Ylunda-Yole. Dia 10 conseguimos alcançar o Imbondeiro, dia 11 na Pedra, dia 12 no rio Nucho, 13 na Pedra N’Zaveva, 14 na estrada de Tomboco, 15 no rio Mbridge onde estivemos parados durante 17 dias, no qual conseguimos partir dali somente dia 26 e do rio Mbridge alcançámos o rio Quichaueva, dia 27 estávamos numa mata desconhecida de nome e dia 28 estávamos no Quartel da UPA denominada Bessa-Monteiro, 29 no rio Nubala e 30 no rio Loge. No dia 1 de Maio, estávamos no quartel da upa no Mutamba, dia 2 no quartel de Kifula, dia 3 passámos por Caiengue, Nambuangongo, dia 4 no Quingonga Fula e dia 5 nos encontrávamos no nosso posto que é Quipanzo.
Depois de sete dias, organizou-se uma conferência com os velhos, onde se explicou tudo que se ouviu e se viu durante a nossa estadia cá em Léopoldville, tanto da parte da UPA como do MPLA.
E decorridos mais sete dias, apareceu em Quipanzo alguns homens que tinham sido enviados pelo povo de Quifuta, a fim de levarem para lá o Marcelino, segundo as suas actividades como militante nosso. Antes de ser levado para lá, os velhos da área de Mazumbo analisando no [que] iria se passar, reuniram-se, conseguiram mobilizar as massas a fim de acompanharem Marcelino até onde o levassem; tudo estava [a] correr duma maneira oposta e aque[la] área conseguiu ajuntar 50 armas finas ou de bala e quarenta e cinco canhangulos e alguns homens mais fazendo o montante de 127 homens. Chegados no Quifuta um dos quartéis da upa, ali todos preparados para assassinarem o Marcelino, tomando a palavra o comandante da upa dizendo que eles nunca estiveram em Léopoldville, mas que o seu filho de nome João Lopes, que com o mesmo nosso camarada vinha com ele cá em Léopoldville, lhes tinha informado que o Marcelino precisamente em Léopoldville não estava na upa senão em colaboração com o MPLA, porque esses na sua chegada em Léo encontraram lá o primo deles Joaquim dos Santos que os dirigiu no MPLA e que sempre viveu na casa do tal Joaquim que é o encarregado de angariar homens para o MPLA, e ouvindo isso os velhos tiveram de mandar prender o Talamungongo porque como secretário geral tinha de se apresentar à upa. No momento que o Marcelino acabava de chegar no Quifuta, já quiseram fazer-
-lhe interrogatório e um velho de nome Canga Zombo de Quingonga Fula levantou sua mão querendo desfechar um golpe de catana ao camarada Marcelino; mas um velho cego de Lopes, pai do traiçoeiro do Marcelino, levantou-se e perguntou se na realidade Marcelino estava condenado à morte? este teve por resposta um sim. A seguir chamou pelo nome de seu filho e perguntou-lhe se quem tinha sido seu professor? este disse que era o Marcelino que ali se encontrava e continuando com o interrogatório ainda perguntou se quem foi o Pastor evangélico na área de Nambuangongo e Dembos? este disse que não era outro senão o Agostinho Neto e ainda acrescentando disse quem é o actual dirigente máximo do MPLA? este respondeu dizendo que é o filho do falecido Neto que esteve no PIRI e ainda continua; tu meu filho conhece Holden Robert? quem é o seu pai? esse disse que não conhecia Holden nem seu pai e nem tão pouco faz ideias da sua Nacionalidade, mas que tem ouvido dizer que ele é de S. Salvador. O tal velho não cessou de fazer pergunta e disse: já tens na sua acta o partido que libertará Angola? Este por fim disse que não sabia qual é o fim preciso da luta de Angola. Dali o velho cego que tomando em consideração a luta e a posição em que se encontra a luta de Angola disse: – Deixai o vosso irmão seguir o caminho que ele viu mais próprio para a imediata independência do povo, porque Holden tinha marcado duas semanas de luta Angola estava livre e agora? quantas semanas já se foram embora a liberdade não aparece?
Por causa da intervenção daquela ideia acertada do Velho Lopes então o camarada Marcelino teve de começar nova VIDA.
E para uma informação precisa pode-se dizer que 1500 militantes no interior, na área de MAZUMBO, DEMBOS E UMA PARTE DE CATETE estão se aproximando naquele pequeno núcleo que se esforça apesar com a pequena experiência dos seus dirigentes que abaixo seguem:
Comandante MATEUS BERNARDO
Secretário CRUZ SEBASTIÃO LOPES
" JOSÉ SEBASTIÃO DIAS
Conselheiros FERNANDO JOÃO DOS SANTOS, JOÃO PAULO e JOSÉ MANUEL
VITÓRIA OU MORTE

Relatório feito pelo camarada Luciano Sebastião, estafeta enviado por Talamungongo

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