Declarações à imprensa de Aníbal de Melo

Cota
0063.000.012
Tipologia
Declaração
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
Aníbal de Melo - Dep. Informação do MPLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
5
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA
MPLA
C.P. 2353 – Tel. 4915
BRAZZAVILLE

DECLARAÇÃO À IMPRENSA DE ANÍBAL DE MELO,
CHEFE DO DEPARTAMENTO DE INFORMAÇÃO DO MPLA
Minhas Senhoras,
Meus Senhores,
Agradecemo-vos terem respondido ao convite que vos endereçámos e que nos permite estabelecer, pela primeira vez, nesta capital, um contacto mais estreito que só poderá aumentar a compreensão sobre a luta heróica levada a cabo pelo nosso Povo.
Antes de mais, temos o dever de vos expressar o quanto o MPLA aprecia a objectividade e o espírito de justiça de quase todos os responsáveis da imprensa internacional em relação ao problema angolano.
As nossas actividades político-militares foram, a dado momento, abaladas devido à confusão criada por uma decisão unilateral tomada em relação a nós pelo governo do Sr. Adoula. É sabido que este tinha reconhecido um pretenso “governo angolano” levando atrás de si uma Comissão de conciliação saída do Comité dos Nove da OUA. Este Comité, cujos graves erros de apreciação sobre o problema angolano causaram e causam ainda um mal enorme ao nosso Povo, está a comprometer o balanço muito positivo que a acção da OUA já apresenta.
Rendemos aqui homenagem à vontade de procurar uma solução justa para a questão angolana, manifestada por muitos países irmãos e em particular pelas Autoridades e o Povo do Congo-Brazzaville.
I
Solicitámos a vossa presença sobretudo para vos provar que, graças aos sãos princípios que guiam a nossa luta de libertação, o MPLA pôde reparar quase totalmente os estragos provocados por essas ingerências.
Depois dos graves golpes do ano passado, a nossa atenção teve naturalmente de se concentrar na consolidação da organização. Uma Conferência de Quadros, no passado mês de Janeiro, permitiu-nos reencontrar as estruturas necessárias para fazer face ao novo tipo de trabalho que nos esperava.
A organização no interior do País que não tinha sido atingida, pôde, pelo contrário, ser reforçada. Prova disso são as manifestações realizadas nos principais centros de Angola durante o 4 de Fevereiro – terceiro aniversário do início da insurreição armada. Com efeito, milhares de panfletos foram distribuídos e inscrições com palavras de ordem do MPLA apareceram nas paredes e nas árvores. Como represália, as forças colonialistas atacaram os bairros africanos de Luanda, fazendo um número incalculável de mortos e feridos.
A direcção do MPLA no interior pôde, também ela, tomar um novo impulso com o regresso ao País de dirigentes que receberam uma preparação militar.
Lentamente mas com segurança, indiferente a toda a propaganda mentirosa, o MPLA constrói a organização que a envergadura da nossa luta requer.
Vejamos outros exemplos disso:
As autoridades portuguesas anunciaram, a 6 de Junho, que um grupo de nacionalistas teria atacado uma aldeia e morto uma mulher e uma criança angolanas. Segundo as mesmas notícias, os nacionalistas teriam detido três portugueses nascidos em Cabinda.
Estamos agora à altura de vos dar as seguintes precisões relativas à actividade de destacamentos de comandos do MPLA de 30 de Maio a 5 de Junho último, na zona em questão.
No cumprimento de um plano preciso, um Destacamento de acção do MPLA operando em Cabinda, fez introduzir, a 30 de Maio, numa aldeia de NCULU, um grupo de comandos com a missão de capturar o perigoso traidor FRANCISCO MAKAYA, tristemente célebre entre as populações como informador e guia das tropas portuguesas. Por várias vezes, ele tinha causado transtorno às nossas actividades.
O êxito da missão traduziu-se não só pela captura deste miserável, mas também de três dos seus cúmplices JOSÉ KUVINGA, INÁCIO MBUMBO e KIKAYA KINOMBE. Os quatro traidores foram surpreendidos em plena reunião, sem terem tido tempo de esboçar um movimento. São eles os “portugueses de Cabinda” a que se referem as informações do inimigo. O seu destino está a ser decidido.
Cumprimos assim o plano de saneamento metódico que visa sobretudo inspirar às nossas populações a confiança e dar-lhes a certeza do valor e dos objectivos dos guerrilheiros do MPLA.
Nesse mesmo 30 de Maio, às 11h45, um grupo dos nossos sapadores conseguiu fazer saltar a grande ponte sobre o rio LOMBE, que liga a vila de MICONGE à de BELIZE, criando assim sérios problemas logísticos ao inimigo.
A 5 de Junho, um outro grupo de comandos do MPLA confrontou-se com uma coluna de 30 soldados portugueses que, surpreendida com a intensidade do fogo dos nossos guerrilheiros, se pôs em fuga. Em seguida, esses soldados invadiram os campos e aí maltrataram brutalmente os aldeões, feriram gravemente uma mulher chamada HELENA e raptaram duas outras angolanas. Agora acusam-nos dessas selvajarias...
II
Outros factos graves recentes obrigam-nos a denunciar uma vez mais as acções anti-nacionais dos responsáveis da UPA, principal parceiro de um grotesco pretenso “governo” sem a mínima representatividade em Angola.
A solidariedade que manifestamos pelos nossos irmãos angolanos da UPA obriga-nos a corresponder aos constantes apelos que nos dirigem, para que denunciemos as extorsões e as violências inspiradas pelo tribalismo estreito dos seus dirigentes.
Depois dos massacres sistemáticos de patriotas vindos das regiões mais recuadas de Angola e dos ataques pérfidos a duas colunas do MPLA, esses dirigentes voltam agora as armas contra os seus próprios militantes, seja por razões puramente tribais, seja por simples diferenças de opinião sobre o desenvolvimento da luta.
Há duas semanas, cento e cinquenta Angolanos, na sua maioria estudantes, foram massacrados pelos agentes da UPA quando se dirigiam à fronteira do Congo-Léopoldville. Esses assassinos que agora se encontram em Léopoldville, são os “comandantes” JOSÉ LELLO, MANUEL DOMINGOS COSME e JOSÉ KALEIA.
Já não é segredo para ninguém que uma grave ameaça pesa sobre alguns membros da equipa dirigente de Holden. Os agentes da Segurança Nacional de Léopoldville até receberam ordens precisas para impedir a sua saída de Léopoldville.
Aliás é um facto bem conhecido dos diplomatas que estão mais em contacto com os meios desse grupo político.
As divergências não se fazem apenas sentir a nível dos dirigentes mas também a nível das massas. Assim, 70 militantes da UPA que protestaram contra as discriminações de que eram vítimas no campo de Kinkuzu – posto à disposição de Holden pelo governo do Sr. Adoula – foram detidos pelas autoridades congolesas a pedido de Holden, e jazem neste momento nas masmorras de NDOLO, MAKALA, MBINZA e LUZUMU. Alguns já morreram em LUZUMU em circunstâncias ainda misteriosas.
Por outro lado, os militantes do MPLA JACINTO MANUEL, SANTOS AMBRÓSIO e ANTÓNIO MUBEMBA assim como ARSÉNIO MESQUITA e JOB CARVALHO, os três primeiros em MAKALA e os dois últimos em MBINZA, também eles detidos a pedido de Holden, são vítimas de inconcebíveis torturas físicas e impedidos de receber alimentação e visita dos seus irmãos. Um dos nossos militantes, JOSÉ GOMES, tem as costas cobertas de ferimentos graves, consequência da pancada recebida dos para-comandos de MBINZA, pelo simples facto de ter insistido em entregar a comida aos presos.
Se é verdade que os métodos criminosos da UPA visam impor ao Povo angolano a sua equipa de dirigentes, não é menos verdade que o reconhecimento que lhe foi concedido por alguns Países africanos e pelo IRAQUE, o encoraja a prosseguir por essa via.
Perguntamo-nos que transcendentes razões teriam obrigado alguns Países africanos a assumirem, perante a História e o Povo angolano, a responsabilidade de uma tal ingerência nos problemas internos da nossa luta?
Quanto a nós, que apoiamos as sábias decisões tomadas pelos Chefes de Estado em Addis Abeba há um ano, estamos interessados em acabar com esta situação dramática para o futuro do nosso Povo.
A OUA já deu provas da sua eficácia face a problemas muito delicados. Na medida do possível, ela encontrará também os meios que a ajudarão a decidir sobre a questão angolana.
A composição actual do Comité dos Nove e os seus métodos de trabalho já foram objecto das maiores reservas e não apenas por parte do MPLA...
Pela total incompetência e escandaloso desinteresse que mostra em relação ao problema angolano, o Comité dos Nove não está à altura de encontrar o remédio que a gravidade da situação exige.
Pelo contrário, apenas acentua a divisão do nacionalismo angolano e retarda a vitória do nosso Povo que, no entanto, nada poderá impedir.
Impõe-se portanto, urgentemente, e nós rogamos insistentemente à OUA, o envio aos dois Congos de uma delegação imparcial que interceda em Léopoldville a favor da libertação de todos os Angolanos e que se inteire da realidade angolana que o Comité dos Nove continua a recusar-se a ver.
Obrigado,
Senhoras e Senhores.
B/VILLE; 11.6.64
[carimbo do DEPI do MPLA]
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ONTRAM ACTUALMENTE DETIDOS NA PRISÃO SUBTERRÂNEA
DE LUZUMU (Congo–Léopoldville)

1. Tshipinda Jacques
2. Ilunga Berton
3. Bernardo Nataniel
4. Mupe François
5. Dumba Eduardo
6. Inoke Laure
7. Makina Jean
8. Kabuite Honoré
9. Tshilunda André
10. Mukolombi Damien
11. Imala André
12. Malala Disimacia
13. Mushitu Pierre
14. Wamana Charles
15. Mafu Simon
16. Chikomba Ievenare
17. Muchima François
18. Tshituwenu Gaston
19. Kangjai Litanin
20. Kanyombo Johon
21. Kabilo Muke
22. Tshikwa Petelo
23. António Bernardo
24. Muchishi Gabriel
25. Zangilo Goumive
26. Bango António
27. Muchinenu Jeanen
28. Kavienge Roger
29. Tshiji Rafel
30. Agostinho Zembeteu
31. Muwutu Lesesu
32. Kalwuiji Jerome
33. Levi Malite
34. Tsheleka Iarkos
35. Tshivala Samuel
36. Tshisesu Jacques
37. Bwiji Alberto
38. Koji Jaime
39. Tshinyamu Raimundo
40. Ngugo Meleka
41. Waajite Paul
42. Mulonga Basile
43. Mukapa Jeorge
44. Nyamuna Laurent
45. Lunete Mussuele
46. António Luciano
47. Mulinda António
48. Kahongo Jean
49. Machas Mathieu
50. Samba Sozinho
51. Sony Roberto
52. Lamba Mathieu
53. Tshihiluka Ferdinand
54. Mbay André
55. Wamuke Sylyven
56. Tshiaka Reny
57. Tshihiluka Antanase
58. Tshinema Pius
59. Bopilu Noel
60. Fuzinga Augusten
61. Mulumbi Joel
62. Amony Constantin
63. Kasapa Jean
64. Sava Jean
65. Mutemba Antanase
66. Chimuiza José
67. Swali Muzelenu
68. Lusachy Mathieu
69. Pedro Muetshenu
70. Manuel Muenu

[Os nomes desta lista começam pelo apelido. Será respeitado no índice remissivo]

Na prisão de Luzumo encontravam-se cerca de 125 prisioneiros angolanos dos quais alguns morreram. O número e os seus nomes ainda não são conhecidos.

Declarações à imprensa de Aníbal de Melo, com uma lista dos angolanos presos em Luzumo (Brazzaville)

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Nomes referenciados