Comunicado do MPLA sobre a Conferência do Cairo

Cota
0065.000.002
Tipologia
Comunicado
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
Data
1964
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA
MPLA
C.P. 2353 – Tel. 4915
BRAZZAVILLE

O MPLA NA CONFERÊNCIA DO CAIRO
Na recente Conferência de Chefes de Estado Africanos que teve lugar no Cairo a 17 de Julho último, colocou-se mais uma vez a questão de se discutir o problema da “LIBERDADE DE ACÇÃO” pedida pelo MPLA no decurso deste último ano.
Assim, o MPLA está consciente que isto não significa mendigar uma qualquer situação de privilégio ou uma simples tolerância contrária à sua própria dignidade.
Pelo contrário, o MPLA está a exigir um direito decorrente da sua condição de movimento de vanguarda que luta pela libertação do seu país e pela defesa dos interesses sagrados do Continente africano.
O MPLA está certo que ninguém pode impedir os verdadeiros combatentes da liberdade, reunidos sob a sua bandeira, de prosseguirem a sua acção revolucionária. De facto, um tal passo seria contrário às mais profundas aspirações do nosso povo, o que o MPLA não pode aceitar.
O MPLA sempre se dirigiu às mais altas instâncias africanas duma maneira livre de qualquer complexo, mesmo quando a sua presença foi considerada indesejável (o que sucedeu em Dakar) ou foi sabotada, como foi o caso em Lagos e em Dar-es-Salam.
Apesar da recusa de ouvir o MPLA como peticionário, o problema angolano foi examinado sob o título de “problema do MPLA” no encontro dos Ministros dos Negócios Estrangeiros.
Uma profunda discussão do problema foi impedida pela inconveniência do reconhecimento do “grae”, por um lado, e pela pretensão de exclusividade demonstrada pelos líderes desse mesmo “grae”, por outro lado.
Reenviado para o encontro dos Chefes de Estado, este problema, o nº 16 da ordem de trabalhos, levantou uma grande discussão. Foi adoptada a decisão seguinte:
“Criação de um Comité de três membros – Ghana, Congo-Brazzaville e RAU–, encarregado da revisão da questão angolana”.
A importância desta decisão deve ser destacada:
1) As teses apoiadas pelo MPLA encontraram eco nesta Conferência.
2) A decisão tomada de criar um Comité vai de encontro ao pedido, várias vezes colocado pelo MPLA, de uma revisão da questão angolana.
3) A Conferência mostrou claramente alguma reserva sobre a oportunidade do reconhecimento do “grae”, evitando qualquer referência ao “grae” e ouvir o seu líder (Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, falou em nome de todos os movimentos nacionalistas).
4) Na realidade, a Conferência de Chefes de Estado não foi uma consagração internacional do “grae”. Pelo contrário, a sua posição ficou visivelmente enfraquecida nesta Conferência.
Material de propaganda, como filmes e fotos, que o Sr. Holden Roberto trouxe pessoalmente para mostrar pretensas acções de guerrilha, foi feito no campo de Kinkuzu, segundo o Sr. Jonas Savimbi, antigo “ministro dos negócios estrangeiros do grae”, e não teve os resultados que o Sr. Holden desejava e esperava obter. Houve a mesma desilusão após a declaração delirante de soldados formando-se nos países socialistas, quando toda a gente sabe que o Sr. Holden enviou os seus quadros para Israel para serem submetidos a uma formação política e de segurança.
5) A presença oportunista de Matias Miguéis junto do Sr. Holden foi apenas uma outra maquinação para que as pessoas acreditassem que já se tinha alcançado a unidade com o MPLA.
6) A actividade diplomática efectuada pela nossa delegação, composta por Luiz de Azevedo Júnior, membro do nosso Comité Director, Eduardo Santos e Miguel Baya, membros do nosso Gabinete Político assim como Luís d’Almeida, o nosso representante no exterior, permitiu uma mais ampla compreensão do nosso problema. O memorando distribuído na conferência despertou grande interesse nos delegados.
7) A sensacional declaração do Sr. Jonas Savimbi (ele era uma das personalidades políticas mais próximas do Sr. Holden) anunciando a sua demissão de “ministro dos negócios estrangeiros do grae”, confirma as declarações do MPLA sobre o desenvolvimento da luta e outros problemas acerca da questão angolana.
8) A demissão do Sr. Jonas Savimbi foi seguida de algumas outras. As demissões mais recentes são do Dr. José Liahuca, o único médico angolano do “SARA” (organização da UPA de ajuda aos refugiados) e do Dr. Matias Teixeira, farmacêutico, que confirmam a maior confusão entre os líderes da UPA. Entretanto, o número de membros da UPA pedindo para serem membros do MPLA vai aumentando cada vez mais. A demissão do Dr. Liahuca é particularmente importante por causa das suas repercussões directas no interior da UPA e do “grae”. De facto, o Dr. Liahuca declara no seu comunicado de demissão que o “primeiro-ministro do grae” é responsável pela estagnação da luta armada, o que também só vem confirmar as declarações anteriores do MPLA sobre esta questão.­­
A oposição à unidade do povo angolano, o preconceito tribal, perseguições injustas a algumas centenas de combatentes da liberdade angolanos, vantagens materiais à custa da revolução, são as actividades dos líderes da UPA muitas vezes denunciadas pelo MPLA.
9) Ao declarar que esta organização terá em breve um exército de 50.000 homens, Holden apenas provou uma vez mais a sua falta de realismo ao examinar os factos. Além do mais, o recurso a mentiras sempre foi o método habitual do líder do “grae”.
10) O seminário de estudantes angolanos que, depois de uma longa análise da situação política actual no interior do nacionalismo angolano, tinha sugerido a unidade das organizações estudantis assim como de todos os movimentos nacionalistas, é mais uma prova da perda total de prestígio do “grae” e dos seus líderes.
Se se somarem os tristes resultados alcançados na Conferência do Cairo, fica a pergunta do que acontecerá ao capitão do “Daring Football Club” cujo presidente era Cyrille Adoula, caso os imperialistas não decidam estender-lhe de novo a mão.
As conclusões da cimeira do Cairo estão ao alcance de qualquer um.
Temos ainda de ajudar os líderes africanos a entender a natureza e o alcance dos actuais acontecimentos.
Um movimento angolano de vanguarda – o MPLA – está a lutar pela realização dos verdadeiros interesses do seu povo. O MPLA está disposto a fazer os maiores sacrifícios para ver realizadas as principais aspirações do povo angolano.
O MPLA está a seguir atentamente o inquérito do Comité nomeado pela Assembleia dos Chefes de Estado da OUA. O MPLA pretende confiar seriamente nas propostas dele.
Cabe ao povo angolano a tarefa de reforçar a luta e continuar vigilante e unido em torno do seu movimento de vanguarda, o MPLA, e de estar pronto para seguir as suas palavras de ordem. A vitória é nossa.
VIVA ANGOLA!
VIVA O MPLA!
VIVA A INDEPENDÊNCIA!
VITÓRIA OU MORTE!
BRAZZAVILLE; 1 de Agosto de 1964

Comunicado do MPLA sobre a Conferência do Cairo (Brazzaville)

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.