Carta do Rev. Domingos da Silva a Lúcio Lara

Cota
0067.000.024
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Domingos da Silva (Kajihonda)
Destinatário
Lúcio Lara
local doc
Léopoldville (RDC)
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
1
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

Caro “Kizomba” LARA Antes de tudo as minhas saudações. Circunstâncias várias, alheias à minha vontade, me retêm aqui: a) Logo após o meu regresso da conferência de Catanga fui informado de que havia sido chamado pelo “Mbuta” Kasa-Vubu. E por esta razão adiei a minha partida prevista para dia 10 de Setembro e constituí uma comissão que presidi. Posto ao gabinete do “Mbuta”, fui informado de que a agenda do dia estava bastante carregada e que aguardássemos uma nova chamada, contando que melhor atenção merecerá o nosso caso. b) Enquanto esperava, caí muito doente, e é neste estado em que me surpreende a chamada do Ministro do Interior M. Godefroid Munongo. Impossibilitado de o fazer pessoalmente enviei uma comissão em que participaram os camaradas Luvualo, Cardoso, Ramos e Lengue. Postos lá, o Director do Gabinete do mesmo ministério informou que um caso imprevisto e urgente obrigou o Ministro Munongo a partir e pede informar-lhe para que tenham calma e esperarem uma nova chamada e que tivessem boa esperança de ver o vosso problema arrumado. A situação perturbada do País, justifica a demora da solução do vosso problema. Quanto a mim, estou pouco mais ou menos bom, apesar de ter sofrido uma recaída. Os camaradas Dr. T. e enfº Q. fizeram tudo e continuam [a] fazer tudo pela minha saúde... c) As multidões vindas do interior de Angola estão solidárias connosco. As simpatias gerais crescem de dia para dia com o Movimento. Estabelecemos uma ligação directa com Caxito e Dembos etc. Temos correspondência com Custódio de Azevedo, pessoa que encabeça o Movimento naquela região. Isto para mim basta, temos tudo lá feito. Os nossos nomes bastaram para electrizar aquela região. d) A miséria, as doenças e a nudez do nosso povo constrangiram-me a fazer tal sacrifício a ponto de concedermos a última camisa e a última coberta. Eu passo fome. Nunca recebi nada nas finanças para comida, a pretexto de não haver dinheiro. Gostaria de ir-me embora, em face da delonga da chamada do Ministro mas a ideia de não perder a chance e também os perigos que se verificam no trajecto e a situação geral me animam a suportar tudo, a ver se me seja possível o contacto com o Sr. Munongo. Para hoje basta e adeus. Do vosso Camarada, Kajihonda Léo, 27-10-64 [assinatura de Rev. Domingos da Silva]

Carta do Reverendo Domingos da Silva (Léopoldville) a Lúcio Lara.

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