Aspectos actuais da situação internacional

Cota
0082.000.024
Tipologia
Texto de Análise
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel Comum
Data
1966 (estimada)
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
2
ASPECTOS ACTUAIS DA SITUAÇÃO INTERNACIONAL A comemoração do quinto aniversário da gloriosa jornada do Quatro de Fevereiro faz-se num ambiente internacional tempestuoso que não se reflecte intensamente no desenvolvimento da luta de libertação do Povo angolano. As situações que se estão vivendo em certas partes de África, da Ásia e da América Latina e mesmo da Europa, demonstraram que a forte ofensiva desencadeada pelo imperialismo continuará a intensificar-se a despeito dos insucessos registrados aqui e ali. A administração americana já pôs cobro à sua pseudo «ofensiva de paz» no Vietnam, retomando os bombardeamentos da República Democrática do Vietnam a afundando-se cada vez mais nas areias movediças da agressão no Vietnam do Sul, pelo anúncio já posto em prática de um novo reforço considerável do seu potencial militar. Os quase 200.000 soldados americanos que hoje práticamente substituem as tropas desmoralizadas do regime fantoche do Sul, transformar-se-ão em breve em 400.000, apesar de ninguém já ter dúvidas de que não existe a menor probabilidade de êxito para as forças imperialistas. Um factor positivo a registar é o crescente protesto do próprio povo americano contra esta guerra estúpida, no preciso momento em que a administração americana pretende aliviar-se de todo o peso das responsabilidades, obrigando alguns dos seus parceiros a participarem nessa guerra, com acontece com a Coreia do Sul (com os seus 18.000 soldados no Viet-Nam), Austrália (1.300), a Nova Zelândia (300) e a Tailândia (171). E se é legítimo duvidar de que a parte sã da opinião americana levará a melhor contra a vontade dos generais que procuram a todo o custo envolver República Popular da China no conflito, tal dúvida não pode substituir em relação às forças populares vietnamitas, que controlam hoje cerca de 80% do território e que infligem diariamente golpes decisivos mesmo no coração do inimigo. O intervencionismo americano continua a querer impor a sua doutrina na República Dominicana, coberta com a capa da OEA (Organização dos Estados Americanos) que aí mantém uma força internacional, que não é mais do que um outro instrumento da política estado unidense. E é essa mesma OEA que, sempre em côro com esses estrategas americanos, proclamam a necessidade de cada um dos países membros se preparar para fazer conjuntamente face à eclosão de movimentos revolucionários armados em todos os países da América Latina com o objectivo deliberado de liquidar a tutela imperialista que pesa sobre os povos latino-americanos e levar ao poder governos não corrompidos e verdadeiramente preocupados com os interesses do Povo. Em África a situação envolve de uma maneira aparentemente diferente. A série de golpes de estado que tiveram lugar sucessivamente no Congo-Léo, no Dahomé, na República Centroafricana, no Alto-Volta e na Nigéria, reflectem bem o cansaço dos povos em servirem de joguete nas disputas que, através de africanos corrompidos, as diversas correntes imperialistas travam para continuarem a explorar as riquezas do solo africano. Nem sempre o desejo de justiça social que levou as massas à acção foi compensado, mas o simples facto de essas massas se terem movimentado e quase sempre conseguido afastar os maus governantes é um índice claro de que as massas estão vigilantes e decididas a traçar elas próprias o seu caminho. O «golpe» racista que os partidários de Ian Smith fizeram contra o povo de Zimbabwe, em nada desmente a cada vez mais tomada de consciência dos povos africanos. Não é inteiramente negativo o facto de a maioria dos estados membros da OUA não ter cumprido a decisão tomada por unanimidade de se cortarem relações diplomáticas com uma Inglaterra hábil na manobra de ganhar tempo para encontrar a fórmula que lhe permitisse salvaguardar os seus interesses económicos na Rodhésia, sem sacrificar a sua posição privilegiada na economia das suas antigas colónias. A atitude dos países que traíram as decisões de Addis-Abeba teve o mérito de pôr a claro a nulidade de uma política de compromisso em que estavam a embrenhar-se alguns dos revolucionários africanos. Essa atitude ter-lhes-á feito perder as ilusões e é de esperar que eles tentarão fazer uma política africana mais de acordo com a realidade viva do nosso continente e com os interesses particulares de cada Povo;. Ela poderá pôr fim à tendência para uma certa demografia a dar início a um trabalho em profundidade no sentido de se lançarem as bases e de se criarem as condições propícias à satisfação das justas aspirações das massas. Foi esse espírito que dominou os trabalhos da Conferência Tricontinental realizada no ambiente revolucionário de Cuba, onde os povos de África, da Ásia e da América Latina não se pouparam a esforços para traçar uma estratégia de luta anti-imperialista e um programa de acção realista, tendo como objectivo supremo a libertação política e económica dos povos dos três continentes. É nesta conjuntura que o Governo do General De Gaulle não pode ficar indiferente perante o crime cometido no seu País contra das mais destacadas personalidades do Movimento Afroasiático – Ben Barka. É nesta mesma conjuntura que o Portugal colonial-fascista de Salazar, ao mesmo tempo que recebe um considerável apoio financeiro e em aviões da Alemanha Federal para poder suportar a guerra colonial em Angola, na Guiné e em Moçambique, e ao mesmo tempo que dá um discreto mas substancial apoio à Rodésia racista de Ian Smith, faz as promessas à Zâmbia de, como bom vizinho (!), a aliviar nas dificuldades de trânsito e abastecimento derivadas da situação rodesiana. É ainda nesta conjuntura que o tristemente célebre Amarchree, ex-sub-secretário das Nações Unidas para os assuntos africanos, é forçado pelos delegados africanos à ONU, a pedir a sua demissão desse importante cargo, por ter aceite um malicioso convite do governo português para visitar Angola e Moçambique, contra as decisões da OUA e das próprias N.U. Este Amachree é o mesmo que há dois anos, defendeu sem mesmo a necessidade de negociações entre os governos africanos e Portugal, com manifesto desprezo pela existência e pela vontade dos verdadeiros interlocutores os representantes das organizações políticas das colónias portuguesas. Entretanto a consolidação da luta armada em Angola, na Guiné e em Moçambique contribui para uma degradação cada vez mais persistente da situação interna em Portugal ao mesmo tempo que permite prever uma mais apurada coordenação das forças guerrilheiras e uma influência crescente dos movimentos de libertação agrupados na CONCP.
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