Informação confidencial do Comité Director do MPLA sobre as actividades da sede

Cota
0084.000.033
Tipologia
Relatório
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Autor
Comité Director do MPLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
5
Observações

Tem data de Junho, mas está corrigida a lápis

CONFIDENCIAL

INFORMAÇÃO DAS ACTIVIDADES DA SEDE AOS RESPONSÁVEIS DO MOVIMENTO
(Poder-se-á desenvolver qualquer dos assuntos, se isso for solicitado).

1- Foram enviados telegramas de felicitações aos Chefes de Estado do Congo Kinshasa, Argélia, Somália e Ouganda. Juntam-se cópias.

2- Foi enviado em 1.7.66 um telegrama ao Presidente da República Democrática do Vietnam, manifestando a solidariedade do MPLA para com o Povo vietnamita face aos bárbaros bombardeamentos feitos pelos imperialistas americanos em Hanoi e Haiphong.

3- No dia 18 de Junho regressou a Brazzaville o Presidente do Movimento. Desde o mês de Março encontrava-se ausente da sede e visitou os Países seguintes: Cuba, União Soviética, Zâmbia, Tanzânia, R.A.U., Argélia e Guiné.
Durante a sua viagem teve a oportunidade de se encontrar com os Chefes de Estado de Cuba, Guiné, da Zâmbia e da R.A.U., tendo discutido os problemas relativos à nossa luta de libertação e à ajuda desses Países.

4- Foi adiada a Reunião do Conselho de Direcção da CONCP que deveria realizar-se em Brazaville em fins de Junho, em virtude de dificuldades surgidas que impediram a presença do Presidente da FRELIMO a essa reunião.
Realizar-se-á provavelmente no mês de Agosto.

5- No dia 27.6.66 regressou a Brazzaville o camarada José Mendes depois de ter visitado as bases do PAIGC na parte norte da Guiné, na qualidade de membro da Comissão Militar da CONCP.
Porém, esta Comissão não pode fazer parte da reunião prevista para o mês de Abril deste ano, em virtude de ter faltado o responsável militar da FRELIMO.
O camarada Mendes também visitou Cuba na companhia o presidente de Alger, onde teve ocasião de verificar as condições de treino dos militares do MPLA.

6- O coordenador da Comissão Militar relatou as actividades da 2ª Região indicando as perspectivas existentes e as dificuldades que resultam da acção contra-revolucionária de Alexandre Taty, colaborador do governo colonial fascista português.

7- O responsável do Departamento de Organização camarada Azevedo Jr. regressou de Kinshasa em 4 do corrente.
Informou que as diligências feitas para retomar as actividades do MPLA no Congo encontram a opinião favorável por parte de várias autoridades - no Ministério do Interior, no Parlamento, no Ministério dos Negócios Estrangeiros e na Presidência - havendo porém, a oposição habitual do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Bomboko.
O General Presidente estaria disposto a examinar o dossier MPLA dentro em breve.
Os responsáveis do Movimento continuam a fazer diligências para tomar mais fácil a nossa actividade num País que nos era totalmente hostil e que hoje tolera a presença do MPLA.

8- No dia 27 de Junho criou-se na cidade de Brazzaville um clima de agitação contra-revolucionário, provocado pelas forças armadas.
O MPLA durante todo o período de tensão assumiu as posições mais justas como organização hóspede do Governo do Congo Brazzaville.
A nossa organização não foi afectada por essa crise, durante a qual mais uma vez demonstrou a sua fidelidade aos princípios revolucionários.

9- O dirigente da JMPLA camarada Macedo assistiu ao Congresso da Consomol na URSS e juntamente com o camarada Paiva também responsável do MPLA em Moscovo assistiu á VII Assembleia da FMJD em Sofia.

10- Reúne-se brevemente o Comité Director em Reunião Plenária (1ª e 2ª regiões) com a seguinte Ordem de Trabalhos:
a) Aplicação das decisões da reunião Alargada de Dirigentes de Fevereiro de 1966 (R.A.D.)
b) Funcionamento do Comité Director após a R.A.D.
c) Problemas de Quadros
Proposta da extinção do CIR
  Outros problemas

11- As embaixadas de Israel em Dar-es-Salaam e em Brazzaville têm contactado os responsáveis do nosso Movimento para oferecer bolsas de estudos no seu País.
Tais contactos foram procurados através do Secretariado do Comité de Libertação de África, através da Vice-Presidência da Tanzânia e do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Brazzaville.
Considerando o papel de agente do imperialismo desempenhado por esse País em África, a Direcção do Movimento não aceitou as bolsas oferecidas.

12- Terminou no dia 5 de Junho/66 o 3º Curso do CIR que foi frequentado por 29 camaradas. Foram obtidos bons resultados.

13- Cinco jovens angolanos vieram de Kinshasa para se integrarem nas fileiras do MPLA. Porém, após exames médicos só dois foram considerados aptos para a actividade militar.

14- Três portugueses chegaram a Ponta Negra vindos clandestinamente do Lobito.

15- Por razão de mal-entendidos tinham sido suprimidos os programas do MPLA na voz da Revolução Congolesa. Porem, depois de esclarecidos tais malentendidos o Bureau Político do MNR e o Ministério da Informação autorizaram imediatamente o reinício dos nossos programas, concedendo mesmo em aumentar o número de dias das emissões.
Os programas da Angola Combatente passam a ser feitos às 4ªs, 6ªs e domingos à hora habitual.
Este facto mostra que não existe qualquer espécie de hostilidade contra o MPLA por parte das autoridades congolesas. Pelo contrário a ajuda a nossa luta é constante e interessada.

16- O nosso boletim quinzenal VITORIA OU MORTE passa a ser vendido. O departamento de Informação do Movimento pensa assim mobilizar os fundos suficientes para que o VITORIA OU MORTE saia regularmente. Foi feito um apelo a todos os responsáveis do Movimento para colaborarem intensamente na venda do boletim, tanto em Angola como no estrangeiro.

17- Em 27 de Junho visitou a Secretária do nosso Movimento o Presidente da FEANF CONDE ALPHA, tendo reunido com o Presidente, com o responsável da JMPLA camarada Macedo e com o camarada Baya.
Avisou que a FEANF desejaria realizar em Agosto próximo em Brazzaville um Seminário sobre “Neocolonialismo em África e meios de luta”.

18- De acordo com as decisões tomadas na RAD de Fevereiro/66, torna-se obrigatória a discussão em todos organismos do Movimento sobre “Recolha de Fundos”.
Recomenda-se que seja posta em prática a cotização dos membros e simpatizantes do MPLA e que em cada organismo se deem passos concretos para angariamento de donativos.

19- A Presidente da OMA visitou a 1ª Região tendo contactado refugiados nas zonas fronteiriças do Baixo Congo e estudado os problemas de organização da OMA dessa Zona.
Na 2ª Região a OMA tem-se dedicado a desenvolver actividades que permitam a recolha de bens materiais para ajudar os guerrilheiros do MPLA.

20- Tem causado grande entusiasmo entre os militares as notícias vindas do sul do nosso País sobre a abertura de uma nova frente de combate. Assim o camarada Luís de Almeida representante em Alger, deu uma Conferência de Imprensa sobre o assunto.
Uma exposição de fotografias na sede, tem sido visitada por um grande número de membros do Movimento.
Numerosas cartas de Felicitações têm sido recebidas pelo Comité Director.
Por outro lado a U.I.E. enviou um telegrama de felicitações.
O Centro de Estudos Angolanos também felicitou o Comité Director.
Em duas acções entre as tropas inimigas foram liquidados 92 soldados portugueses, destruídos 5 camiões e 2 jeeps. Foi recuperado material de guerra.
Do nosso lado foi morto um camarada.
A actividade na Frente Meridional mereceu um desmentido do Ministério Português da Defesa que contradiz, reportagens publicadas no Semanário Notícia de Luanda.
As vastas possibilidades da Frente Meridional pelo entusiasmo das populações, pela extensão da região, pelo número de guerrilheiros formados transformam-na numa zona operacional das mais importantes para o nosso Movimento e para a luta do nosso Povo.

21- A quando da sua passagem por Alger o Presidente do Movimento deu uma entrevista ao jornal “Révolution Africaine”, na qual declarou:

“Nous sommes partisans d’un front uni de toutes les formations politiques engagées dans le combat contre l’occupant portugais. Nous l’avons prouvé, au cours de la longue marche du nationalisme, par nos prises de position envers les multiples formations se réclamant du nationalisme en Angola.
On connait nos efforts en vue d’unifier le F.N.L.A. et le MPLA dans un front commun.
Néanmoins, je dois affirmer que nous sommes conscients de l’inéluctabilité de la division des forces nationale, notamment dans notre continent africain. L’histoire des révolutions dans le monde nous apprend que la division des forces nationalistes est le résultat de l’action, que ces forces mènent contre l’ennemi qui se trouve être tout puissant au début de l’action révolutionnaire.

Au fur et á mesure que la lutte avance, le peuple est convenablement mobilisé, et les forces authentiques, patriotiques, sortent de l’obscurité pendant que la réaction sombre dans la nuit coloniale...

Tel est aujourd’hui le processus qui fait décanter les forces nationalistes en Angola. Sans vouloir exagérer, on constate aujourd’hui l’ascension profonde du MPLA dans son combat contre l’occupant portugais et l’effacement de la scène politique d’autres organisations jadis considerées comme étant les plus fortes.

Le MPLA s’affirme aujourd’hui comme l’avant garde des révolutionnaires, ayant des positions chérentes aussi bien sur le plan pana-africain que dans le combat qu’il mène contre toutes les formes du colonialisme qui menacent le peuple angolais.

Ce sont ses prises de position qui inspirent l’action coordinative du MPLA avec les mouvements d’avant-garde dans les autres colonies portugaises et situent le MPLA aux côtés des forces progressistes en Afrique.

Nous pouvons donc conclure que le MPLA est le “pôle” révolutionnaire que saura unifier tous les angolais soucieux de combattre, côte á côte l’occupant colonial.”

22- As escolas da 2ª Região do MPLA tiveram no ano escolar 1965-1966 uma frequência de 172 alunos.
Foram aprovados 59 alunos e reprovados 19.

23- No dia 5 de Julho corrente, quase todos os membros da Direcção do Movimento e alguns colaboradores estiveram presentes à recepção dada pela embaixada da Argélia em comemoração do 4º Aniversário da Independência do seu País.
Esta foi uma afirmação de solidariedade para com o Povo argelino.

24- No dia 20 de Julho comemora-se a data em que foram firmados os acordos de Genève.
Esta data assume uma importância excepcional no momento em que os imperialistas americanos agressores no Vietnam intensificam os bombardeamentos nos centros vitais da República Democrática do Vietnam.
Todos os organismos do Movimento e todos os seus militantes devem manifestar a sua solidariedade para com o Povo irmão do Vietnam, reclamando a aplicação dos acordos de Genève.

25- No dia 5 do corrente a JMPLA publicou uma declaração condenando a acção dos imperialistas americanos no Vietnam e apoiando a justa luta revolucionária do heroico Povo vietnamita, apoiando a posição tomada em 4 pontos do Governo da República Democrática do Vietnam e a declaração em 5 pontos da FNL.

26- No dia 8.7.66 regressou à sede o camarada Spencer membro da Comissão das Relações Exteriores que representou o MPLA no Congresso do Partido Comunista da Tchecoslováquia, no Congresso da Aliança Socialista Jugoslava e no Congresso Mundial da Paz, realizado em Genève de 13 à 16 de Junho findo.

27- O Presidente do Movimento foi recebido pelo Embaixador do Mali no dia 9.7.66, tendo-se discutido entre outras coisas a próxima visita a fazer ao seu País.


Brazzaville, aos 9 de Junho *[manuscrito: “Julho”] de 1966.

DO COMITÉ DIRECTOR

*[Carimbado: «Comité Director - MPLA»]

«Informação das actividades da sede aos responsáveis do Movimento» (MPLA, Brazzaville).

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