Cópia do Diário da 1ª Companhia de Comandos

Cota
0086.000.016
Tipologia
Relatório
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel Comum
Autor
Comandos portugueses
Data
1966
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
9
DIARIO DA 1ª Ca. de COMANDOS

Horário:

Partida de Luanda em 9 às 5h30
Chegada a Nova Lisboa em 9 às 21h
Partida de Nova Lisboa em 10 às 23h30
Chegada a Mucussueje em 13 às 12h30
Partida de Mucussueje em 13 às 16h30
Chegada a Massibi am 13 às 21h30
Chegada a Cazombo em 14 às 12h30
Partida de Cazombo em 14 às 15h
Chegada a Lumbala Nova em 14 às 12h30
Travessia do rio e instalação em Lumbala-a-Velha em 14 às 15h até 20h.

*[manuscrito por Lúcio Lara: «apanhado em 19/9/66 sobre o corpo do alferes Rui Pereira Agostinho morto pelos guerrilheiros do MPLA, em combate»]


A 1a. COMPANHIA DE COMANDOS

A 1ª companhia de Comandos, aquartelada no campo militar do Grafanil, fazendo parte das forças de intervenção da Região Militar de Angola, recebeu ordens para se deslocar temporariamente para a ZIL.
Assim, em 9 ás 5h30, comandada pelo Sr. Capitão de Inf. comando Raul Miguel socorro Folques, e com as dotações completas em material pessoal (3a.) subalternos, 19 sargentos e 118 praças), a coluna transportada por 10 Unimogs e 3 camionetas Mercedes-Benz, pôs-se em movimento do seu aquartelamento com destino a Nova Lisboa.
À despedida da companhia encontrava-se o Sr. Capitão de Arta. Comando Leal de Almeida, comandante da Companhia de instrução do CIC. Pelas 6h30 a coluna chegou a Catete onde se procedeu a um pequeno alto. A esta hora chegam igualmente a esta vila a Exmo. Comandante do Centro de Instrução de Comandos, Sr. Major Santos e Castro, que de Luanda vinha despedir-se da companhia.
Depois da partida verificou-se a chegada no Dondo cerca das 12h30 onde se iniciou o reabastecimento das viaturas o qual demorou cerca de 1 hora. Partida do Dondo pelas 13h30 e chegada a Santa Comba às 17h30, onde se efectuou novamente o reabastecimento em combustível. Sem qualquer incidente a coluna deu entrada na Escola de Aplicação Militar de Angola, em Nova Lisboa, cerca das 21h. Depois do pessoal apeado foi nomeado um oficial de dia e um sargento de dia por cada grupo, os quais conduziram aqueles ao refeitório daquele estabelecimento militar afim de tomarem uma refeição quente, dado que tinham viajado abonados de uma ração de reserva para cada dois homens. Após esta refeição o pessoal foi instalado nas respectivas casernas ou camarotes.

Dia 10 Agosto 66

Após a 1a. refeição é logo a chegada do Exmo. Comandante daquele Estabelecimento Militar, Exmo. Sr. Cor. Reis Santos, e acumulando o cargo com o da ZIL, os oficiais da Companhia foram apresentar-lhe os cumprimentos de chegada. Depois desta diligencia e um contacto com o oficial de transportes do Comando da ZIL, Sr. Alferes Matos, o Comandante da Companhia, os Comandantes dos grupos de combate e o comandante de formação dirigiram-se à estação do Caminho de Ferro de Benguela onde entraram em contacto com o chefe daquela estação, o qual mostrou o local de embarque das viaturas, bem assim duas das três carruagens que seriam destinadas ao transporte do pessoal da Comp., uma vez que as outras só chegariam no comboio vindo do Lobito naquele dia. Regressados à EAMA cerca das 10h30, foi determinado que o embarque das viaturas e do material se processasse ainda naquela manhã, sob o comando do com. da formação e que o pessoal poderia sair para a cidade, depois de devidamente uniformizado. A 2a. refeição foi tomada pelas 12h30 e a 3a. cerca das 17h30.
Conforme foi estabelecido, a Comp. reuniu novamente às 19h para às 20h nas viaturas gentilmente cedidas pela Unidade, seguir para a estação do Caminho de Ferro, onde se procedeu imediatamente ao embarque dos oficiais, sargentos, 1º e 2º referida carruagem que chegaria do Lobito a qual ainda ali não se encontrava, e se veio a constatar cerca das 21h30; às 22h já a companhia se encontrava embarcada.

OPERAÇÃO
Saída da Companhia às 21h30 do dia 20 de Agosto de 1966 da sua base em LUMBALA. Chegada ao local onde se pernoitou até às 4h45, saída às 5h afim de se apanhar a mata que ia até ao CAVANJA, com dois trilhos de viaturas, a companhia por int. do guia apanhou o da esquerda, o (?) se afastava do objectivo. Às 6h30 iniciou-se a marcha a pé tendo o 4º grupo montado imediatamente o P.I. no local. Às 7h aparecem duas equipas no P.I. pedindo deslocação de viaturas para a frente. Viaturas encontram restante companhia 10 quilómetros à frente, onde o 4º grupo monta novo P.I. O 2º grupo com guias desloca-se para a mata afim de destruir objectivo cerca 8h. Passados 20 minutos os 1º e 3º grupos vão montar emboscada na mata. Às 8h45 as viaturas vão recolher o 2º grupo que chegou cerca das 9h30. Recolhido este grupo as viaturas seguiram e foram recuperar o restante pessoal emboscado. Neste local procedeu-se a um pequeno alto e cerca das 10h30 a Companhia pôs-se novamente em marcha com destino à ponte sobre o rio LUNHAMEJI assinalado no croquis, à qual chegou cerca das 14h. Num pequeno largo (LINDANDO VELHO) montou-se imediatamente o P.I. com as viaturas dispostas em círculo. Pelas 14h30 o 1º grupo marchou com destino ao quimbo do LIVACHE, tendo regressado pelas 15h30 depois de terem destruído o quimbo. Depois de montado o sistema defensivo a Comp. pernoitou no P.I.. Cerca das 3h15 um felino feriu gravemente o sargento I Santos Pires, o qual depois de feitos os primeiros socorros foi evacuado para a base. O 1º grupo procedeu à evacuação cerca das 3h45.
Pelas 6h (?) o 2º grupo iniciou uma batida pela margem esquerda do rio LUNHAMEJI enquanto que o 3º grupo saía 30 min. após o 2º grupo e iniciou a batida na margem direita do mesmo rio, juntando-se àquele depois. À hora da saída do 2º grupo, o 4º, com as suas equipas montou um sistema defensivo do P.I.
Os 2º e 3º grupos chegaram ao P.I. pelas 10h30 e cerca das 11h30 a companhia iniciou o itinerário de regresso à base, onde chegou às 17h. Às 20h30 o sargento de op. e Inf. conduziu as velhas à Companhia 1451 onde lhes foi efectuado um interrogatório sumário.

Dia 23 de Agosto - Terça-feira
Companhia em descanso no base em LUMBALA.

Dia 24 de Agosto - Quarta-feira
Cerca das 8h30 chegada à base do Sr. Comandante do B. Cav. 1451 com comitiva e major do Q.O.
Às 9h ida á companhia da LUMBALA NOVA, onde se procedeu a um briefing da operação realizada por nós e outro à cerca da emboscada sofrida por um grupo daquela companhia na margem do rio LANJANHO. Falou-se do desenvolvimento da subversão e o sr. Capitão Folques afirmou que nos devíamos antecipar aso turras pelo que seria de bater o terreno a sul do rio LUENA, recolhendo os povos ao ZAMBEZE e procurando nestes qualquer informação. Disse que o efectivo da 1a. Companhia era pouco. Foi reforçado por um grupo da companhia do LUMBALA. Foi-lhe pedida a recolha a destruição dos povos MWEMA e NHACATOA, com o fim de se cortar uma possível via de reabastecimentos, a partir de MARÇO I. Foi seguida e depois de tomadas as providências para a realização dessa operação, às 11h30 seguiu em DO para CAZOMBO onde seria planeada com o comandante do B. Cav. a op. primeiramente referida.
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Os 2º e 3º grupos, incumbidos de concretizar a op. Ao MARÇO I iniciaram os trabalhos de preparação , para marchar às 23h.
Às 14h30 o Sr. Alferes Maurício, comandante do 2º grupo, explicou aos sargentos que tomavam parte na op. A missão e a forma de actuação.
Pelas 16h chegou à base um rádio oriundo do comandante desta companhia em CAZOMBO, determinando o cancelamento da op. com finalidade a uma outra. Antes, porém, às 13h30. o com. da companhia do LUMBALA, Sr. Cap., veio falar com os oficiais desta companhia, informando da existência de um grupo D O, a cerca de 10km da base. Pelas 18h30, o 2º grupo de combate em 3 viaturas dirigiu-se a CHILOMBO afim de recolherem o comandante, em cumprimento da mensagem recebida e que consta do respectivo arquivo.

Dia 25 de Agosto - Quinta-feira

Cerca da 1h o 2º grupo regressou à base, trazendo o comandante desta. Pela 1h reunião com os oficiais e brifing.

Dia 26 de Agosto - Sexta-feira

O início da operação anteriormente planeada deu-se neste dia, com alvorada ás 5h30, formatura às 6h e saída da base em LUMBALA às 6h30. A companhia formada em 4 grupos de combate, 2 guias cipaios (Zebedeu e Sozinho) - (cipaio partiu as pernas) e a autoridade administrativa, administrador do posto de LUMBALA, Sr. Marques. Era transportada em 7 viaturas Unimog e 2 viaturas pesadas Mercedes, com a seguinte disposição: à frente o 1º grupo de combate com uma viatura pesada Mercedes e um Unimog. A seguir a viatura Unimog do Comandante da C. Comandos com a sua equipa. Depois os 2º e 3º grupos em 4 viaturas Unimog e fechar a coluna o 4º grupo com uma viatura Mercedes carregada com material e combustível (2.000 litros de gasolina em 10 bidons) e uma viatura Unimog a qual encerrava a coluna. A Autoridade administrativa seguia na 7a. viatura.
A progressão da coluna foi morosa na medida em que o terreno se apresentava bastante arenoso, o que motivava as viaturas seguirem sempre em segunda ou terceira. No entanto não houve nada de anormal.
Pelas 15 horas, quando já se havia deixado a picada LUCUSSE-LUMBALA, a cerca de 28km desta, que a mata era tipo arbusto: que o início? Utilizou abrigos individuais, escondendo-se atrás das árvores de maior porte. A 8ª viatura que vinha relativamente atrasada da restante coluna sofreu pela primeira vez uma acção de fogo por parte do IN. Este revelou-se do lado direito da picada, iniciando a emboscada com uma rajada curta de pistola-metralhadora, seguida de 3 tiros de espingarda automática, e grande profusão de rajadas daquela e destas, terminando com o lançamento de uma granada de mão. Da reacção das NT e depois de ser batido o terreno avaliou-se o IN em 6 elementos utilizando pistolas-metralhadoras, esp. aut. e granadas de mão; que a emboscada foi feita a cerca de 20 metros da picada e que retirou para a retaguarda da coluna, que não foram causadas baixas ao IN mas as NT sofreram dois feridos ligeiros: o soldado nº 226 Silva com um tiro de pist. metral. a raspar as costas e o 1º cabo 168 José Duarte Teixeira com uma lesão no olho direito provocada pelo sopro da granada que o IN lançou. Mais se constatou que o local (215530 123700) da acção TU se encontrava a cerca de 1Km do quimbo SUANA MAONGO.
O 1º grupo que já aqui se encontrava iniciou um movimento de envolvimento, enquanto que o comandante da C. Comandos, mais atrasado na picada, regressou rapidamente ao local da emboscada à viatura e com o pessoal de reforço, iniciou imediatamente uma profusão pela mata. A emboscada durou cerca de um minuto.
Depois das NT se juntarem no quimbo SUANA MAONGO, o qual foi incendiado, a coluna iniciou a marcha em direcção ao rio LUATA. A cerca de 300m. deste a 8ª viatura atascou-se na zona alagadiça da margem direita daquele rio. Enquanto se procedia à desempanagem daquela viatura, o comandante da companhia mandou abater uma manada de 20 cabeças de gado bovino que se encontrava na margem direita do rio LUCATA a pastar, bem assim como uma outra de 13 cabeças que se encontrava na margem esquerda, para que as mesmas não servissem de fonte de abastecimento ao IN. Para se conseguir desatascar a viatura foi necessário descarregar o combustível e material que trazia, o que sucedeu cerca já das 18h30. Neste intervalo de tempo fomos flagelados duas vezes por tiro de espingarda-metralhadora muito longe. Como o pontão sobre o rio LUCATA se encontrava queimado foi necessário transpor este a vau, o que se tornou bastante moroso e difícil para os Unimogs e ainda mais para os Mercedes. Com o pessoal a empurrar e com os guinchos a trabalhar, conseguiu-se passar a última viatura pelas 20h30.
Às 21h30 a coluna deu início novamente à sua marcha, com a finalidade de se pernoitar cerca das 23h mais adiante. Logo que as três primeiras viaturas saíram da chana à margem do rio e entraram na mata, o IN iniciou a segunda acção de fogo com grande intensidade, deixando a companhia totalmente surpresa.
Primeiramente o IN iniciou a emboscada com um tiro de pistola seguida de uma intensa profusão de rajadas de metralhadora pesada 12.7 com bala tracejante de pistola-metralhadora e de espingarda automática. Também inicialmente lançou um very-light o qual não (?) ... completamente; o IN fez a sua retirada lançando em quantidade granadas defensivas para a picada. As NT reagiram imediatamente com fogo de espingardas, de lança-granadas e lança-foguetes, tendo repelido o IN. O IN estimado em cerca de 15 elementos retirou após 1,5 minutos de fogo. As nossas tropas sofreram as seguintes baixas: MORTO - soldado Amaral com 2 tiros no tronco; FERIDOS - sarg. Vitor Santos com estilhaços de granada no pescoço e mão, e cipaio Sozinho de posto administrativo de LUMBALA com um tiro na perna o que lhe causou grande hemorragia. Com uma segurança militar montada, visto que a viatura atingida estava avariada, procedeu-se à montagem do dispositivo para se pernoitar ali mesmo.
Foi enviado o restante do 1º grupo de combate sob o comando de um sargento em escolha ao morto e feridos para LUMBALA, convidada também a AA a retirar-se, o que não foi aceite pelo próprio. Para a mata a que antecedia o rio LUCATA, e onde se deu a 1ª emboscada foi enviado o 3º grupo afim de proceder à protecção, apoiada do grupo a evacuar e respectiva escolta.
Seriam cerca das 2h da manhã do dia D-1 quando as viaturas conseguiram atravessar o rio LUCATA no qual se encontrava o 4º grupo a montar segurança. O grupo de protecção regressou ao local da pernoita da companhia pelas 3h30. O 1º grupo chegou à base cerca das 9h. Assim, enquanto o 1º grupo de combate tentava detectar o IN, o 2º grupo foi lançado imediatamente pela (esquerda) digo direita, não se tendo efectuado a perseguição por ser noite.

Dia 27 de Agosto - Sábado (Dia D+1 - 2ª fase op. ciclone)

Pelas 6h foi enviado o 2º grupo afim de proceder ao reconhecimento do terreno donde a emboscada havia sido montada. Regressou cerca das 9h. Constatou-se que a emboscada havia sido montada do lado direito da picada a cerca de 20 metros; que a mata era tipo arbusto e esparsa, que o IN utilizou troncos de árvores cortadas para apoiar as suas armas automáticas para centralizar o tiro não utilizando portanto abrigos individuais; que não o foram verificados vestígios de trem sido causadas baixas ao IN: que os lançamentos de granadas de mão foram efectuados a cerca de 20 metros da picada; que o IN retirou para a frente da coluna por trilhos, notando-se nestes rastos de sapatos de lona.
Cerca das 10h e já tendo a viatura concertada, a coluna pôs-se novamente em marcha sem o 1º grupo de combate. O subalterno deste grupo, alf. Dias Ferreira ofereceu-se como voluntário para continuar a operação e foi empossado do comando do 4º grupo, dado que este não possuía oficiais. Utilizando guarda de flancos em locais onde havia árvores ou arbustos e com o pessoal monuado, nas chanas, a coluna só parou cerca das 11h30 para entrar em ligação rádio com o PCD. Chegados ao rio MOVUNDA pelas 12h e depois de se fazer uma tentativa de passagem pelo pontão, constatou que os paus deste se encontravam já podres e que era impossível a sua travessia com viaturas mesmo do tipo Unimog. Dado que a companhia desejava cumprir integralmente a sua missão, foi pedido ao 3 Cav. o envio de um pelotão de sapadores para concerto ou improvisação de uma passagem.
Enquanto se aguardava a vinda deste pelotão, e mesmo porque o pessoal necessitava de descanso, (não só pela mudança de clima como também pelo trabalho esgotante do dia e noite anteriores) foi montado o dispositivo de segurança para ali mesmo se pernoitar.

Dia 28 de Agosto - Domingo (dia D+2 2a. fase da op. Ciclone)

Pelas 6h o 2º grupo explorou a margem do rio MUVUNDA com a finalidade de encontrarem um local onde a improvisação de um pontão fosse mais rápida, pois que no existente seria necessário bastante material, trabalho e tempo. Este grupo regressou após 2h tendo encontrado a cerca de 500m um grupo?. Pelas 7h, o 3º grupo de combate foi enviado em batida para o lado direito da picada, na margem direita do rio MUVUNDA, onde a companhia se encontrava, com finalidade à detecção de qualquer elemento indígena ou recuperação de qualquer quimbo por ali existente. Este grupo regressou cerca das 11h tendo apenas encontrado um grande cemitério com os utensílios que normalmente ali existem. Também pelas 7h e com a mesma missão foram para o lado direito, foi enviado o 4º grupo de combate acompanhado pelo guia Zebedeu; este grupo, seguindo por um trilho batido, cerca de 1Km do local da partida encontrou um indígena acompanhado de sua mulher e mãe. Tendo sido interpelados pelo guia não manifestaram receio da tropa e responderam que viviam no CHILOMBO e que para aí se dirigiam, depois de terem ido passear o quimbo que ali perto ficava. Perguntados a que distância ficava e se ainda tinha população, responderam que ficava perto e afirmativamente quanto ao povo. Afim de seguir como guia e como medida de segurança, as duas mulheres foram enviadas para o local onde a companhia se encontrava, escoltadas pela 5a. equipa daquele grupo. Lá mais adiante, a cerca de 4Km da picada, a uma curva do trilho foi detectado um elemento indígena que seguia de bicicleta em sentido contrário. Ao ser mandado parar pelo guia-cipaio Zebedeu, abandonou rapidamente a bicicleta e meteu-se na mata. Ramos, da 1a. equipa fez-lhe um tiro, tendo-se ele dobrado, não se sabe se ferido ou se para abaixar-se. Como a recuperação DICOCO era mais importante, e prevendo que o tiro os alarmasse, o cipaio-guia foi enviado na bicicleta que aquele havia deixado à frente do grupo, tentando evitar que o povo debandasse, o que efectivamente aconteceu, apesar de a sua maior parte já se encontrar a correr em direcção às matas da margem esquerda do rio MUVUNDA. Como porém o DICOCO e outros ainda se encontravam no quimbo foi possível conversar com ele e demonstrar que a tropa não lhes queria mal. Ao seu chamamento o povo começou a regressar ao quimbo, mostrando grande satisfação. Depois de montada a segurança imediata e de se saber que o povo havia fugido ao ouvir o tiro, porque no dia anterior haviam sido prevenidos por elementos desconhecidos de que a tropa vinha por ali queimado os quimbos, inclusive já haviam destruído a ganda de SWANAMAONGO.
Foi determinada a evacuação do povo composto por ? homens, ? mulheres e ? crianças. Esta evacuação para o local onde a companhia estava estacionada foi bastante morosa, pela quantidade de bugigangas que o povo queria trazer, e que já haviam escondido nos sítios mais incríveis, na margem oposta do rio MUVUNDA. Pela ? hora, a que chegou o pelotão de sapadores escoltados do pelotão de Cav 1451 ainda os Unimogs se encontravam a transportar os elementos do povo, bem assim como os seus utensílios.
Entretanto haviam-se apresentado 4 indígenas de outro quimbo, situado a uns 5 kms mais adiante deste, os quais foram deixados livres para tentarem recuperar a sua população a qual havia fugido para a mata, quando o 3o. grupo ali se dirigia, acompanhado pela AA na esperança de que o povo ao vê-lo nos acompanhasse mais facilmente. Só retiraram pelas 18h30 sem qualquer resultado.
Falar do pontão indicado pelo povo recuperado.
Logo que ali chegaram os graduados do pelotão de sapadores, foram fazer um estudo do pontão a improvisar, para iniciar o trabalho pela madrugada do dia seguinte.
Com finalidade à evacuação da população recuperada foi enviada uma mensagem ao B. de Cav. pelas 12h o PCAc/ 3 T6, largou sobre a companhia um croquis do terreno para esta dirigida, com indicações do objectivo.

Dia 29 de Agosto - Segunda (Dia D+3 2a. fase da op. Ciclone)

Pelas 11h o pelotão de sapadores deu por terminados os seus trabalhos que desde madrugada haviam iniciado protegidos pelo 2º grupo de combate. Cerca das 12 horas já a coluna havia transposto o rio MUVUNDA, iniciando a sua marcha. Utilizando sempre a mesma apeada com grada de flancos nos locais mais arborizados e montados nas chanas, chegou a companhia sem qualquer incidente ao quimbo NHANULOMBO. Aqui, e em cumprimento de uma ordem dada pelo PCA efectuado nessa manhã seguido de bombardeamentos, a companhia teria de reconhecer e de bater a zona junto ao soba MABULO, pois dali o IN havia feito fogo para a DO e ao mesmo tempo fazer rebentar duas bombas que não haviam deflagrado. Com esta finalidade a companhia flectiu para o itinerário que levava ao objectivo e anteriormente mencionado. Pelas 14h o 2º grupo que seguia apeado à frente da coluna encontrou um quimbo onde algum povo se pôs em debandada. Perseguindo-os este grupo conseguiu capturar 14 elementos que se haviam refugiado por debaixo de uma mangueira, cuja copa tocava o chão.
Reiniciada a marcha já com o 3º grupo a montara guarda de flancos quando a coluna entrou numa mata mais espessa, o IN iniciou a sua 3a. acção de fogo, que apanhou todo pessoal já apeado.
O tiro inicial foi dado por uma pistola, tendo após este passado cerca de 15 segundos antes do desencadear da emboscada, efectuada às 3 últimas viaturas da coluna. O IN utilizou espingardas automáticas pistolas metralhadoras e granadas de mão defensivas, e foi estimado em cerca de 10 elementos. À reacção imediata das NT, o IN pôs-se em debandada, deixando no local onde efectou a emboscada o material que consta da alínea 6 deste número. Esta acção do IN durou cerca de 1 minuto. (que o IN ao efectuar a retirada notoriamente precipitada abandonou no terreno duas granadas de mão defensivas de fabrico russo, bem assim como um carregador de espingarda automática carregado, também de fabrico russo).
Depois de batido o terreno constatou-se o seguinte: que a emboscada foi feita a cerca de 20 metros da picada; que o IN utilizou as armas já mencionadas; que utilizou como abrigos os troncos de árvores de mais porte; que não foram detectados quaisquer vestígios de baixas provocadas ao IN; que este para finalizar a emboscada lançou 3 ou 4 granadas de mão defensivas batendo com elas toda a zona de morte; que o IN retirou para a rectaguarda da coluna; que as NT sofreram as seguintes baixas: Morto - soldado no. 226/65/A, Carlos Denis da Silva, já anteriormente ferido com um estilhaço de granada na cabeça e no pescoço; feridos: o furriel mil. Bebiano Pereira, com um estilhaço na cabeça e outro no pescoço; o soldado no. 130/65/A, António Copes da Silva, com estilhaço alojado entre as costelas; o soldado no. 165/65/A António Morais Gomes com estilhaços vários na parte direita do tronco e braço direito; 1 cabo no. 236/65/A Manuel Oliveira da Silva e soldado no. 764/64 Joaquim Nunes Ramos do pelotão de sapadores B. Cav. 745.
Logo após o tiro inicial o 2º grupo ea equipa do Comando iniciaram o movimento de envolvimento, não tendo tido contudo qualquer contacto com o IN porquanto esse se ter retirado para a actuação dos seguintes militares: soldado nº 209/65/A Adriano Pires dos Santos, que vendo um camarada seu ferido, debaixo do fogo IN, conseguiu traze-lo em local abrigado pela viatura; 1 cabo no. 108/65/A Valdemar Calheiros Pereira que vendo um elemento IN encoberto por uma árvore, a peito descoberto e de joelhos, numa zona de morte bastante perigosa perseguiu aquele elemento IMN com o fogo da sua arma, o qual na sua fuga desordenada abandonou o carregador da sua espingarda automática; soldado no. 212/65/A Manuel Ramos, que numa zona de morte bastante batida pelo IN acorreu imediatamente a prestar os primeiros socorros aos seus camaradas feridos, mostrando uma calma fora do vulgar, um desprezo pelo fogo IN e principalmente um grande sentimento de camaradagem.
Imediatamente após o cessar fogo no mesmo local, em sítio próprio a antena do AN 6RC9, afim de se tentar o mais rapidamente possível conseguir a evacuação heli-transportada dos feridos. Como esta tentativa foi em vão a coluna regressou cerca de 500metros até à clareira onde conseguiu pelas 16h30 entrar em comunicação rádio na rede cortiço e pedir dois helicópteros. Aqui mesmo se iniciou a montagem do dispositivo de segurança, para a companhia pernoitar. Como se fizesse noite sem que os helis chegassem, procedeu-se à montagem do dispositivo de segurança para ali se pernoitar.

Dia 30 de Agosto de 1966 (Dia D-4 da 2a. fase da operação ciclone)

Pelas 6h chegaram ao local onde a companhia havia pernoitado os 2 helis anteriormente solicitados, que transportaram para o LUSO os feridos e o morto da acção do dia anterior. Cerca das 6h30 a coluna iniciou a sua marcha regressando ao quimbo NHANULOMBO e tomando c/ o itinerário que segue até ao rio MUALOGE.
Em virtude do pontão sobre este rio se apresentar em mau estado de conservação, o pel. Sap. B. Cav. 745 iniciou pelas 8h a sua reparação, a qual terminou cerca das 11h porém só dando passagem às viaturas tipo Unimog. Assim, com a finalidade de se montar uma segurança àquele pontão ficaram no rio MUALOGE 2 equipas do 4º grupo reforçadas com todos os elementos que formavam o batalhão de sapadores. A restante companhia seguiu para o soba TONGO e Sakakeia. Perto deste soba consentido que o IN se instalasse na sua região. A coluna regressou ao rio MUALOGE pelas 16h30, depois de ter batido igualmente a região do soba SAKAKEIA.
Entretanto, pelas 15h, um elemento apareceu da mata, á margem esquerda do rio onde o 4º grupo e o pelotão de Sap. Se encontravam emboscados, dirigindo-se para o rio. Ao notar o movimento de envolvimento das NT, aquele elemento abandonou precipitadamente a bicicleta que trazia e iniciou a fuga em direcção ao rio, onde foi capturado por um soldado do pel. Sap. /BCAV 745. Do interrogatório efectuado consta do respectivo relatório.
A Companhia depois de montar o dispositivo de segurança, pernoitou junto à margem do rio acima mencionado.

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Dia 31 de Agosto 66 - (Dia D+5 da 2a. fase da operação Ciclone)

Pelas 7h a coluna pôs-se em marcha, regressando à sua base, pelo mesmo itinerário que havia tomado à ida.
Conforme ordens recebidas, aproveitou a companhia o seu regresso para queimar todos os quimbos ao seu alcance.
Sem quaisquer outros factos que mereçam atenção a coluna poucos obstáculos encontrou no seu regresso.
Cerca das 16h, a base em LUMBALA.
Diário da 1ª Ca. de Comandos. Lúcio Lara escreveu «Apanhado a 19 de Setembro de 1966 sobre o corpo do alferes Rui Pereira Agostinho morto pelos guerrilheiros do MPLA, em combate»
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