Carta de Lúcio Lara ao Comité Director do MPLA

Cota
0087.000.029
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel Comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Comité Director do MPLA
Locais
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
3
L. Lara
Camillo Sitteweg, 69
6000 FRANKFURT/MAIN 24

Genève, 21 de Outubro de 1966

Ao COMITÉ DIRECTOR DO MPLA
Brazzaville

Caros Camaradas

1- Creio ter-vos comunicado de Paris qual tinha sido a minha maior preocupação ali, que se traduziu em tatear em vários sectores ligados à UNESCO qual a hipótese de que esta organização viesse a participar efectivamente na execução da resolução 1808 sobre a qual fizemos em 5 de Fevereiro um ligeiro memorando ao N. Rifai, Director adjunto do Departamento das N.U. para os territórios sob administração portuguesa. Devo dizer-vos que tenho em meu poder a cópia de uma carta deste senhor para o Acting Director General da Unesco, em que ele defende os pontos de vista que nos apresentamos nesse memorandum, o que demonstra que a coisa não caiu em saco roto. Isso tudo deu origem a uma série de consultas entre Rifai, Unesco e HCNUR que entraram numa fase interessante, em que o HCNUR pretende criar um FUNDO DE EDUCAÇÃO para os refugiados da África meridional, o que deve ser feito no decurso da reunião do próximo Comité Executivo (princípios de Nov.)
2- Depois das informações e dos documentos que me foram facultados pelo PA em casa de quem me encontro, achei que era oportuno intervir já aqui, antes que as coisas avancem muito, para tentar que eles tenham em consideração a opinião dos movimentos de libertação e em particular a nossa.
Nesse sentido redigi um ponto de vista, dentro do espírito que temos defendido e entreguei-o pessoalmente a um dos membros do Alto Comissariado para os Refugiados, com quem estive a discutir cerca de hora e meia sobre os diferentes problemas focados nesse ponto de vista e principalmente sobre: 1- a necessidade de serem ouvidos (se possível oficialmente) os movimentos de libertação; 2- dos inconvenientes da tese defendida em toda a sua actividade pelo alto comissariado de integração do refugiado no país hospede. Não chegamos a acordo nesse sentido, mas pelo que ele expôs será possível talvez encontrar um meio termo. Vou tentar fazer um resumo da discussão para vos enviar depois.
3- Enviei o Memorando, digo o ponto de vista às seguintes entidades: Comité Director, Alto Comissariado dos Refugiados e M. Koulischer seu colaborador c/ quem discuti, Director geral da Unesco e dois colaboradores com quem discuti, Najmuddine Rifai (director adjunto da IV Comissão), Moahmed Sahnoun da OUA - que é o encarregado das questões dos refugiados na OUA, Maurice Gastaud, CONCP e Moussali (do alto Comissariado em Addis Abeba).
4- Peço-vos que me enviem para Francfort toda a documentação, nomeadamente as informações oficiais da Presidência.
5- Pelo Monde tive conhecimento de um acordo no Cairo, entre o MPLA e grae. Agradeço que me enviem esclarecimentos a esse respeito.
6- Em Paris estive na embaixada do Congo, por causa do visa para a Suíça. Lá encontrei o Matingou que me informou das démarches que o casal Zanotti tem feito perto da Embaixada, da JMNR dai etc, etc, para ir para Brazza. Segundo ele eles teriam dito que tinham o acordo do MPLA, mas quando ele lhes pediu um documento nesse sentido não lhe deram. Ainda segundo ele esse casal está ao serviço da PIDE, e é suspeito para a própria polícia francesa. De resto esse casal infiltrou-se por toda a parte. Deixei aos camaradas instruções no sentido de os bloquearem, mesmo se para isso for preciso deixar cair completamente o dito Comité de Soutien, que não me parece ser mais do que um excelente instrumento para todos as policias de controlarem a nossa actividade.
Continuarei esta carta depois, já que tenho de ir já para o Correio.
Até já pois.

Saudações revolucionárias do
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Carta de Lúcio Lara (Genebra) ao Comité Director do MPLA
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