Carta de Luís de Almeida ao Comité Director do MPLA

Alger, 26 de Outubro de 1966

Ao Comité Director do MPLA

Camaradas Dirigentes,

Acuso recepção de v/ carta de 14 de corrente mês, Ref: 653/3/66, assinado pelo Presidente do MPLA.

Transferência para o Cairo:

Informo a Direcção do MPLA sobre as démarches efectuadas respeitante a este doloroso problema. Doloroso porque sinto que é uso, em Brazzaville e nos meios dirigentes do MPLA, pensar-se e dizer-se que a minha presença em Alger é «obra» minha, resulta dum meu «interesse pessoal». Considero-o como infudamentada e injusta!

Para que esta situação não continue tenho a recordar aos Dirigentes do MPLA a seguinte correspondência:

a) Carta endereçada ao camarada Paulo Jorge - de que a direcção do MPLA possui cópia - de 13 de Agosto de 1966.
b) Carta de 13 de Setembro 1966
c) Carta de 4 de Outubro de 1966
d) Carta de 21 de Outubro de 1966
e) Carta de 26 de Outubro de 1966.

Agradeço pois à direcção do MPLA que se informe junto do Camarada Paulo Jorge sobre a veracidade do que digo. Em todo o caso estarei igualmente pronto a enviar, se o acharem necessário, fotocópias dessas cartas.

2. Recordo igualmente a direcção do MPLA - de que enviei igualmente copia - que a 18 de Março de 1966 havia escrito uma carta ao Secretario Geral da Organização de Solidariedade Afro-asiática a solicitar os bilhetes.
Em data de 28 de Março de 1966 essa mesma Organização me havia respondido informando que enquanto não tivessem recebido resposta a uma carta dirigida ao Presidente do MPLA, Dr. Agostinho Neto, onde solicitavam a prorrogação do mandato do Camarada BAYA, eles não poderiam considerar o problema do envio de bilhetes. Esta carta era assinada pelo Secretário Geral dessa Organização Sr. Youssef El-Sebar.

3. As démarches que efectuei não resultaram. Contactei certos amigos cuja resposta não foi positiva. Não contactei, certamente, os Representantes do país onde está o Camarada Fernando Paiva, pelas razões fáceis de adivinhar. Não achei por minha parte digno de ir solicitar ajuda aos que sempre tudo fizeram - com resultado - por impedir que fosses ocupar um lugar na Organização Afro-asiática de solidariedade dos povos. O contrário não seria justo, em todo o caso, não o faria nunca. E com sinceridade e honestidade que caracterizam toda a minha acção, enquanto esses Camaradas não justificarem concretamente as razões que os levaram a esta ingerência nos nossos assuntos, não poderei nunca aceitar de bom gré toda e qualquer manifestação de simpatia a seu respeito.
Aceitem as minhas saudações de militante.

*[Rubricado]
Luis d’Almeida.