Carta da Presidência do MPLA a Lúcio Lara

Cota
0087.000.081
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel Comum
Remetente
Henrique Carreira «Iko»
Destinatário
Lúcio Lara
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Brazzaville, 18 de Novembro de 1966

Ao Camarada Lúcio LARA

Departamento de: PRESIDÊNCIA 731/197/66

Caro camarada:
Em nosso poder as tuas cartas de 21 e 28 de Outubro, assim como os documentos que a acompanham (Point de vue du MPLA; cópias das cartas ao Príncipe Aga Kharu, a Reve Mahen, a Rifai, a Gastand, a Mostefaoui, a Gahnonn, a Adiseshsiade assim como as cartas de António Neto).

Segundo as últimas informações, o problema da tua viagem para Moscovo já foi resolvido e o bilhete pode ser levantado imediatamente na Embaixada Soviética em Bonn.

Nós tínhamos pensado que uma vez que te encontravas na Europa e em contacto com dirigentes do PCF, poderias encetar diligências no sentido de se obter bilhete para o Rui de Matos. A tua opinião de se enviar uma credencial ao Rui de Matos para ele próprio pedir o bilhete, não parece ser a mais aconselhável, até porque nestes assuntos, as organizações como o PCF são bastante exigentes. Parece-nos, no entanto, que o Belo conseguiu um bilhete por intermédio da UIE.

Além da informação que nos enviaste sobre a manobra do Matingou, recebemos também uma carta do Octávio referindo o mesmo assunto. Faremos um ofício ao “Bureau Politique do MNR” focando esse cínico trabalho de sabotagem.

Faremos também um primeiro contacto com as autoridades do Congo-Brazzaville no sentido de as interessar pela ajuda que o HCR pode fornecer aos Refugiados angolanos. Seria bom que mantivesses os contactos já estabelecidos.

Quanto à ajuda que o editor Nils Anderson pode prestar à nossa Organização seria bom concretizar já o problema da edição do postal --- cujo tema poderia ser uma das fotografias dos nossos Combatentes ou um retrato que encomendaste ao Rui de Matos. Esperamos que nos envies o plano da brochura a tempo, pois aproxima-se a data do aniversário da nossa Organização.

Comunicamos ao Castro Lopo assim como a todos os candidatos a militantes que os seus pedidos seriam satisfeitos desde que estivessem prontos a seguir para um campo de treino militar. Só depois do treino militar poderão aos quadros serem distribuídas tarefas.

O problema do pagamento do teu bilhete de ida será discutido em reunião da Direcção.

Temos tido uma grande dificuldade em despachar a correspondência, porque atravessamos neste momento uma grave crise financeira. As nossas actividades estão semi-paralizadas por falta de fundos.

O Esquadrão Cienfuegos chegou em boas condições à Zona de resistência de Dembos e Nambuangongo e já enviou os primeiros estafetas. As últimas informações referem-se a uma grande reunião convocada pelos nossos responsáveis no sentido de se fazer a unificação das forças no interior. O Panzo da Glória parece ter-se submetido e o António Fernandes veio a Kinshasa para se aconselhar.

A comissão parlamentar que contactou com a nossa Direcção aqui em Brazzaville já foi a Kinkuzu para ver os presos. Segundo informações suas, estão todos em vida. A solução do problema angolano será discutida no fim desta semana no Parlamento congolês. Entretanto as prisões pararam e as autoridades publicaram vários avisos como protecção às nossas residências em Kinshasa.

Em Kalunga encontra-se um esquadrão que está a ser treinado pelos «hermanos» e que se destina, na sua maior parte, à 1ª Região.

Foi assinado um acordo tático entre o M.P.L.A. e o grae confirmado na conferência de Chefes de Estado, mas cujas cláusulas não foram ainda cumpridas pelo grae; os nossos militantes continuam presos e a propaganda anti-MPLA não terminou.

Recomeçou o programa da rádio Kinshasa do grae, transmitido as terças e sábados pelas 20,30h. É uma autêntica imitação do nosso programa e até as palavras de Ordem são copiadas.

Junto enviamos os últimos documentos publicados.

O camarada Neto que participou na conferência de Chefe de Estado em Adis Abeba, assiste neste momento ao congresso do P C Búlgaro e ficará ausente da Sede cerca de mês e meio.

Seria bom que estudasses as possibilidades de angariamento de fundos para a nossa Organização na Europa Ocidental.

Junto enviamos também dois documentos da OSPAAAL sobre quadros.

Desejando-te rápidas melhoras, aceite as nossas saudações fraternais e revolucionárias.

VITÓRIA OUMORTE
PELO COMITÉ DIRECTOR
H. Carreira

*[Manuscrito: “ ET: Foi aberto oficialmente em Ponta Negra um Bureau do Comité Revolucionário do Enclave de Cabinda (CREC) cujo responsável máximo é um tal NZITA e onde se encontram Cruz etc.
Carta da Presidência do MPLA a Lúcio Lara, assinado Iko Carreira (Presidência 731/197/66) (Brazzaville)
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