Texto sobre Concepções ideológicas no seio do MPLA

Cota
0088.000.025
Tipologia
Texto de Análise
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Autor
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
Data
1966 (estimada)
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
3

*[Manuscrito canto superior esquerdo: “data 1966?”]

CONCEPÇÕES IDEOLÓGICAS NO SEIO DO MPLA.

O MPLA tem o carácter de uma frente única. Nela militam Angolanos vindos de diferentes regiões e das mais diversas origens sociais. Uns são do norte, outros do centro, outros do sul, uns são camponeses, outros pequenos burgueses, etc.

Por essa razão, na nossa organização manifesta diferentes ideias, diferentes concepções da maneira como se deve fazer a revolução, do seu carácter e dos seus objectivos. Todas essas ideias dependem principalmente e em grande parte das condições da vida que vivíamos, das classes de que somos originários.
E entre essas ideias há uma luta, a luta ideológica.
Vejamos outro problema: quando uma classe atingiu já um relativo estádio de madureza no seu desenvolvimento, entre os membros que a forma, nasce uma solidariedade de classe. Os membros duma classe lutam juntos pela realização dos seus interesses de classe. E quais são esses interesses? Esses interesses são a tomada do poder político, e a organização consoante os seus interesses e conveniências, a elevação da sua classe a um nível económico superior.
E com este objectivo, os membros duma classe usam particularmente a arma ideológica, tentam fazer com que as suas concepções são dominantes.
É esta a razão da luta ideológica.
No nosso Movimento também se processa uma luta ideológica. Luta de linhas entre a linha correcta e a linha errada, luta entre as diferentes concepções ideológicas. Esta luta como podemos ver é pois reflexo da composição social do nosso MPLA. E o objectivo desta luta é a tomada do poder, o controle da direcção política que permitirá orientar a Revolução no sentido da satisfação dos interesses da classe.
Vejamos algumas concepções ideológicas:
Camponeses
Os camponeses constituem a maior parte da população do nosso país (cerca de 90%). Vivem no sector tribal e tradicional. No nosso país, são normalmente pequenos proprietários de pequenas lavras, são explorados na esfera da circulação, isto é quando compram e vendem os seus produtos e também no pagamento de impostos.
Devido à dispersão em que vivem manifestam um sentimento particularista (tribal e regionalista). Tem tendência a considerar em primeiro lugar a situação do seu lugar ou região e só depois a situação nacional. Por exemplo, alguns guerrilheiros recusam-se a lutar noutras regiões, que não as suas de origem.
Devido ao carácter conservador e atrasado das suas relações sociais manifestam concepções do mundo atrasado (feitiços, etc).
Manifestam um espírito de igualitarismo absoluto a propósito de tudo (tu tens uma farda, eu também tenho que ter).
Manifestam espírito de pequeno burguês de propriedade da terra e aspiram a elevar-se a situação de pequena burguesia rural.
Pequena Burguesia
É constituída por pequenos comerciantes, pequenos proprietários, empregados e funcionários, estudantes, membros das profissões liberais, etc.
Há a distinguir no seio da pequena burguesia, a rural e a urbana.
Duma maneira geral, toda pequena burguesia aspira ao poder. Ela acha que ela é que deve dirigir o Movimento de Libertação nacional. Mas entre os seus diferentes sectores, manifesta-se uma luta pelo poder.
A pequena burguesia rural é constituída por pequenos proprietários agrícolas, membros das chamadas burocracias tribais, agentes comerciais, pequenos funcionários das Administrações locais, membros das profissões liberais (professores, enfermeiros) agentes religiosas (pastores guias de classes).
Este sector aspira fortemente no poder e aspira ainda ver se elevada situação da burguesia média. Tem tendências para o luxo (bebidas, mulheres e carros).
Alguns dos seus mais oportunistas representantes desenvolvem concepções e teorias altamente prejudiciais a luta: Por exemplo para chegar ao poder servem-se do tribalismo e regionalismo e mesmo do racismo (Não porque eles sejam tribalistas ou racistas, mas sim porque aproveitando a ignorância da massas, podem arrastá-las), proclamam-se representantes desta ou daquela tribo, dizem que são filhos e representantes do povo e que os outros o não são, lançam campanhas contra os intelectuais (todos os intelectuais não valem nada, são uma cambada de teóricos), dizem que são os camponeses que devem dirigir a luta mas quando dizem isso só pensam em si próprio e não nos camponeses.

A pequena burguesia urbana e os intelectuais pequenos burgueses aspiram também fortemente ao poder e disputam-no com a pequena burguesia rural. Os seus elementos mais oportunistas manifestam também uma grande tendência para a situação burguesia média. Manifestam os vícios do liberalismo (não criticam ninguém e querem estar bem com toda a gente), do populismo (gostam de ter admiradores) e para mostrar a sua dedicação a causa popular são capazes de promover os elementos mais incapazes aos cargos mais importantes, sabendo de antemão que eles não serão capazes de cumprir essas tarefas.
São individualistas e muitas vezes não são capazes de acompanhar a revolução até ao fim.
Na luta pelo poder usam como arma a sua instrução e cultura. (somos nós que devemos dirigir a luta, os outros são uma cambada de ignorantes). Proletariado a nossa classe operária é jovem. Ainda não manifestou suficiente consciência de classe e está marcada ainda pelo espírito tribal e regional.
É a classe mais decidida, organizada e disciplinada. Não manifesta aspirações nenhumas a não ser a libertação do país e a realização da revolução. É a força motriz principal e é ela que deve dirigir a revolução.
Os intelectuais revolucionários devem ligar-se estreitamente à classe operárias, assimilar a sua ideologia, servir com dedicação a sua causa.
O Lúmpen-proletariado
A situação de colónia, o processo de urbanização anárquico deu lugar em Angola ao aparecimento duma multidão de desempregados, no campo e nas cidades. Sendo-lhes recusados os meios de levar uma vida honesta, muitos deles veem-se forçados a recorrer [a] meios ilegais, entregando-se ao roubo, banditismo, prostituição, assim como à exploração profissional da superstição (feitiço). Essa camada social é instável. Enquanto alguns se mostram capazes de trabalhar a soldo das forças reacionárias (cipaios polícias indicadores da Pide), outros são susceptíveis de aderir a revolução. Tais indivíduos não tem o espírito constructivos, são mais aptos a destruir do que a construir. Quando intervêm na revolução, convertem-se em fonte da mentalidade de bando rebelde errante e anarquismo no interior das fileiras revolucionárias, razão porque precisamos de saber remodelá-los guardando-nos contra os seus espíritos destrutivo.
Vimos algumas das concepções ideológicas reinantes no nosso seio. A nossa tarefa é combater esses concepções, liquida-las pela raiz.
Devemos realizar a formação ideológica de todos os militantes. Que significa isso? Significa, educar todos os militantes no espírito da ideologia proletária, fazer com que todos assimilem essa ideologia. Fazer com que os Marxismo Leninismo seja a bússola que conduz o nosso comportamento, que seja a ideologia proletária a ideologia dirigente, que seja ela que inspira a elaboração da linha geral da revolução.

Texto do MPLA «Concepções ideológicas no seio do MPLA».

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.