Texto de Angola Combatente «As ilusões do Estado-maior português»

Cota
0092.000.001
Tipologia
Texto de Análise
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel Comum
Autor
MPLA «Angola Combatente»
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
3
*[Manuscrito: “2/4/67”]

AS ILUSÕES DO ESTADO MAIOR PORTUGUÊS

Os guerrilheiros do MPLA que se batem nas regiões dos BUNDAS e do MOXICO, na frente oriental, são agora o alvo da chamada guerra psicológica do exército colonialista português. A razão é que a guerra de libertação se está desenvolvendo intensamente naquelas regiões, onde a adesão popular tem sido entusiástica. Os processos utilizados pelo inimigo nessa guerra psicológica são simplesmente ridículos e têm constituído um excelente estímulo para os combatentes, que se deliciam com a prosa dos documentos que o inimigo espalha pelos caminhos onde conta que os nossos guerrilheiros passarão. O mesmo acontece também na região de Cabinda, onde as árvores são utilizadas pelos nossos guerrilheiros para escreverem ou palavras de ordem ou palavras de desafio à soldadesca colonialista. Acontece mesmo que os soldados portugueses com raiva apontem um tiro de Bazooka contra as árvores em que estão afixadas as palavras dos nossos guerrilheiros.
Vejamos, no entanto, a prosa com que o inimigo pretende desmobilizar os patriotas angolanos. Um dos papéis diz:
AO MPLA: NUNCA TE DEIXAREMOS DESCANSADO MESMO NA MATA. POR OUTRO LADO O TEU CAMARADA-CHEFE EMPURRA-TE PARA A MORTE. ABANDONA O CAMARADA-CHEFE. APRESENTA-TE A TROPA. LÊ ESTE PAPEL DEITA-O FORA. REPARA COMO O CAMARADA-CHEFE DESCONFIA DE TI. SÓ DIZ QUE MATA QUE CASTIGA. DISSERAM-VOS QUE NÓS LUTAMOS POR UM GOVERNO. MENTIRAM PORQUE LUTAMOS POR UMA PÁTRIA UNA, PLURIRACIAL E MULTICONTINENTAL. OS GOVERNOS MUDAM AS PÁTRIAS NÃO MUDAM. Vejamos ainda um outro panfleto do inimigo: AO MPLA: ESTÁS DOENTE? PODES CURAR-TE. MAS SE A DOENÇA FOR GRAVE QUEM TE TRATA? SE FORES FERIDO COM GRAVIDADE SÓ TE RESTA MORRER LENTAMENTE. PENSA BEM NA CONDENAÇÃO A QUE TE CONDUZIU O TEU CAMARADA-CHEFE. TENS OS DIAS CONTADOS OU PELA DOENÇA OU POR UM TIRO. REPARA QUE DISTÂNCIA TENS O HOSPITAL E O MÉDICO CIRÚRGICO? SÓ TE RESTA VIRES ATÉ NÓS QUE TE RECEBEREMOS. REPARA COMO TENS SIDO ENGANADO; DISSERAM-TE QUE IAS ESTUDAR PARA UMA ESCOLA DE LÍNGUAS, O QUE TE ENSINARAM NA TANZÂNIA?…

Realmente é preciso ser-se mentecapto, ou não possuir a menor ideia sobre as legítimas aspirações que os povos têm em todo o mundo do viverem livres, para se pensar que com tais idiotices se desmobiliza um patriota. Como resposta, cite-se um período de uma carta de um guerrilheiro em acção justamente onde aqueles panfletos são espalhados.
Diz o nosso camarada: A NOSSA LUTA AQUI, AFORA CERTAS FALHAS, TEM PROGREDIDO CONSIDERAVELMENTE. DEMOS PASSOS LARGOS. OS TUGAS *[ilegível] AGORA COM MEDO E RESPEITO. A POPULAÇÃO ADERE EM MASSA À LUTA DIRIGIDA PELO MPLA. E ESSE TEM SIDO UM DOS NOSSOS MAIORES PROBLEMAS: MATAS POBRES, COMO ESCONDER TANTA GENTE? COMO ASSISTIR A TODAS AS SUAS NECESSIDADES? SOMENTE A FÉ QUE TODOS TÊM NA VITÓRIA AJUDA A RESOLVER ESSES GRANDES PROBLEMAS E TODOS ENCARAM AS DIFICULDADES COM GRANDE CORAGEM SÓ PENSANDO EM QUE É PRECISO DAR COMBATE E INTENSIFICAR A LUTA CONTRA O INIMIGO.
Estas palavras, na sua simplicidade, servirão para tirar todas as ilusões aos responsáveis portugueses da guerra psicológica.
Faltando-lhes novos argumentos, os colonialistas falam agora de uma “pátria una, pluriracial e - imagine-se - multicontinental”. Palavras ocas que ninguém entende e que os arautos da política colonial portuguesa continuam a espalhar pelas assembleias que ainda têm paciência para os escutar. Quanto a nós, patriotas angolanos, a nossa resposta está na ponta das armas. Será graças a elas que os colonialistas portugueses compreenderão finalmente que todas as suas pretensões em África estão condenadas e que o melhor que têm a fazer é empregarem as enormes somas que gastam com a guerra colonial, em valorizarem a economia de Portugal, de modo a que o seu país possa substituir sem necessidade de espoliar os nossos povos.
Sem deixar de intensificar a luta armada, o MPLA nunca se cansará de apelar para a consciência do povo português, para que ponha cobro a esta situação de ter um governo que leva o seu país a ruína e ao descalabro moral. Os soldados portugueses, filhos do povo português, estão tingindo as suas mãos de sangue inocente, estão-se tornando vulgares assassinos, e quando saírem desta guerra não serão capazes de se reintegrar nas actividades pacíficas do seu país. Eles voltarão para os seus lares e sentir-se-ão deslocados no seio das suas famílias, eles não se adaptarão aos empregos que encontraram, e constituirão um exército de inadaptados, com propensão para o crime, para a vadiagem, tornando ainda mais aguda a crise social em que há dezenas de anos vive mergulhando o povo português. Soldado português, nós não te queremos mal. Se tombas com as nossas balas, se cais nas nossas emboscadas, se saltas com as nossas minas, isso é apenas porque nós queremos liquidar a opressão de que o nosso povo é vítima por parte do teu povo. Hoje *[ilegível] que conheces as matas de Angola e as suas gentes e os guerrilheiros *[ilegível] MPLA, tu não podes com certeza acreditar na tal pátria multicontinental com que te enchem os ouvidos. POVO PORTUGUÊS, SOLDADOS PORTUGUESES. *[ilegível] É TEMPO QUE ACABEIS COM A GUERRA COLONIAL PARA O VOSSO BEM. *[ilegível]
DO VOSSO PAÍS; NÓS, GUERRILHEIROS DO MPLA VENCEREMOS A *[ilegível]



NOTICIÁRIO

FRENTE LESTE
Notícias só agora chegadas da frente leste informam-nos de que:
A 24 do Janeiro pelas 16h30, um grupo de guerrilheiros do MPLA atacou três casas secretas da PIDE em MBINGA, próximo de Teixeira de Souza. Os ocupantes das casas foram liquidados, capturando-se 3 armas, finas, uma caçadeira, dois rádios etc.
A 15 de Fevereiro pelas 19h, um grupo de soldados inimigos guiado por um traidor angolano, tentou cercar um grupo de reconhecimento do MPLA que operava, próximo de BUNDAS (Gago Coutinho). O nosso grupo de reconhecimento preferiu não responder imediatamente ao intenso fogo do inimigo. Encorajados pelo silêncio dos nossos, o inimigo tentou penetrar na mata. Nessa altura os nossos guerrilheiros abriram fogo, matando três soldados portugueses, tendo os restantes conseguido pôr-se a salvo.

A 20 de Fevereiro uma outra casa da PIDE foi atacada, e o seu residente liquidado, juntamente com dois agentes angolanos. Entre outras coisas recuperou-se uma arma em e uma pistola.

FRENTE DE CABINDA
Numa das bases da frente de Cabinda deu-se um encontro entre responsáveis de 1ª a 2ª regiões. Os responsáveis da Frente do Cuanza-Norte fizeram depois um relato circunstanciado a todos os guerrilheiros, sobre a forma como decorriam a luta nos Dembos e em Nambuangongo.

DE LISBOA

Encontra-se neste momento reunido o chamado “CONSELHO ULTRAMARINO” que está estudando as futuras reformas administrativas na Guiné, Angola, Moçambique e São Tomé.

Uma nova manifestação de histeria coletiva deve se desenrolar em Lisboa, sob a orientação do DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Desta vez é contra a SUÉCIA pelo facto de alguns ministros desse país se terem pronunciado violentamente contra a política colonial portuguesa *[Manuscrito: “e afirmarem estarem dispostos a ajudar moral e materialmente os movimentos de libertação de Angola, Moçambique e Guiné.”]
Texto de Angola Combatente «As ilusões do Estado-maior português» (Brazzaville)
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