Texto de Angola Combatente «É o seguinte o texto de um apelo…»

Cota
0092.000.011
Tipologia
Texto de Análise
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel Comum
Autor
MPLA «Angola Combatente»
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
4
É o seguinte o texto de um apelo enviado pelo MPLA ao General MOBUTU, presidente da República do Congo: Excelência, Já tivemos a oportunidade de vos informarmos de um grande número de actos criminosos cometidos contra patriotas angolanos por alguns angolanos desvairados, no território do vosso País, com um total desprezo pela hospitalidade fraternal do vosso povo e pela soberania da República Democrática do Congo. Sem contar com o que se passou antes de terdes assumido as altas responsabilidades de Chefe de Estado, contam-se por mais de vinte os golpes de mão praticados contra centenas de verdadeiros patriotas. Entre esses golpes de mão que têm provocado a indignação de todos os que dedicam à luta do nosso Povo uma simpatia activa, há dois que se tornaram tragicamente notados: Primeiro, foi o odioso massacre em Kamuna de 32 patriotas que acabavam de chegar a Angola para se treinarem militarmente nas fileiras do MPLA e sobre o qual as autoridades de Songololo possuem um macabro dossier. Em Segundo lugar foi o rapto de cinco raparigas que não tinham hesitado em pegar em armas para combater ao lado do seu Povo, quando regressavam de uma missão em Angola. Recentemente, em Kinshasa, os DEZ ESTADOS DA AFRICA MERIDIONAL E ORIENTAL tiveram oportunidade de constatar a agressividade crescente das forças de opressão estacionadas na Rodésia, na África do Sul, no Sudoeste africano, em Moçambique e em Angola. Os Dez Chefes de Estado preocuparam-se com a ameaça permanente que representa a presença das forças colonialistas e racistas para a sua segurança e para a consolidação da sua independência. Os problemas dos movimentos de libertação também foram uma das preocupações dos Chefes de Estado, que se deram conta da dificuldade de resolver de fora as questões interiores dos nacionalistas de cada país. Em definitivo, há de ser a dinâmica do movimento de libertação em cada país que acabará por resolver as suas dificuldades internas. O único remédio actual parece ser um apoio imparcial e concreto da parte dos estados independentes de África a todas as organizações nacionalista que lutam efectivamente contra a opressão colonialista e racista, tal como foi decidido pela Organização da Unidade Africana. Isso permitiria a cada uma delas atacar-se na medida das suas possibilidades e das suas capacidades, aos opressores que não teriam assim nem ocasião nem a veleidade de lançar a confusão nos estados seus vizinhos. O MPLA, quanto a si, está consciente de que a intensificação das suas actividades militares contribui não somente para acelerar a independência de Angola, mas também para afastar qualquer pretensão colonialista de intromissão nos negócios internos dos Estados vizinhos de Angola, nomeadamente dos dois Congos e da Zâmbia. Por outro lado, o MPLA está certo de que a continuação das actividades criminosas de Angolanos desvairados às ordens de Holden Robert contra os patriotas em trânsito pelo Congo-Kinshasa, constituem um grave atentado contra a soberania e mesmo contra a estabilidade da República Democrática do Congo, que todos nós, Africanos conscientes, trazemos no coração. Senhor Presidente, nós gostaríamos de deixar aqui bem claro o seguinte: os homens e os meios não nos faltam para ripostar taco a taco aos crimes dessa gente. Duas razões nos impediram de até aqui de o fazer: uma, foi a esperança, que hoje já não temos, que esses transviados acabariam por se dar conta dos males incalculáveis que causam à luta de libertação nacional; outra é o facto que nós queremos respeitar a vossa soberania e evitar que o vosso país, já tão posto à prova, se torne o teatro de acontecimentos que prejudicariam toda a África e a reputação do nosso povo, que, ele, condena estes crimes sem qualquer equívoco. Senhor Presidente, estamos certos que ao ponto a que chegamos, só a sua intervenção pessoal poderá devolver a liberdade aos patriotas sequestrados, alguns dos quais - voltamos a sublinhar- estão em perigo iminente de vida. Só a sua intervenção pessoal, senhor presidente, poderá acabar com estes crimes de consequências tão graves para a vitória do nosso povo. Nós ainda esperamos, que o vosso governo decidirá de conceder ao MPLA liberdade de acção no Congo-Kinshasa, contribuindo assim para acelerar a libertação de Angola e a consolidação da independência dos Estados da África austral. Elevada Consideração O Comité director do MPLA CONHECE A HISTÓRIA DE ANGOLA Durante algumas semanas, em cada quarta-feira, ANGOLA COMBATENTE transmite um programa sobre História de Angola, no intuito de dar a cada patriota angolano conhecimentos que fortifiquem a sua consciência nacional e que lhe deem a certeza de que o nosso povo, como todos os povos do mundo também possui a sua história, as suas tradições e os seus heróis. Para melhor dominar, o colonialista português tentou destruir tudo o que os nossos antepassados nos legaram. Alguma coisa conseguiu, mas as tradições, a cultura e a história de um povo não são fáceis de destruir. Cabe-nos, como filhos conscientes de Angola, reavivar tudo aquilo que pode ajudar-nos a reconstruir o nosso país. (LER PAUSADAMENTE) Vamos dividir a história de Angola em 4 partes principais: A primeira parte tratará de uma maneira breve da origem e movimentações dos povos de Angola. Na segunda parte estudaremos os mais importantes reinos de Angola; Na terceira parte veremos os quatro períodos em que se divide a actividade colonial dos portugueses em Angola; Na quarta e última parte estudaremos a fase do nacionalismo organizado. O método que vamos utilizar é aquele que é aplicado nos cursos do nosso CENTRO DE INSTRUÇÃO REVOLUCIONÁRIA, vulgarmente conhecido pelo CIR. Vamos então entrar na primeira parte. Como dissemos, veremos aqui alguma coisa sobre a origem e as movimentações dos povos de Angola. Em Angola encontramos povos que não vieram todos dos mesmos sítios. É fácil percebermos isso se virmos que nem todos falam a mesma língua, que há diferenças entre alguns costumes. Por exemplo uma mulher do Lubango, não se penteia da mesma maneira que uma mulher do Bembe, um homem do Bié gosta mais de funge de milho, enquanto um homem do Mayombe prefere a tshikuanga. Mesmo a maneira como se fazem os casamentos ou os enterros não são iguais em todos os sítios. Mas a maior parte das populações de Angola pertence a uma grande família africana a que pertencem também as populações dos Congos, Tanganyika, do Gabão, da Zâmbia, da África do Sul, de Moçambique. Dizemos que todos estes povos pertencem ao grupo Bantu. Os investigadores concluíram que os povos BANTU vieram da África Oriental, próximo do Equador, numa região a que se chama a região dos grandes lagos. Mas há em Angola povos que não são de origem bantu. É o caso de origem KHOI-KHOI e SAAN, ditos Hotentotes e Bosquímanes que são de origem pigmeia. Antes do século XIII um grupo de povos que viviam de caça estabeleceu-se na margem esquerda do rio ZAIRE. Tendo encontrado aí boas condições para se desenvolver, esse grupo foi-se organizando socialmente e constituiu o reino do Congo, que em breve se tornou poderoso; depois de organizado o reino do Congo dominou certos povos vizinhos, obrigando-os a pagar tributo à coroa do Congo. Durante um certo período a unidade entre o reino do Congo e os povos que lhe pagavam tributo manteve-se, até que pouco a pouco começou a desintegrar-se, politicamente. Por volta de 1550 os reinos do Lwango e Ngoyo separaram-se do reino do Congo. Cerca de 1570 os Jagas (cuja origem não está ainda bem determinada) invadem o reino do Congo, e obrigam o rei a refugiar-se numa das ilhas do Zaire. O rei do Congo consegue depois com auxílio dos portugueses expulsá-los do Congo; os Jagas fixaram-se no norte de Angola, integrados no grupo Kikongo. Ao mesmo tempo que se dava a decadência do reino do Congo, aumentava a importância dos reinos de Lwango, de Ngola e Lunda. Os domínios do reino da Lunda estendiam-se pela margem direita do rio KASSAI, embora a sua influência atingisse também a margem esquerda. Nos arredores do reino da Lunda havia várias grandes tribus que pagavam tributo á coroa da Lunda; eram por exemplo a tribu Tshokwe, Minungu e Luena. Mais tarde estes povos entraram em dissidência com o reino da Lunda, deslocam-se para a costa e vêm instalar-se mais a sul. Os historiadores pensam também que os NGANGUELAS são originários das anharas da Rodésia e vieram estabelecer-se na margem esquerda do rio Cunene, ao sul de Angola. Do outro lado do rio Cunene encontravam-se os Nianecas, que parece serem originários do sul de África. Na sua marcha para o Norte os Nianecas encontraram os OVIMBUNDU com quem se cruzaram. A tribu Kilengues, por exemplo, parece ser originária desse cruzamento, pois nela encontramos ramos de caracteres Nianecas e outros de carácter Ovimbundo. Na próxima quarta-feira iniciaremos o estudo dos reinos de Angola, começando por estudar o reino do Congo.
Texto do programa radiofónico do MPLA Angola Combatente «É o seguinte o texto de um apelo enviado pelo MPLA ao General MOBUTU, presidente da República do Congo…» (Brazzaville)
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