Cota
0098.000.019
Tipologia
Actas
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel Comum
Autor
Lúcio Lara e Luiz de Azevedo Júnior
Locais
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Fundo
REUNIÃO DE 24 DE NOVEMBRO, COM OS EMBAIXADORES DA RAU, MALI, ARGÉLIA E REPRESENTANTE DO GOVERNO DO CONGO-BRAZZAVILLE. BOUKULU, CHEFE DA DIVISÃO DA ÁFRICA DO MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS.
Abriu a sessão, o Embaixador da RAU, que começou por explicar ao Representante do Congo-Brazzaville, o carácter dessas reuniões, a segunda desse género, sendo a primeira assistida pelo Embaixador Itinerante à Presidência da República Eugène Mankou.
Em seguida foi explicado ao Representante do Congo-Brazzaville as razões fortes expostas pelo MPLA da não participação nessa reunião do Embaixador de Camarões.
Antes de abordar qualquer assunto, referente à primeira reunião, a reunião a palavra foi dada ao Representante do Congo-Brazzaville, a fim de dar uma ideia dos resultados da Comissão ad-hoc da OUA, encarregada de solucionar o “Problema dos Mercenários” no Congo-Kinshasa, na qual o Congo-Brazzaville participou.
O Representante do Congo-Brazzaville informou em seguida o seguinte:
“Após à conclusão dos trabalhos dessa Comissão, num encontro que a Comissão teve com o Presidente Mobutu, o Presidente da Comissão, Ministro dos Negócios Estrangeiros de Sudão, felicitou-se em nome da Comissão, pelos resultados positivos obtidos.
Analisando, entretanto, o problema no seu contexto completo, salientou que só o desenvolvimento da luta em Angola, pelos Movimentos de Libertação, poderia contribuir para uma solução definitiva, considerando que Angola e a Rodésia de Smith, constituem actualmente os terrenos de estacionamento e de preparação dos mercenários, com possibilidades de novas agressões contra o Congo-Kinshasa.
O Presidente da Comissão ad-hoc, salientou as vantagens que adviriam para o Congo-Kinshasa, na Liberdade de Acção as duas organizações Nacionalistas Angolanas (six), para a solução definitiva do problema.
Em resposta, o Presidente Mobutu, tomou o compromisso de “honra” perante os membros da Comissão, declarando que iria pôr todo seu interesse sobre o problema, tentando duma maneira ou doutra uma solução que permitisse dar ao MPLA a Liberdade de Acção.
Afirmou ainda que se o Holden não “marchasse”, no sentido da Unidade (?), na eficácia das suas actividades (?), expulsá-lo-ia do território Congolês.
Há também a intenção de constituição de Comissões Inter-Ministeriais dos dois Congos, Negócios Estrangeiros e Interior, a fim de discutirem problemas do MPLA, antes dos trabalhos da Comissão da OUA, sobre a Unidade.
O Representante do Congo-Brazzaville, cujo ponto de vista coincide com o dos Embaixadores, sobre a táctica a seguir para pôr a menos em dúvida, a utilidade do “grae”, como instrumento válido ao Povo Angolano, (através da OUA), de acordo com o Ponto de Vista do MPLA, deveria criar-se duas Comissões paralelas, a primeira a Inter-Ministerial já citada, e a segunda na base dessas reuniões, tentando auscultar a opinião dos outros países progressistas, membros da Comissão da Unidade. Essa iniciativa permitiria concertarem as suas posições, constituindo uma maioria com decisões que fariam peso no relatório da Comissão, a apresentar ao Conselho de Ministros na próxima reunião em Lusaka.
Em seguida falou o Embaixador da RAU que declarou, o reconhecimento do “grae”, ter sido uma “mensonge”.
O Embaixador do Mali, depois de se ter referido ao relatório do Representante do Congo, salientou da necessidade de se dar prioridade a declaração do Presidente Mobutu, pedindo-o que façam démarches rápidas nesse sentido, para não deixar esfriar as coisas. Informou ainda que no dia 29 encontrar-se-ia com o Presidente Mobutu, a quem iria levar uma mensagem do seu Presidente e aproveitaria a oportunidade de pôr de novo a questão do MPLA.
Reiterou em seguida da necessidade de intensificarmos a nossa propaganda, em Conferências de Imprensa, envio de documentos aos países Africanos, contactos direitos, etc, etc.
A delegação do MPLA depois de pôr em relevo, as dificuldades materiais da Organização, mesmo no envio da correspondência, prometeu estudar conjuntamente esse problema, a fim de encontrar-se uma solução.
Insistiu também na necessidade de explorar o problema dos mercenários para fazer compreender a Mobutu que só o desenvolvimento da luta em Angola poderá eliminar o risco de infiltração de mercenários. Esse desenvolvimento não será possível sem que o Congo dê facilidades de transito ao MPLA e possibilidade de abrir outras frentes nos 2000 kms de fronteiras do Congo/Angola.
A delegação frisou também que embora esta via entre aberta pela exposição do Director da Division Afrique fosse de utilizar, não se devia pôr de lado o princípio defendido pelo MPLA na reunião anterior, da necessidade de destruir o mito do “grae”, que continua ainda fazer hesitar muitos países, mesmo os progressistas.
Nesse sentido apontava como tarefas fundamentais:
1- Encorajar as démarches para liberdade de trânsito encetadas pelo Congo-Brazza junto do Mobutu, não esquecendo os prisioneiros e as armas.
2- Continuar a campanha junto dos países progressistas no sentido de destruir o mito do “grae”, que a pesar como uma ameaça no nacionalismo angolano, pois em qualquer momento crítico pode ser atirado contra nós.
Nessa mesma reunião o Embaixador do Mali informou-nos ter-se encontrado ontem com o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Camarões apresentando-lhe as queixas do seu país contra o MPLA de quem se queixaria no próximo Conselho de Ministros e Sommet da OUA, pela colaboração e ajuda que fornece aos núcleos de subversão contra o seu país.
O Ministro Camaronês, manifestou, entretanto o desejo de contactar com a direcção do MPLA, sábado, dia 25. A delegação deu o seu acordo.
A margem desse assunto, num breve encontro que tivemos ontem, dia 23 com o Ministro Ganao, informou-nos que iria dia 24 a Kinshasa, assistir as festas que marcam o 2º aniversário do regime do Mobutu e se tivesse possibilidades de se encontrar com ele, levantaria o problema do MPLA – Liberdade de Acção, Libertação de prisioneiros e armamento.
Quanto as declarações de Mobutu, todos são cépticos. O Ministro Ganao com quem devemos nos encontrar amanhã para uma sessão de trabalho declarou ainda ter ouvido em Kinshasa que a autoridade do Holden em Kinshasa, ultrapassa a de muitos Ministros Congolês.
Brazzaville, 24 de Novembro de 1967
Pela Comissão
Lúcio Lara
E
Luiz de Azevedo Júnior
Abriu a sessão, o Embaixador da RAU, que começou por explicar ao Representante do Congo-Brazzaville, o carácter dessas reuniões, a segunda desse género, sendo a primeira assistida pelo Embaixador Itinerante à Presidência da República Eugène Mankou.
Em seguida foi explicado ao Representante do Congo-Brazzaville as razões fortes expostas pelo MPLA da não participação nessa reunião do Embaixador de Camarões.
Antes de abordar qualquer assunto, referente à primeira reunião, a reunião a palavra foi dada ao Representante do Congo-Brazzaville, a fim de dar uma ideia dos resultados da Comissão ad-hoc da OUA, encarregada de solucionar o “Problema dos Mercenários” no Congo-Kinshasa, na qual o Congo-Brazzaville participou.
O Representante do Congo-Brazzaville informou em seguida o seguinte:
“Após à conclusão dos trabalhos dessa Comissão, num encontro que a Comissão teve com o Presidente Mobutu, o Presidente da Comissão, Ministro dos Negócios Estrangeiros de Sudão, felicitou-se em nome da Comissão, pelos resultados positivos obtidos.
Analisando, entretanto, o problema no seu contexto completo, salientou que só o desenvolvimento da luta em Angola, pelos Movimentos de Libertação, poderia contribuir para uma solução definitiva, considerando que Angola e a Rodésia de Smith, constituem actualmente os terrenos de estacionamento e de preparação dos mercenários, com possibilidades de novas agressões contra o Congo-Kinshasa.
O Presidente da Comissão ad-hoc, salientou as vantagens que adviriam para o Congo-Kinshasa, na Liberdade de Acção as duas organizações Nacionalistas Angolanas (six), para a solução definitiva do problema.
Em resposta, o Presidente Mobutu, tomou o compromisso de “honra” perante os membros da Comissão, declarando que iria pôr todo seu interesse sobre o problema, tentando duma maneira ou doutra uma solução que permitisse dar ao MPLA a Liberdade de Acção.
Afirmou ainda que se o Holden não “marchasse”, no sentido da Unidade (?), na eficácia das suas actividades (?), expulsá-lo-ia do território Congolês.
Há também a intenção de constituição de Comissões Inter-Ministeriais dos dois Congos, Negócios Estrangeiros e Interior, a fim de discutirem problemas do MPLA, antes dos trabalhos da Comissão da OUA, sobre a Unidade.
O Representante do Congo-Brazzaville, cujo ponto de vista coincide com o dos Embaixadores, sobre a táctica a seguir para pôr a menos em dúvida, a utilidade do “grae”, como instrumento válido ao Povo Angolano, (através da OUA), de acordo com o Ponto de Vista do MPLA, deveria criar-se duas Comissões paralelas, a primeira a Inter-Ministerial já citada, e a segunda na base dessas reuniões, tentando auscultar a opinião dos outros países progressistas, membros da Comissão da Unidade. Essa iniciativa permitiria concertarem as suas posições, constituindo uma maioria com decisões que fariam peso no relatório da Comissão, a apresentar ao Conselho de Ministros na próxima reunião em Lusaka.
Em seguida falou o Embaixador da RAU que declarou, o reconhecimento do “grae”, ter sido uma “mensonge”.
O Embaixador do Mali, depois de se ter referido ao relatório do Representante do Congo, salientou da necessidade de se dar prioridade a declaração do Presidente Mobutu, pedindo-o que façam démarches rápidas nesse sentido, para não deixar esfriar as coisas. Informou ainda que no dia 29 encontrar-se-ia com o Presidente Mobutu, a quem iria levar uma mensagem do seu Presidente e aproveitaria a oportunidade de pôr de novo a questão do MPLA.
Reiterou em seguida da necessidade de intensificarmos a nossa propaganda, em Conferências de Imprensa, envio de documentos aos países Africanos, contactos direitos, etc, etc.
A delegação do MPLA depois de pôr em relevo, as dificuldades materiais da Organização, mesmo no envio da correspondência, prometeu estudar conjuntamente esse problema, a fim de encontrar-se uma solução.
Insistiu também na necessidade de explorar o problema dos mercenários para fazer compreender a Mobutu que só o desenvolvimento da luta em Angola poderá eliminar o risco de infiltração de mercenários. Esse desenvolvimento não será possível sem que o Congo dê facilidades de transito ao MPLA e possibilidade de abrir outras frentes nos 2000 kms de fronteiras do Congo/Angola.
A delegação frisou também que embora esta via entre aberta pela exposição do Director da Division Afrique fosse de utilizar, não se devia pôr de lado o princípio defendido pelo MPLA na reunião anterior, da necessidade de destruir o mito do “grae”, que continua ainda fazer hesitar muitos países, mesmo os progressistas.
Nesse sentido apontava como tarefas fundamentais:
1- Encorajar as démarches para liberdade de trânsito encetadas pelo Congo-Brazza junto do Mobutu, não esquecendo os prisioneiros e as armas.
2- Continuar a campanha junto dos países progressistas no sentido de destruir o mito do “grae”, que a pesar como uma ameaça no nacionalismo angolano, pois em qualquer momento crítico pode ser atirado contra nós.
Nessa mesma reunião o Embaixador do Mali informou-nos ter-se encontrado ontem com o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Camarões apresentando-lhe as queixas do seu país contra o MPLA de quem se queixaria no próximo Conselho de Ministros e Sommet da OUA, pela colaboração e ajuda que fornece aos núcleos de subversão contra o seu país.
O Ministro Camaronês, manifestou, entretanto o desejo de contactar com a direcção do MPLA, sábado, dia 25. A delegação deu o seu acordo.
A margem desse assunto, num breve encontro que tivemos ontem, dia 23 com o Ministro Ganao, informou-nos que iria dia 24 a Kinshasa, assistir as festas que marcam o 2º aniversário do regime do Mobutu e se tivesse possibilidades de se encontrar com ele, levantaria o problema do MPLA – Liberdade de Acção, Libertação de prisioneiros e armamento.
Quanto as declarações de Mobutu, todos são cépticos. O Ministro Ganao com quem devemos nos encontrar amanhã para uma sessão de trabalho declarou ainda ter ouvido em Kinshasa que a autoridade do Holden em Kinshasa, ultrapassa a de muitos Ministros Congolês.
Brazzaville, 24 de Novembro de 1967
Pela Comissão
Lúcio Lara
E
Luiz de Azevedo Júnior
«Reunião de 24 de Novembro, com os Embaixadores da RAU, Mali, Argélia e representantes do Governo do Congo-Brazzaville, Boukulu, Chefe da Divisão da África do Ministério dos Negócios Estrangeiros», assinado por Luiz de Azevedo Júnior e Lúcio Lara (Brazzaville).
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