Carta de Miranda Marcelino ao presidente do MPLA, Agostinho Neto

Cota
0103.000.006
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel Comum
Remetente
Miranda Marcelino
Destinatário
Agostinho Neto, Presidente do MPLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
1
*[Manuscrito: Deixado pelo Presidente 16/03/68] Brazzaville, 12 de Março de 1968 Ao Camarada Presidente do MPLA, Dr. AGOSTINHO NETO. Camarada Presidente, Antes de tudo peço ao Camarada Presidente, para que me releve quanto a ousadia de dirigir-lhe uma carta nestes termos e numa altura de preparação para uma longa e importante viagem. Desde 1958 que iniciei os trabalhos clandestinos e revolucionários, que conheci o prejuízo do angolano causado pelos colonialistas portugueses, prejuízo esse que não limitou somente no roubo e na matanças, mas inclui também a falta de visão cultural, principalmente às massas mais exploradas, onde me encontro envolvido. Desde que conheci esse grande erro cometido pelos colonialistas portugueses tenho aspirado contra os tais, preparando as massas para mais uma vez combaterem contra o opressor português. Tenho cumprido os meus deveres militantes, servindo sempre o Povo com um espírito revolucionário, obedecendo sempre as ordens dos meus Chefes na altura de sacrifícios nas grandes matas, ao lado do Povo, de 1961 a 1964. Temos encontrado grandes dificuldades na nossa luta por termos iniciado sem a mínima experiência da longa caminhada que levamos desde Fevereiro de 1961. Hoje, porém, estamos ganhando mais coragem e mais experiência na luta e na vida. - Apesar de permanecer longos anos na luta, na experiência como acima se disse, faltam-me elementos básicos para aguentar esta grande e importante responsabilidade e ser dirigente, quer dizer falta-me uma formação um pouco prolongada, pois se não fizermos os preparativos necessários e suficientes para repelirmos no seio das massas populares, os agentes do colonialismo e do imperialismo que diariamente procuram explorar para sempre o nosso povo, seremos reduzidos a uma posição passiva, quer com isto dizer que não teremos voz para os expulsar na nossa lavra, nas nossas minas, nos nossos diamantes, etc, etc, para combatermos esses diabos é preciso que tenhamos espíritos revolucionários e uma visão mais ou menos suficiente, desejo este do camarada Presidente AGOSTINHO NETO, de instruir todos os dirigentes da luta. Na fase actual da nossa luta não devemos vigiar somente à nossa frente, pois devemos também guardar a retaguarda fortemente com um espírito combativo e revolucionário. - Quero esclarecer ao camarada Presidente AGOSTINHO NETO, que não peço essa formação com muita urgência, pois compreendo a necessidade actual da Primeira Região, que tem sido para nós uma espinha na garganta e que este ano tem que encontrar solução (problema de abastecimento). Depois dessas operações, quer dizer, na época da abertura das aulas no estrangeiro, que tem sido a partir de Setembro de cada ano, é meu desejo que o camarada Presidente consiga uma bolsa para uma formação minha não de oito meses apenas, mas dentro das possibilidades da Organização para continuar lutar até à vitória. Para terminar, afirmo-lhe que mais uma vez revelo e deposito a minha inteira confiança em ti, como companheiro até ao fim. Miranda Marcelino, -membro do Comité Director- *[Assinado]
Carta de Miranda Marcelino ao presidente do MPLA, Agostinho Neto (Brazzaville)
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados