Cota
0103.000.034
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel Comum
Remetente
Alexandre Taty (Junta Militar)
Destinatário
CRC
Data
Idioma
Conservação
Bom
Fundo
N'Cuto, 4 de Abril de 1968
AO COMITÉ REVOLUCIONÁRIO DE CABINDA “C.R.C.” - PONTA NEGRA
Tomei conhecimento da carta que o C.R.C. endereçou ao Oficial do Exército Português, Sr. Major Matias, difundida em panfletos (Tractos).
O facto não surpreendeu ninguém nem causou aquela sensação que, como sempre, o N'zita, sonhou.
Os Portugueses, tem um rico dossier da vida política do actual Secretário Geral do C.R.C., desde Março de 1961, ano em que presidiu a primeira reunião, em Ponta-Negra, para decidir a sorte do Enclave, se havia de ser anexado ao Congo-Léo ou Congo Brazza.
O Governo português, tem bem anotado que o N'zita conseguiu nessa reunião o maior número de votos e que iniciou uma série de demarches políticas nesse sentido. Encostado ao Governo do Congo Central, N'zita publicou nos periódicos Congoleses, Courrier D'Afrique, Le Progrés e L'Etoile du Congo, um importante artigo para Cabinda fazer parte da Assembleia do Governo da província do Congo Central e entusiasmou esse governo a apoiar a sua ideia.
O resultado dessa guerra política foi nulo porque o Cabinda não é parvo.
Hoje e desde que o nosso Secretário geral do então C.A.U.N.C. - COMITÉ DA ACÇÃO DA UNIÃO NACIONAL DE CABINDA, do fundador do partido ALIAMA, colocando António Eduardo Sozinho, a frente do Secretariado dos BONS OFÍCIOS e presentemente Secretário Geral do C.R.C., que se instalou em Ponta-Negra, (presentemente) pretende rachar a cabeça de todos os cabindas para retirar dentro dessas cabeças a sua ideologia nacional e substitui-la pela doutrina do Presidente mau.
Daí os últimos insuflados por detrás, as ameaças etc, etc, e agora as cartas a Governadores e Majores de Portugal.
Além do caso das independências nada interessarem a oficiais do Exército, o gesto denotado total ausência de tacto político da parte do Sr. N'zita, que com esses “gestos” faz crer ao mundo de não saber o que faz nem o que deseja-o que é triste para um político?!...
Mais uma vez tenho a dizer ao Secretário (Geral) do C.R.C. que vozes do burro não chegam ao Céu. Não é de Ponta-Negra ou de Pekin que podem resolver o caso de Cabinda. Podem ameaçar, gritar todos os dias, escrever cartas a Governadores, majores, etc., que tudo ficará em águas de bacalhau. O paternalismo do pai Mau só é bom quando aplicado em países onde a comida já se encontra no prato e a mesa posta.
Para terminar, um conselho: que o Sr. N'zita, fala, escreve menos e raciocine mais. Que pense nos resultados que obteve no C.A.U.N.C. - F.L.E.C. - ALIAMA é BONS OFÍCIOS. Quando pensar bem na resposta a dar, ao povo de Cabinda, então pode continuar a brincar, como é costume, com o seu C.R.C., caso contrário, a caravana passa e continuará a passar, enquanto os “Outros” ladram de longe.
PELO BUREAU EXECUTIVO DA JUNTA MILITAR
ALEXANDRE TATY
N'Cuto, 4 de Abril de 1968
Caro N'zita
Estou em viagem pelo interior onde vi um planfeto teu. Trata-se duma carta que dirigiste ao Sr. Major Matias. A carta é comprometedora para as pessoas a quem a dirigiste e um excelente documento para o Governo Português apreciar o grau da tua “maturite politique”.
Caíste redondo no conceito de todos. Não sabes o que queres nem sequer se pode sonhar que tu podes ser um chefe.
Tu marcaste um encontro no Chibuete por escrito a um oficial do Chivoco. Para não compareceres inventaste viagens a China, reuniões em Ponta-Negra, etc, etc, tudo mentiras!...
Agora escreve a um Major para tratar contigo da independência de Cabinda, da tua entrada cá, etc, etc.
Queres forçar o Major para fazeres contigo um golpe de estado? Queres ainda que o Major seja o teu porta-voz para convencer os Cabindas a instalar aqui o teu C.R.C.? Que disparate!
Também és dos tais que só aparecem quando a mesa já está posta e come à custa dos Outros.
Vá pensando noutra vida primo N'zita, e não mexe mais na porcaria que já cheira muito mal.
ALEXANDRE TATY.
Carta de Alexandre Taty (Junta Militar) ao CRC + Carta de Alexandre Taty a N’Zita
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