Carta de Pedro Van-Dúnem a Lúcio Lara

Cota
0103.000.088
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel Comum
Remetente
Pedro Van-Dúnem
Destinatário
Lúcio Lara
Locais
local doc
URSS
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Secção do M.P.L.A. moscovo - u.r.s.s. Moscovo, 28 de Maio de 1968 Ao Comité Director Caros Camaradas: Recebemos v/ carta datada de 7 de Maio do corrente, que passamos a responder. Lamentamos o facto de não podermos responder integralmente a carta supramencionada em virtude de não possuirmos todos os dados exigidos, pois que a carta chegou relativamente atrasada. Fá-lo-emos no próximo correio, o mais depressa possível. Os camaradas da Comsomol, segundo me parece não receberam nenhum “documento de viagem”. Da próxima vez, contudo, confirmarei essa informação. Camarada Joaquim José Paulo encontra-se há cerca de dois meses hospitalizado em Moscovo, para onde veio enviado de um hospital no sul do pais onde se encontrava a fazer os seus estudos. O camarada continua doente, e desde que se encontra na URSS não conseguiu ainda levar uma vida de estudante. Graças a grandes sacrifícios de sua parte ele tem estudado sozinho e pretende fazer o primeiro ano no fim deste ano lectivo, se os médicos permitirem que ele passe os seus exames. Recordo que está a fazer enfermagem. Sebastião Miguel Mossuma encontra-se não na III região mas na cidade de Briansk- há 300km de Moscovo onde está a fazer os seus estudos. Só dentro de 2 anos deve abandonar a URSS. João Ambrósio encontra-se frequentando o curso de Economia agrícola (curso médio) e Sebastião Manuel Francisco o curso de enfermagem. Depois da proibição do C.D. casaram-se os camaradas António Manuel, Isac Campos Rodrigues e Juvelina de Figueiredo. Paulo Sunda pretende casar-se. Não obstante a decisão do C.D. que contraria o seu desejo, o camarada insiste no casamento e tem andando a espera da autorização do C.D.. O Comité Director tem o dossier completo sobre o assunto “Paulo Sunda”. Depois da decisão do C.D. sobre o problema do camarada Isac Campos Rodrigues e a partir do qual o camarada deve regressar este manifestou desacordo total, passando à ameaça. Junto enviamos uma carta endereçada por ele nos últimos dias. Para a Secção mantém-se a decisão do Comité Director e voltaremos a entrar em contacto com o camarada para que ele nos indique de que forma pretende ele regressar, pois ele é casado e tem uma criança. Juvelina de Figueiredo casou-se no fim do ano passado. Sobre isso na devida altura nós enviamos ao Comité Director uma nota onde comunicamos que nós suspendíamos a camarada da nossa secção, e que aguardávamos que o C.D. nos desse directrizes. Contudo passaram-se cerca de 6 meses e não recebemos reposta nenhuma. Em todo o caso, atendendo a que a camarada pretendia continuar os seus estudos num instituto superior, nós fizemos incondicionalmente (porque esperávamos directrizes do C.D.) demarches junto do Ministério de Educação Nacional para não considerar o seu pedido e para que, logo que esta acabasse os seus estudos, a enviassem para Dar-Es-Salaam. Os responsáveis da Universidade Patrice Lumumba comunicaram-nos da existência de bolsas de estudos dadas a militantes da UNTA, para o próximo ano lectivo, bem como para indivíduos angolanos residentes em Dar-Es-Salaam. Atendendo a que nós achamos que todos os estudantes angolanos para a União Soviética só devem vir depois de caucionados pelo MPLA, nós decidimos suspender periodicamente estas bolsas até que tivéssemos, ou seja, até que pudéssemos contactar o C.D. sobre o problema. Relativamente aos estudantes da UNTA, desde que o C.D. não ponha obstáculos sobre a sua vinda, nós achamos que eles devem vir com a condição de se submeterem incondicionalmente à disciplina existente na nossa Secção, e de se fazerem militantes da UEA. Relativamente aos outros estudantes de Dar-Es-Salaam, atendendo a que temos uma representação nesta cidade achamos que devem fazer o seu pedido através da Representação, se são militantes; se não o são não caucionaremos os seus pedidos, salvo decisão contraria do C.D. Os responsáveis desta Universidade falaram-nos ainda da possibilidade de receberem estudantes nossos, camaradas jovens que possam fazer dois ou três anos na faculdade preparatória ou a quem se pode dar um programa especial de estudos. Se o C.D. acha que isso para nós é conveniente e se tiver um grupo de camaradas jovens capazes de poderem vir para a Universidade em causa aguardamos que nos comuniquem breve. Aguardamos outro sim resposta urgente sobre o problema anterior dos outros estudantes para a Universidade. Para terminar queremos apresentar mais um problema tocante um dos camaradas que se encontram no internato nos arredores de Moscovo. Trata-se de um dos camaradas a quem morreu a mãe há poucos meses. A escola depois de tomar conhecimento ficou disposta a permitir que o camarada desça no período de férias para Brazzaville para ver a família, para o qual bastava uma carta do C.D. enviada a Directoria da Escola. Contudo, atendendo a que o camarada é bastante jovem e que esta viagem poderia provocar nele um choque ainda maior quando se encontrar com a família, e atendendo a que ele pode talvez não pretender voltar, nós achamos que seria melhor que o camarada não descesse. Na expectativa de podermos receber breve resposta do C.D. recebam camaradas as nossas saudações revolucionárias. VITÓRIA OU MORTE! A VITÓRIA É CERTA! Pel'A Secção Central de Moscovo *[Assinado] Pedro de Castro dos Santos Van-Dúnem *[Manuscrito: N.B. Sobre os outros pontos escrevemos em breve.] *[Rubricado]
Carta de Pedro Van-Dúnem (Moscovo) a Lúcio Lara + envelope
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados