Carta de Lúcio Lara ao CD do MPLA, sobre viagem a Moscovo

Cota
0105.000.005
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2a via)
Suporte
Papel Comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Comité Director do MPLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
6
Brazzaville, 6 de Julho de 1968 Ao Comité Director do MPLA Caros Camaradas, Venho por este meio concluir o relatório do final da minha recente viagem. Cheguei a Moscovo ido de Berlin a 17 de Junho. Fui recebido pelo Sec. Geral do Afro-Asiático Alexandre DZASSOKHOV e pelo c. DOLOUD. No dia 18 tive um encontro com o Comité, no qual além dos dois referidos cams. estavam presentes o Secretário Geral adjunto GROPICHEV, o c. Pedro DIAS e o c. SUKRANOV. O Secret. Geral disse que tinham acordado um novo dom ao MPLA compreendendo sabão, açúcar, fósforos, sal, medicamentos e artigos escolares, no valor de 10 a 15 mil rublos. Informou que nos fins de Junho estariam prontos os manuais de leitura em número de 50 mil exemplares. (Creio que a quinta parte pode vir para este lado e os restantes para aí.) Informou ainda que estavam dispostos a ceder dois médicos do Comité de Solidariedade por um período de seis meses e queriam saber se os aceitávamos e para onde deviam ir, e quando. Pediram as minhas impressões sobre a conferência científica que se realizou em Berlim, pareceram concordar com as minhas observações e sobre a sugestão de se publicarem os trabalhos apresentados em português, disseram estarem prontos a assegurar a sua publicação. Também quiseram ouvir as minhas impressões sobre a Conferência de Nicósia que lhes dei nos mesmos termos da minha carta de Berlim para o C. Neto (Entreparentises estou inquieto se essa carta foi ou não recebida, pois nela dizia o que me parecia importante sobre a Conferência projectada pelo Conselho Mundial da Paz. Essa carta foi expedida sob registo de Berlin, no dia 17 de Junho, e continha alguns documentos e o relato da Conferência da Nicósia.) Gostava de saber se sempre se reuniram aí com o NOKE para discutir o que fazer acerca dessa Conferência e das medidas a tomar em Alger, na hipótese de se encontrarem todos os interessados. O CMP tinha ficado de mandar a cada um dos movimentos da libertação uma nota explicando em que pé estava o problema e confirmando ou o acordo do Sudão para o local. Espero que o tenha feito e se o não fez terá interesse chamar-lhes a atenção, até em função da Resolução que foi tomada em Nicósia, sob nossa sugestão e da África do Sul de se pôr em pé um Comité de ligação, com os movimentos de libertação. O Comité de solidaridade Soviético concordou “internamente” com o nosso ponto de vista sobre essa Conferência projectada pelo CMP, sobretudo no que diz respeito à necessidade de um trabalho sério para a preparar junto das entidades interessantes na Europa Ocidental, e dizem que estão prontos a colaborar na Campanha de preparação da Conferência. O Programa que estabeleci com o Comité foi o seguinte: Visita à escola do partido, visita a Ivanova onde estudam os nossos pioneiros, visita à Escola Central do Konsomol, encontro com os estudantes e um entretien com o c. Pedro (a seu pedido). Na escola do Partido encontrei os camaradas entusiasmados. Havia uma ligeira preocupação dos responsáveis da escola, que o c. Pedro me transmitiu, sobre algumas intervenções do c. Azevedo durante os cursos, que lhes dava a entender que haveria do c. Azevedo tendência a ser o porta-voz do grupo; como essa atribuição era do c. Marcelino, os responsáveis da Escola temiam uma perda do prestigio do c. Marcelino que poderia dar resultados maus na coesão e na disciplina que o grupo demonstrava até ali. No entanto, dada a saúde do c. Azevedo, que tinha uma tensão arterial elevada e um novo desequilíbrio nervoso, ele esteve até data em que lá estive internado no Hospital, donde saiu aliás no dia em que fui com o Director da Escola ao referido no hospital para ver os dois camaradas que lá se encontravam, c. Azevedo e Totoy (este com uma úlcera). Falei com o camarada Marcelino sobre esse problema e ficou estabelecido que o grupo devia reunir, como um grupo do MPLA, de duas em duas semanas para apreciação do trabalho efectuado e eventualmente para critica e autocrítica dos camaradas afim de se poder cortar imediatamente qualquer mal estar causada por este ou por aquele motivo. Faço notar que o próprio Pedro Dias, na sua conversa comigo me disse num tom um pouco estranho que não achava certo que o MPLA se estivesse a serviço da União Soviética com lugar de exílio de militantes sancionados, isto a respeito do Azevedo. Demonstrei-lhe que não era esse o facto, mas ele não me pareceu muito convencido. Aliás também manifestou um certo desagrado pela composição dos cinco dirigentes que iam em descanso, e perguntou-me se sabia quem eram. Respondi que não tinha presente a lista, mas que sabia que de qualquer maneira se trataria de responsáveis quer do MPLA, quer da OMA. Pergutou-me então se o Santos era do grupo. Disse-lhes que se fosse seria em virtude de a sua esposa, responsável da OMA ir, para aproveitar também descer para a terceira região após o descanso. Disse-me depois que iria a Dar (creio que para assistir ao Congresso da Frelimo. O mesmo Pedro também me disse estar resolvido o problema de avião, mas que o do barco ainda não estava resolvido e que lhe parecia difícil. Sobre o pequeno estágio que se pediu para dirigentes disse que o Comité Central ainda não tinha decidido mas que lhe parecia que haveria uma resposta favorável. Que no entanto falaria disso convosco durante a estadia em Dar-es-Salaam. Sobre o estágio do Vieira Lopes, disse que a preparação era difícil, mas que também lhe parecia que seria realizável. No entanto que dizia desde já que não seria possível aceitar que ele se fizesse acompanhar da esposa e dos filhos. Deu para isso uma série de justificações que embora plausíveis não seriam a verdadeira razão de ser dessa negativa. Faço notar que novamente, como há dois anos, o c. Pedro voltou a fazer perguntas muito estranhas sobre o que pensava eu da possibilidade de um êxito na luta que travamos. Frizou que lhe dava a impressão que nós queríamos abandonar a frente Cabinda e que em face da situação delicada criada pelo Congo-Kinshasa lhe parecia que algo estava insuficiente na luta que desenvolvíamos, dada a fragilidade do apoio da Tanzânia e da Zâmbia. Respondi-lhe que de modo algum tencionávamos abandonar Cabinda, embora se estivesse a proceder a um reajustamento táctico que dava prioridade à mobilização política nesta primeira fase, e que até já tinha dado alguns bons frutos, insistiu que o Front do norte que até aqui mantinha uma ligação muito precária connosco o estava no entanto a desenvolver-se como os próprios comunicados de guerra portugueses faziam crer, e que o Front de Leste estava em pleno “épanouissement” que tudo fazia crer se acentuaria depois da missão “Ferras”. Que a aparenta apatia de Cabinda era devida a que sempre Cabinda funcionou como reserva de potencial humano para as outras frentes, o que implicava que a actividade da região tivesse altos e baixos, reconhecimento embora que ainda não estava resolvido o problema das populações da região. Ainda aqui pareceu que não se convence muito, mas não fez mais perguntas. Tudo isto foi-lhe dito no quadro de uma análise da situação e das perspectivas que ele me tinha pedido para lhe fazer oralmente. Perguntou-me quais eram os dirigentes actuais do Movimento e quem iria substituir o C. Henda. Disse-lhe os dirigentes de que me lembrei e disse-lhe que talvez quando ele chegasse a Dar já lhe pudessem esclarecer quem substituiria o saudoso Henda. Faço aqui notar que eles souberam muito cedo da notícia. Creio que a própria c. Maria Mambo soube por eles ou por algo que eles queriam publicar. Chegaram a publicar algo no Boletim SOLIDARIEDADE, e não o fizeram imediatamente na Rádio por intervenção dos nossos. A minha visita a Ivanova justificava-se pelo facto de as crianças que lá se encontram se queixarem de nunca terem tido oportunidade de ver dirigente e estarem insistindo com a Cruz Vermelha de que dependem para os deixarem ir a férias em visita as famílias, o que a Cruz Vermelha não aceita fazer. A visita foi útil na medida em que além de ter dado oportunidade aos “pioneiros” de conhecerem muitas respostas a perguntas que geralmente não obtinham resposta, me permitiu de travar conhecimento com professores e com uma escola que alberga 400 crianças estrangeiras e que por isso mesmo tem características especiais. Resta acrescentar que os quatro que lá se encontram têm feito boa figura, embora no dizer dos professores pudessem mesmo ser brilhantes se estudassem mais. Também visitei a Escola Central do Konsomol. É pena que seja uma escola de tipo especial, isto é que se destina a jovens de várias nacionalidades, com diferentes níveis de mentalidade e de preparação, porque é na realidade uma escola excelentemente apetrechada, com bons laboratórios, com excelentes métodos de ensino. Para os nossos, no entanto, não há dúvida que é um bocado puxado, e apesar da boa vontade dos professores e dos intérpretes, as filosofias e as economias, etc, etc, devem ficar letra morta, ao passo que a especialidade que ao mesmo tempo se perfaz necessitaria de um aumento de horas em certas matérias. Pareceu-me no entanto que o grupo que concluiu o estágio aproveitou melhor que o anterior, justamente por ter havido modificações nos métodos de trabalho, dando primazia aos problemas práticos e deixando um pouco para trás as grandes tiradas filosóficas fora do nosso alcance. O decano da Escola do Konsomol, c. YAKUNIN VICTOR teve uma sessão de trabalho comigo, onde estivemos a analisar os programas actuais e os futuros e onde a seu pedido eu lhe disse as minhas impressões (algumas reservas, mesmo) acerca dos referidos programas. Claro que o carácter da Escola dificulta uma adaptação rápida dos programas aos nossos interesses particulares que resultam do baixo nível dos nossos candidatos. Por outro lado a Direcção da Escola do Konsomol, e a própria Direcção do Konsomol estava a pôr as maiores dificuldades ao estágio militar dos camaradas. Devo dizer que os encontrei justamente no regresso da sua última viagem de prática, e quando, outros estudantes de outros países africanos estavam já a partir para os seus países. Embora o problema do seu regresso estivesse discutido ao nível do Comité de Solidariedade e portanto do Partido, creio que havia ali qualquer coisa de estranho porque oito dias antes da data que a escola marcara para a partida dos nossos ainda havia dúvidas, mesmo ao nível do Comité Central do Consomol sobre se os nossos camaradas seguiriam os estágios “complementares” ou não. Foi um problema que eu pus aliás no dia seguinte quando falei com alguns dos novos dirigentes do Konsomol (a antiga direcção foi limogée na altura em que lá passei) e que eles se mostraram muito reticentes. Devo dizer que esta visita ao siège do Konsomol foi fora do programa que tínhamos estabelecido e creio justamente que estava ligada com a necessidade que essa nova Direcção sentiu de estabelecer contacto connosco de viva voz. Ignoro as causas verdadeiras das tais reticências, mas creio que finalmente os camaradas acabarão por ficar, à excepção dos cs. Baião e Gomes, por incapacidade física. Finalmente, também a pedido deles, encontrei um c. do PCP que me deu duas pequenas cartas da terra, uma das quais foi directamente para aí, pelo c. Pedro, e outra veio para aqui. O Comité de Solidariedade esteve de acordo em me dar o bilhete de regresso via Damasco, para aceder ao nosso desejo de estabelecer um contacto vivo com os dirigentes da Síria. Assim, como só há um avião por semana, tive que esperar uma semana pelo avião e no dia 26 parti para Damasco. No dia 27 tive uma primeira entrevista da parte de manhã com a Direcção Regional do PARTIDO SOCIALISTA ÁRABE BAAS (BAATH ARAB SOCIALIST PARTY), que é quem está no poder. Os outros partidos não têm existência legal, mesmo o PC, que no entanto é tolerado ou melhor, cujos dirigentes no entanto são tolerados em certos lugares de responsabilidade. Às 21 horas tive então o encontro - chve, digamos assim com a Direcção Nacional do BAAS. Estavam presentes os amigos Wasfi SHAKER - Presidente do Bureaus das Relações Exteriores, George JABBOUR, membro do referido Bureau e Faisal MANATZA, encarregado dos contactos com organizações amigas. Devo desde já acentuar o DESCONHECIMENTO que a direcção do tal partido (falo da Direcção e não falo deste ou daquele membro da Direcção) tem do nosso problema. Creio que os convites que nos fizeram e as manifestações de amizade de que têm dado provas em diferentes reuniões internacionais são muito da iniciativa pessoal deste ou daquele responsável, que no entanto não terá efectuado relatos completos sobre a situação de Angola, ao nível da Direcção do BAAS e ao nível do Governo. Basta dizer que um dos membros presentes à conversa, JABBOUR, me perguntou se eu pertencia ao FNLA... Foi justamente em face desta pergunta que eu entendi durante essa primeira sessão fazer um longo relato sobre a situação em Angola quer no campo colonialista, quer no seio do movimento de libertação, quer ainda nas alianças de Portugal (OTAN, USA, RFA, FRANÇA, AFRICA DO SUL e RHODESIA). Deixei bem estabelecida a diferença entre MPLA e FNLA, a situação actual do “grae” na OUA, os progressos da nossa luta e finalmente as perspectivas. No dia seguinte tivemos uma segunda sessão, para discutir então os problemas de uma eventual cooperação do governo sírio e do Partido connosco. Claro que lhes falei nas posições do MPLA a agressão de israel, que era o assunto que mais os preocupava. Sobre as ajudas disse-lhes o que sabia ter sido pedido através da Embaixada no Cairo, por duas vezes, uma pelo Barros e outra pelo Presidente. Infelizmente não tinha a lista comigo desses pedidos e eles no seu dossier só encontraram uma carta do Barros, sem qualquer lista de pedidos. Eles querem certificar-se melhor do nosso programa e do apoio que temos de outros países árabes (citei-lhes sobretudo a Algéria e a RAU e pus em evidência o apoio da Tunísia ao Holden, o que os impressionou bem. Dei-lhes um exemplar da antiga brochura ANGOLA em que está o resumo do nosso programa, prometendo enviar-lhes depois o programa completo. Deixei-lhes algumas publicações, disco e emblemas. Sobre os pedidos concretos insisti (como não tinha outros dados, em material de guerra e equipamento). Eles falaram das dificuldades que atravessam com os preparativos para a guerra, mas mostram-se dispostos a ajudar em domínios sobretudo de equipamento e eventualmente em material de guerra. Necessitam no entanto que lhes enviemos uma lista concreta desses pedidos, endereçada ao Partido, em nome do referido Wasfi SHAKER, Presidente do Bureau das relações exteriores, o que ficou estabelecido seria feita pelo n. Presidente, e entregue em qualquer Embaixada dele mas de preferência no Cairo. Falei na hipótese de uma visita do c. NETO lá, que eles disseram ter interesse, mas devidamente combinada. Sobre a abertura de um Bureau lá, a coisa não ficou completamente decidida; eles não se pronunciaram contra mas eu também não insisti e não me parece por ora nada interessante. Tem mesmo menos interesse que Conakry. Parece-me que devemos optar por um estreitamento de relações que se fariam com passagens periódicos deste ou daquele responsável nosso por DAMASCO. Primeiro ali tem que se saber árabe para fazer qualquer coisa. Depois os problemas da luta de libertação não são ali tão importantes como são no CAIRO o n/ representante não teria absolutamente nada que fazer, salve contactar embaixadas estrangeiras e de tempos a tempos a imprensa e as forças locais. Isso imobilizar-nos-ia sem proveito um quadro que hoje nos faz falta para outras coisas. Eu creio que se inscrevermos a morada da imprensa local nos nossos ficheiros para lhes enviarmos todos os nossos documentos e publicações assim como ao partido, e se de tempos a tempos um responsável nosso passar por lá (o que não será difícil se inscrevermos, como eu fiz agora, Damasco no itinerário de uma saída (ou entrada), substituiremos com vantagem a imobilização a imobilização de um representante que teria de passar o tempo a matar moscas. Tive também uma entrevista com Samir MANSOUR, presidente da FEDERATION GENERALE DES SYNDICATS DES TRAVAILLEURS de la République Arabe Syrienne, ao qual estiveram presentes Margueritte Haddad membre du Bureau e Tamer HABIB, redactor-chef do Jornal dos Syndicatos. Como estavam em vésperas de eleições nada foi decidido sobre a colaboração com o nosso sindicato, tendo no entanto a conversa incidido sobre informação mútua dos problemas. Pedem que a nossa organização Sindical se ponha em contacto com eles depois do mês de Setembro. Dei entrevista à Rádio, Televisão, e a três jornais. Envio-vos uma dessas entrevistas, apenas para os arquivos. Deve dizer que eles se pareceram todos calorosos, que assumiram os frais de hotel, que tive convites para almoços íntimos com os responsáveis e também com Director Geral das edições do Partido ao mesmo tempo redactor chefe do jornal AL SACURA cujo exemplar vos envio. Parti de DAMAS no dia 30 de Junho e queria parar em Roma para contactar o Padre, mas infelizmente saímos com um grande atrazo e só pude ficar no Aeroporto de Roma 2 horas e meia, o que me pareceu não dar tempo para sair à procura dele. Em Zurich onde tive de esperar a ligação para Brazzaville, telefonei para o Paulo dos Anjos que veio até Zurich informar-me do que estavam realizando lá. Em tempos, representou-se lá a célebre peça do Peter WEISS, o CANTO DO ESPANTALHO LUSITANO, que foi muito discutida. Nas discussões que se sucederam à representação manifestaram-se algumas boas vontades, que se mostraram decididas a sair das discussões intelectuais para passar à actividade em prol da luta. De reunião em reunião, nasceu um MOUVEMENT DE SOUTIEN AUX PEUPLES DE L'ANGOLA ET DES AUTRES COLONIE PORTUGAISES que na opinião do Paulo promete ser eficaz. Creio que ele já escreveu para aí sobre isso e que aguarda resposta do Comité Director. Pede também que se mande documentação ao endereço seguinte PEACE FOUNDATION 3/4 Shavers Place Haymarket London SW1 Disse-me que a Charlotte tinha acabado de chegar e que estavam a ocupar-se dela, justamente gente desse comité. Que lhe parece ser oportuno lançar uma nova campanha sobre os prisioneiros do Holden. Diz estar disposto a corresponder a uma chamada do Movimento. Informou-me sobre o sucesso que foi para nós a Conferência sobre a Amnistia aos presos de Portugal, que no entanto o Holden aproveitou nos jornais de Kinshasa para apresentar como se fosse vitória dele. Dia 2 de Julho voltei a Brazzaville, onde ainda não regras ou o c. Dibala, que foi em missão a Addis Abeba e onde encontrei uma nova “crise” alimentar, sobre tudo em apelos vindos das zonas. Concluo pois aqui o relatório da minha viagem, que completa o que já para aí seguiu sobre Berlin e sobre Nicósia. Brazzaville, 6 de Julho de 1968 *[Assinado] Lúcio Lara *[Manuscrito] R.P. Das conversas e dos problemas dos estudantes, dois retiveram a minha atenção: Casamento do Vine - Pelo parecer das autoridades soviéticas a solução do regresso é inviável. Propusemos portanto que lhe fosse cortada a bolsa e que só lhe dessem passagem para uma das (ilegível) do MPLA e que se ela não aceitar será o marido a custear a estadia e o seu regresso. 2- Caso dos estudantes brancos que acabaram o curso e que pedem para ser reintegrados numa zona de fogo. Como eles me disseram que o c/ Neto lhes devia ter dado uma resposta qu só deu por partida precipitada, aconselhei-os a aguardar essa resposta o que oferece certa dificuldade. Dada a situação na Tanzânia, confesso que não vejo claro o problema. Será de todo impossível a sua colaboração no interior. Penso que por outro lado que um dele. Arnaldo que está colaborando na Rádio Moscou, poderia ser útil na informação. Como não sei o que o c/ Neto lhes queria, sugerir aguardar o que se estabelecer. Há ainda o caso do Assis que lhe bombardeia com cartas dele que numa canção do Movimento para continuar a estudar. Dado o seu comportamento dentro, visitas a embaixadas, esta parece-me que não devemos meter-nos muito dentro do seu assunto. E é tudo *[Rubricado]
Carta de Lúcio Lara (Brazzaville) ao Comité Director do MPLA, sobre viagem a Moscovo
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