Cota
0106.000.033
Tipologia
Relatório
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Autor
Daniel Chipenda - Serviços de Informação do MPLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Fundo
*[Carimbado: Secreto]
INFORMAÇÃO SOBRE AS ACTIVIDADES DO MPLA DURANTE OS MESES DE AGOSTO E SETEMBRO DE 1968, PARA TODOS OS RESPONSÁVEIS E REPRESENTANTES DO MPLA.
NO PLANO INTERNO.
1ª REGIÃO:
Tem-nos sido difícil recebermos relatórios da actividade dos nossos camaradas naquela região, por falta de meios de comunicação e da dificuldade que há em mantermos contacto com eles devido a intransigência do governo do Congo Kinshasa que de forma alguma permite que os nossos guerrilheiros passem pelo seu território. Mas apesar deste corte de comunicações, os nossos camaradas têm se abatido corajosamente de forma a que possam, não só manter a guerrilha, mas também desenvolvê-la. Os comunicados dos próprios colonialistas portugueses, confessam as derrotas que tem sofrido nos distritos de Nambuangongo e Luanda perdendo já o controle de uma parte dos Dembos. Os nossos camaradas na 1ª Região lutam com grandes dificuldades.
Não podem receber armas, munições, equipamento, medicamentos, alimentação e vestuário do exterior. Têm contado única e simplesmente com as suas próprias forças. E é partindo do princípio de que têm que contar com eles próprios que eles têm procurado trabalhar no sentido de mobilizar as populações para fazerem face a todas as dificuldades, e combater com os meios que há os colonialistas portugueses. As vitórias que têm obtido, têm encorajando as populações da Região e das regiões mais próximas, a manterem uma resistência aos colonialistas e a fazer-lhes guerra por todos os meios.
Os camaradas na 1ª Região seguem vigorosamente a palavra de ordem do MPLA, da “GENERALIZAÇÃO DA LUTA ARMADA POR TODO O PAÍS”.
2ª REGIÃO
Apesar das dificuldades já conhecidas nesta região, guerrilheiros do MPLA continuam instalados em Cabinda, onde têm feito algumas acções. Da parte da população, nota-se relativa mudança em relação ao nosso Movimento. O Vice-Presidente do Movimento, o camarada Rev. Domingos da Silva, foi de novo convidado pela população angolana em Ponta Negra, para uma reunião em que se pensa serem tomadas novas medidas para fazer avançar a luta na 2ª Região.
3ª REGIÃO:
Realizou-se em Angola de 23 a 25 de Agosto a primeira Assembleia da 3ª Região com a participação de mais de 83 delegados, com a presença de jornalistas estrangeiros e cineastas. Realizou-se num ambiente de grande entusiasmo revolucionário, que facilitou o trabalho de forma a chegar-se a resoluções e decisões que sem dúvida farão avançar a nossa luta.
A Assembleia votou por aclamação uma Moção de Louvor ao camarada HOJI IA HENDA e outros combatentes heroicos tombados pela salvação da Pátria.
Entre várias decisões a Assembleia decidiu:
1º Decretar o dia 14 de Abril DIA DA JUVENTUDE ANGOLANA.
2º Conceder postumamente ao Camarada HOJI IA HENDA o título de “Filho Querido do Povo Angolano e Combatente Heroíco do MPLA”.
3º Homenagear todos os camaradas que tombaram heroicamente no campo de batalha. O Comité Director elaborará brevemente uma lista dos Combatentes que se distinguiram pela sua heroicidade e dos camaradas que tombaram heroicamente em combate; que passarão a figurar no quadro de Honra.
A partir deste momento sempre que se quiser falar do Camarada HOJI IA HENDA deve dizer-se “Filho Querido do Povo Angolano e Combatente Heroico do M.P.L.A.”
Conforme as decisões da Assembleia Regional da 1ª e 2ª Regiões, que foram adoptadas pela Assembleia Regional da 3ª Região, foram nomeados adjuntos do presidente do MPLA, a fim de Coadjuvarem nas funções de Coordenação político-militar do Movimento a escala Nacional os camaradas:
a) Camaxilo
b) Sango
c) Monimambo
Foram nomeados membros do Comité Director da IIIª Região os camaradas:
1) Toka – Coordenador e Comandante
2) Dilolwa
3) Iko
4) Kiavua
5) Faulha Vermelha
6) Patife
7) Punza
e para o comando militar da IIIª região foram nomeados os camaradas: Toka – Comandante, Faúlha Vermelha – Comissário Político e Informação e provisoriamente os camaradas Mundo Leal – Reconhecimento e Operações, Likambuila – Finanças e Logísticas.
Para membros da Comissão Directiva e do Comando da II Região foram nomeados os camaradas:
Janginga – Coordenador e Comandante
Masunga Kota – Comissário Político e Informação
Artur Vidal – Reconhecimento e Operações “
Liberdade – Logistíca e Finanças “ Provisórios
Foram afectados a Vª região os seguintes camaradas:
Diamante – Coordenador e Comandante
Moto-Moto – Comissário Político
Sapato – Reconhecimento e Operações
Sem Medo – Logística e Finanças
e foram nomeados pelo desenvolvimento da luta na VI região os camaradas:
Angola Livre, Adilson Mafuta, (provisórios) Pedro Miranda e Mukimbiji.
Na assembleia, deu-se uma grande importância a luta nas cidades. Por isso foram afectados à Acção nas zonas urbanas os camaradas: Iko – Comandante, Kapiasa, Fugança, Faísca, Perigoso, Chingwa, Correia e Estrela.
Decidiu-se também que o comando das zonas Urbanas, esteja subordinado ao comando da Região onde se encontra.
Não há dúvidas de que a Assembleia tomou decisões bastante importantes que farão avançar a nossa luta.
NO PLANO MILITAR
O MPLA tem procurado nesta região seguir no conjunto a tática que visa o seguimento da nossa estratégia geral. Generalização da luta armada. Independência total – Guerra Prolongada.
Durante os meses de Julho, Agosto e Setembro criaram-se novas secções em todas as zonas sempre no sentido de avançar cada vez mais para o interior. Os comunicados que temos enviado regularmente mostra bem a actividade dos nossos guerrilheiros. Durante o período mencionado o balanço das nossas actividades é o seguinte: 382 SOLDADOS COLONIALISTAS MORTOS, ENTRE ELES 10 OFICIAIS. MAIS DE 477 SOLDADOS PORTUGUESES FERIDOS, 12 TRAIDORES QUE COLABORAVAM COM OS PORTUGUESES COLONIALISTAS MORTOS, 23 VIATURAS DESTRUIDAS, 3 LANCHAS DESTRUIDAS, 7 PONTES DESTRUÍDAS. UMA CANTINA ASSALTADA, GRANDE QUANTIDADE DE ARMAMENTO E EQUIPAMENTO RECUPERADO, 50 ANGOLANOS RETIRADOS DAS ALDEIAS ESTRATÉGICAS, UM MOTOR DE TANQUE DE ÁGUA QUE ABASTECIA O POSTO DE LEUA DESTRUIDO, ESTE É O BALANÇO DAS ACTIVIDADES.
NO PLANO POLÍTICO
A população da 3ª Região apoia incondicionalmente o MPLA, devido a mobilização política feita pelos activistas e pelo trabalho de educação política feita nos Centros de Instrução revolucionária. Até aqui existiam apenas dois centros de instrução Revolucionária. Agora criou-se um outro na Zona B.
Do Centro de Instrução Revolucionária acabaram a sua formação 98 camaradas sendo 69 estagiários e 29 estagiárias assim distribuídos:
1º curso 2º curso 3º curso 4º curso 5º curso total
ESTAGIÁRIOS 31 9 19 7 3 69 70%
ESTAGIÁRIAS 19 - - 10 - 29 30%
TOTAL 50 9 19 17 3 98 100%
Todos os estagiários que acabaram a sua preparação, foram enviados já para as diversas zonas e secções do nosso Movimento, onde funcionarão como responsáveis políticos ou activistas.
EDUCAÇÃO
Cerca de 424 alunos fizeram com êxito os seus exames da instrução primária.
ZONA “A” – 78
ZONA “B” – 68
ZONA “C” – 198
ZONA “D” – 50
ZONA “E” – 30
TOTAL 424
NO CAMPO SOCIAL:
Na Zona “B” e em todas as sessões formaram-se nos últimos meses secções da OMA (ORGANIZAÇÃO DA MULHER DE ANGOLA), e em toda região os Comités de Acção estão estabelecidos e funcionam como um órgão administrativo das populações nas zonas controladas pelo MPLA.
Neste período como há falta de géneros alimentares, todos os organismos do Movimento estão presentemente engajados no trabalho das lavras. Em todas as zonas todo o Povo está a trabalhar profundamente nas lavras.
Há no entanto falta de sementes que está resolvido em parte por se ter já conseguido, faltando apenas o transporte para levá-las às diferentes zonas da Região.
OFENSIVA PORTUGUESA
A chamada época seca, que normalmente constitui o período da ofensiva portuguesa, este ano podemos considerar que os portugueses colonialistas tiveram um total fracasso. Onde ela foi mais intensa foi na Zona “C”, onde os bombardeamentos fizeram com que grande parte da população se refugiasse na Zâmbia. Agora esta mesma população começou já a regressar para as suas aldeias.
Na Zona A, também houve umas pequenas investidas que foram anuladas pelas forças do MPLA.
Nas Zonas C e B, há a assinalar o lançamento de bombas napalm, provocou a morte e ferimento de alguns dos nossos compatriotas.
Na 4ª Região
Nesta região as operações militares tem se desenvolvido satisfatoriamente e a adesão da população à guerrilha dirigida pelo MPLA é total. O povo Tchokue contradição de luta bem conhecida, constitui na 4ª Região um potencial inesgotável. Nesta região o povo conhecedor da escassez do MPLA em armamento, luta com todos os meios que possui. Há já um comunicado em que as milícias do MPLA repeliram os soldados portugueses colonialistas com setas, lanças e zagaias. Com instalação definitiva da Comissão directiva e do Comando da IV Região, a luta conhecerá nova fase.
5ª Região
O trabalho de mobilização esta muito adiantado e 30% da população das aldeias encontra-se já no maquis. Já começaram as acções mesmo perto de Silva Porto. Nesta Região como noutras, o problema máximo é de falta de material necessário. Mas uma das grandes vitórias alcançadas na 4ª e 5ª Regiões, é da rede de informação que se estabeleceu no sentido de conhecer todas as iniciativas do inimigo.
6ª Região
Depois da Assembleia regional os responsáveis estão a trabalhar no sentido de se implementarem nesta nova Região.
CONTRA REVOLUÇÃO
Tivemos notícias de que o Savimbi se tinha infiltrado no interior. Até agora as notícias não estão confirmadas. Mas a partir de Lusaka tomaram-se medidas para sondar e detetá-los. Foram enviados para o interior instruções para se tomar medidas no sentido de cercar os contra-revolucionários. Em Lusaka, as autoridades Zambianas fecharam a casa de um dos seguidores de Savimbi, o Muliata que funciona como sede deles. Deram 14 dias para que o Njolomba, Chata Kurunga e outros deixassem o país. O Njolomba e o Chata desapareceram em Lusaka. Apesar da boa vontade que as autoridades zambianas apresentam de colaborar connosco, tudo indica que eles neste aspecto não se querem engajar a sério, devido os proprios problemas internos que eles têm. Por isso todo trabalho deve ser feito a partir do interior.
Tem havido um movimentação da parte de alguns elementos da UNITA, de se fazerem membros do MPLA. Entre eles o Mateus, antigo representante da UNITA em Lusaka. Este manifestou já o interesse de conversar com o camarada SANGO. Não houve com eles qualquer contacto porque tudo o que se passa neste momento é provocado pela pressão que o governo está a fazer sobre eles.
No interior houve ao pé do Luso um encontro com os Massumbistas. Neste encontro perdemos um camarada o enfermeiro Gato.Os Massumbistas perderam um grande número dos seus elementos, os nossos camaradas recuperaram uma G3.
Os massumbistas perderam todo o apoio das populações angolanas, por isso eles agora mobilizam as populações como sendo membros do MPLA. Eles têm mobilizado até algumas milícias ao serviço dos portugueses para que estes desertem e tragam consigo as suas armas. É com estas armas que eles depois pretendem seguir os militantes do MPLA. Isto já foi descoberto e está a fazer-se um grande trabalho para denunciar mais uma vez esta manobra dos massumbistas. O povo está advertido e no mês passado já 9 milícias viram entregar-se aos destacamentos do MPLA, com as suas armas.
UPISTAS
No dia 6 de Agosto de 1968 chegaram a Katanga 3 camiões da ANC, (ARMEE NATIONALE CONGOLAISE) com três companhias da UPA Comandadas pelo Correia comandante e o Mabiala que é o sub-comandante. Todo o armamento e equipamento que era do destacamento do Bomboko, preso pelo governo do Congo Kinshasa em 1967, o governo do Congo Kinshasa deu-o ao Holden Robert para que esse combatesse as nossas forças. Tudo isto antes da conferências dos Chefes de Estado de Alger. Eles veem armados de Morteiros 81 e 60; Canhões 7,5 armas automáticas em quantidade com munições sem conta; também trazem AK, o fardamento “verde Oliva” que também era do Bomboko. Eles já foram detectados pelas nossas forças. Têm procurado enganar o povo, procurando dizer que são elementos do MPLA, e a propósito trazem papel timbrado do MPLA e a nossa documentação que possivelmente o Bomboko levava.
O povo não acreditou neles e por isso mesmo fornece todas as informações ao MPLA. Pensamos que chegou a altura de recuperarmos o nosso material e todo o nosso trabalho está a ser orientado nesse sentido. Os nossos comandos já tomaram medidas mas queixam-se apenas com a falta de material, suficiente.
Mandámos um telegrama para Dar-es-Salaam, para que estes dados fossem fornecidos ao Comité de Libertação e que todas as nossas representações fizessem barulho, por mais este acto de pura intervenção do governo do Congo Kinshasa contra os interesses nobres do nosso povo, indo mesmo contra as decisões da Organização da União Africana.
As forças da UPA estão concentradas numa aldeia já detectada, mas o Comandante - Correia encontra-se no território congolês com as forças da ANC para apoiar os upistas no caso de serem repelidos pelo MPLA.
O apoio das populações ao MPLA irá ajudar-nos a vencer mais esta investida imperialista que representa para o Roberto a sua última vã tentativa.
Se isto se passa em relação ao Leste é possível que o mesmo se tenha feito no Norte. É conveniente que a Rádio Angola Combatente programas A e B, denunciem mais esta manobra para alertar o povo e os nossos camaradas.
NO PLANO EXTERIOR
BRAZZAVILLE - Apesar do Coup d'Etat verificado naquele país irmão em que o presidente Massemba Debat foi deposto, o nosso representante em Brazzaville diz-nos que até a data não houve nenhuma mudança em relação ao nosso Movimento da parte do grupo governamental actual.
LUSAKA - O governo da Zâmbia deu ao nosso Movimento 100 sacos de milho para semente dos 500 que prometeu oferecer para as sementeiras do nosso povo nas zonas controladas pelo MPLA.
PORTUGAL - O fascista e dictador Salazar encontra-se muribundo, como o próprio Colonialismo português que sempre defendeu durante toda a sua vida. Substitui-o o professor Dr. Marcelo Caetano que declarou seguir a política do seu predecessor. A posiçaõ do novo primeiro ministro português só facilitará o trabalho do nosso Movimento está a desenvolver de forma a generalizar a luta por todo país e mobilizar a opinião Angolana para uma melhor Consciência revolucionária, e conduzir o nosso País para uma verdadeira independência.
OUA - Não podemos dar em pormenores uma ideia exacta do que foi a reunião dos Chefes de Estado Africanos em Alger porque ainda não recebemos o relatório da nossa delegação que assistiu aquela conferência, mas podemos dizer que, os Chefes de Estado da OUA, reconheceram o desenvolvimento irrefutável da luta dirigida pelo nosso Movimento no nosso País e adoptaram as resoluções me favor do MPLA, que tinham sido propostas pelo Comité de Libertação. O que quer dizer que foi revisto o reconhecimento do “grae” e foi-lhe retirada toda ajuda. Desde agora o único Movimento reconhecido e ajudado pela OUA é o M.P.L.A..
Neste relatório, o primeiro que fazemos depois da primeira Assembleia da 3ª Região, faltaram-nos alguns dados, por falta de relatórios de algumas regiões e representações. Mas esperamos que de futuro todos os organismos nos forneçam dados das suas actividades, para uma melhor coordenação da nossa informação.
No sentido de melhor servirmos a nossa luta, aceitem caros camaradas as nossas saudações revolucionárias.
VITÓRIA OU MORTE!
A VITÓRIA É CERTA!
Serviços de Informação do MPLA
Daniel Júlio Chipenda
*[Carimbado: Comité Director - MPLA]
2/10/68
mm.
Informação sobre as actividades do MPLA durante os meses de Agosto e Setembro de 1968, para todos os responsáveis e representantes do MPLA, de Daniel Chipenda
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