Circular do MPLA

Cota
0107.000.004
Tipologia
Circular
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel Comum
Autor
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
Data
1968
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
4
MPLA CIRCULAR A partir de 1967, altura em que a nossa luta ultrapassou a sua fase de instalação, nos distritos de Moxico e Cuando-Cubango, o povo viveu momentos de autêntica liberdade, porque os guerrilheiros do MPLA, conseguiram controlar todos os meios de comunicação do inimigo. Por isso os portugueses deixaram de movimentar-se e estavam como continuam sempre fechados nos quartéis. O povo sentiu-se confiante prosseguindo as suas tarefas diárias impostas pela nossa luta de libertação nacional. Participou activamente na produção frequentou escolas e conheceu uma nova vida que nunca conheceu no tempo colonial. Assim, apesar das dificuldades de sempre, sofrendo fome, da falta de roupas e de medicamentos, o povo sempre combateu lutando lado a lado com os guerrilheiros do MPLA, para que libertassem em conjunto o nosso país. O povo angolano compreendeu sempre que a luta não é feita só pelos destacamentos militares, isto é pelos soldados, mas feita por todo o povo. Esta decisão fez avançar a nossa luta, razão porque a luta que em 1966 esteve instalada no distrito do Moxico, depressa se alastrou para o distrito de Cuando-Cubango e hoje se estende nos distritos de Bié, da Lunda e aproxima-se ao distrito da Huíla, do Huambo e de Benguela. Os portugueses sentem a força do MPLA; como por terra não podem resistir às suas forças, estão completamente desmoralizados e atrapalhados sem saber o que fazer. Resolveram por isso pedir aos seus amigos Sul Africanos que por seu lado, não só enviaram homens como helicópteros, modernamente equipados e adaptados a luta anti-guerrilha. É com estes helicópteros que os portugueses colonialistas têm perseguido a sua missão de massacre as populações angolanas indefesas que vivem nas regiões controladas pelo MPLA. Com estes aparelhos de repressão os portugueses têm cometido crimes sem classificação ultrapassando os cometidos pelos nazis na última segunda guerra mundial, crimes que são condenados por todo o mundo. Os portugueses em Angola estão tal qual como um individuo que está afogar-se num rio e procura agarrar-se não importa a que folha ou ramo para ver se consegue salvar-se. Eles utilizam o processo de bombardeamento e de metralhagem as populações para ver se com isso poderão salvar-se do naufrágio certo a que estão condenados. Empregam este processo porque é o único meio que lhes resta. Esta repressão desumana tem assustado o nosso povo especialmente o que vive perto da fronteira que não tendo meios de resistência e de defesa tem estado a fugir para a Zâmbia. O que os portugueses tentam é fazer com que povo fuja para o exterior ou então se entregue a eles. O MPLA chama a atenção a todo o povo angolano, que o seu dever não é fugir nem entregar-se ao inimigo. O seu dever é resistir e lutar juntamente com os guerrilheiros do MPLA. Quando começamos a luta, não tínhamos armas suficientes para enfrentar o inimigo. Muita gente fugiu. Se naquela altura todos fugissem, os colonialistas portugueses hoje não precisavam de empregar aviões e helicópteros, porque estariam ali onde o povo está e onde estão os guerrilheiros do MPLA infligindo-lhes grandes perdas. Mas como os guerrilheiros do MPLA não fugiram bem assim como parte do povo, conseguiram-se mais armas que fizeram com que obrigássemos os colonialistas portugueses a não saírem dos seus quartéis. Hoje que os soldados portugueses, cansados de estarem aquartelados empregam nova táctica a de bombardear o nosso povo, o nosso dever não é fugir, é resistir, é combater protegendo-nos dos bombardeamentos, desta forma, aparecerão condições para que deitemos abaixo os aviões e helicópteros. Os guerrilheiros do MPLA não recuarão porque estão decididos a lutar até a Vitória final e porque a Vitória é certa. Povo angolano, obteremos todos os meios necessários para liquidarmos todas as forças do inimigo. Os portugueses colonialistas estão condenados a serem baleados. Eles com esta guerra injusta e vergonhosa estão a sacrificar todo um povo o povo português sofredor que nada tem a lucrar com esta guerra senão a exploração e a escravidão. Os bilhetes que nós lemos constantemente atirados pelos soldados portugueses, como estes: «NÓS OS COMANDOS PORTUGUESES NÃO QUEREMOS GUERRA. SÓ MATAMOS PARA NOS DEFENDER. SÓ MATAMOS QUEM NOS MATA. QUEREMOS A PAZ DE ANGOLA QUE SERÁ BENÉFICA PARA TODOS», mostram que os soldados portugueses colonialistas estão conscientes de que foram atirados pelos seus patrões para uma morte inglória e para uma guerra perdida. Porquanto eles já estão cansados porque nem sequer sabem porque lutam, porquanto moralmente se encontram abatidos, a força dos guerrilheiros do MPLA aumenta progressivamente pronta a esmagar completamente todos os vestígios do colonialismo português em Angola para que nos deixem sossegados e livres permitindo que construamos no nosso país, uma vida nova uma vida independente. O povo que vive nas regiões controladas pelo MPLA vive já esta vida fruto da revolução que os guerrilheiros e o nosso povo estão dispostos a defender a todo o preço e fazer com que essas conquistas se alastrem por todo o país de forma a transformar Angola num país totalmente livre e independente. Todo o povo Angolano de Cabinda ao Cunene, deve organizar-se, constituindo grupos de acção, o povo nas cidades, nas vilas e nas aldeias sobre o controle do inimigo não deve permanecer sentado a espera que os guerrilheiros venham libertá-lo. Cada angolano deve saber que ali onde estiver é também um guerrilheiro devendo fazer assim toda a espécie de resistência aos colonialistas portugueses, obrigando-o a viver inseguro. Os grupos de acção do MPLA devem ser organizados em todo o país, em grupos pequenos de dois ou três indivíduos bastante móveis e hábeis com tarefas bem específicas, orientadas sempre no sentido de destruir a força do inimigo. A independência é para o povo e ele deve compreender que sem o seu trabalho não há independência. O nosso povo tem que se convencer de que não virá nenhum Deus para o libertar que nenhum feitiço lhe pode fazer sair da escravatura, que nenhum povo estrangeiro pode vir lutar em seu lugar, que as ajudas dos estrangeiros são limitadas, que os países amigos não podem alimentar quase cinco milhões de pessoas (que constituem o povo Angolano), que as ajudas que nos dão neste momento só têm por objectivo dar um bom impulso a nossa luta e que por isso não deve dar-nos a impressão de que o exterior nos há de ajudar sempre nas mesmas proporções e que a ajuda do exterior em determinadas circunstâncias pode falhar. Só organizados alimentando-se a si próprios fornecendo guerrilheiros, dando alimentos a guerrilha, auto-defendendo-se do inimigo é que o povo participará activamente na luta. Angola está em guerra e esta guerra foi declarada pelos colonialistas portugueses a todo o povo angolano. O que é que serve pensar que o angolano vive bem em Cabinda, em Luanda, em Malanje, em Benguela, em Silva Porto ou em qualquer outra cidade, vila ou aldeia estratégica pré-constituída pelos colonialistas, quando os mesmos portugueses que se dizem amigos do povo angolano bombardeiam, massacram e cometem crimes de genocídio contra o nosso povo. Os massacres e os crimes que os colonialistas portugueses fizeram em Luanda, no Lobito e noutras regiões do Norte em 1961 continuam a efectuar-se diariamente nas regiões controladas pelo MPLA do Norte ao Sul onde vive o povo que dirige e desenvolve a luta armada contra o opressor. É necessário que os cinco milhões de habitantes do nosso país se divorciem totalmente dos colonialistas portugueses e façam-lhes guerra aberta, desta forma criar-se-ão condições necessárias para a generalização da luta armada em todo o território nacional factor este que levará o nosso povo ao levantamento armado geral contra os colonialistas e que o levará a Vitória final. O momento é ada Audácia, o momento é de avançar e não recuar apesar de todas as nossas dificuldades, devemos resistir, porque a vitória pertencerá ao nosso povo. Esta disposição do MPLA, de não recuar, apesar dos bombardeamentos constantes, apesar da fome, apesar da falta de vestuário e de medicamentos, é uma certeza para a nossa vitória e deve constituir a confiança necessária do nosso povo para lutar lado a lado com os guerrilheiros do MPLA, na luta pela vida, que estamos empenhados a fazer. Quanto às armas, o povo Angolano, o MPLA, garante-vos que elas aparecerão e o nosso Movimento esta a fazer tudo para que as armas cheguem às mãos do nosso povo para que compartilhemos no combate contra o inimigo. Mais do que nunca devemos saber que a luta no interior do nosso país não é feita só pelos soldados, pelos destacamentos militares, mas por todo o povo. Nós sabemos também que ao lutar-se contra o inimigo nunca lhe devemos dar costas. É de frente que devemos encarar o inimigo e nunca de costas. Continuemos lutando com o MPLA e a Vitória será do nosso povo. A época seca, da ofensiva portuguesa acabou, com ela nova experiência se ganhou. Agora chegou a nossa vez de aumentar a nossa luta para desalojar o inimigo, ali onde ele ainda está. Devemos liquidar o inimigo ali onde ele se encontra. Unamo-nos povo Angolano na luta heroica, de libertação do nosso país. VITÓRIA ou MORTE A VITÓRIA é CERTA. *[Carimbado: Comité Director MPLA]
Circular do MPLA «A partir de 1967, altura em que a nossa luta ultrapassou…»
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