Declaração do Presidente do MPLA à Rádio Guiné

Cota
0022.000.019
Tipologia
Declaração
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Autor
Mário Pinto de Andrade - Presidente do MPLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

 UMA DECLARAÇÃO EXCLUSIVA DO PRESIDENTE DO MPLA À RÁDIO-GUINÉ, A PROPÓSITO DA SEMANA DE ANGOLA Esta semana de Angola, decidida pelo Secretariado da Organização da Solidariedade Afro-Asiática chega na hora certa. Era necessário alertar todos os Comités nacionais que em África e na Ásia lutam pela defesa dos direitos dos povos a disporem de si próprios, no momento em que as populações angolanas pegaram em armas para levar a cabo o combate justo contra o colonialismo português. Sabe-se em que circunstâncias os nossos patriotas desencadearam as operações militares. O efeito de surpresa provocado por essa insurreição popular resulta da ignorância na qual a opinião mundial era mantida em relação às miseráveis condições de vida no nosso país. Eis que Angola, ontem “zona de silêncio”, entra hoje definitivamente na cena internacional. É esse o preço muito elevado pago pelo nosso povo. Se a insurreição popular visa a abertura da melhor solução política, é evidente que haverá em breve uma alteração fundamental nas relações estabelecidas até aqui entre o Governo de Salazar e as populações de Angola. A importância dos lucros obidos pelos monopólios portugueses no nosso país e uma ideologia colonial secular explicam o carácter de guerra de extermínio levada a cabo por Portugal contra o povo angolano. Essa guerra colonial já fez, entre as populações civis, 50.000 vítimas em menos de 4 meses. Ela não encontra qualquer paralelo na história, tanto mais que as autoridades portuguesas declaram publicamente a sua vontade de acabar com a insurreição massacrando 100.000 nacionalistas angolanos daqui até 15 de Agosto próximo. Os diversos meios anti-colonialistas do mundo começam a ficar sensibilizados com esta situação. Numerosos refugiados, cerca de 60.000, chegaram ao Congo-Léopoldville, depois de terem abandonado os seus lares, metralhados e arrasados pelas hordas colonialistas. Dos quatro cantos do mundo, vozes autorizadas se levantam para condenar a bárbara repressão colonialista que se abateu sobre o povo de Angola em luta pelo direito à autodeterminação e à independência. Mas como o Governo português se declarou nitidamente inimigo confesso dos povos africanos, autor do genocídio das populações negras, cabe aos países africanos o papel histórico de se colocarem na vanguarda da luta para acabar com a guerra colonial em Angola. Pedimos aos governos dos países irmãos para concertarem a sua acção e passarem em revista as medidas comuns a tomar contra Portugal. Essas medidas comuns devem incluir necessariamente a ruptura das relações diplomá­ticas com Portugal, o boicote económico e uma pressão sobre os aliados da OTAN do ditador moribundo. O MPLA espera ardentemente que as organizações de massas nos países da África e da Ásia esclareçam a opinião internacional sobre a justa causa do povo angolano, denunciem a guerra de extermínio levada a cabo pelo colonialismo português e manifestem o seu apoio por todos os meios com vista ao triunfo da nossa causa de libertação nacional. O povo da Guiné, estamos certos disso, não deixará, como no passado, de jogar o seu papel de companheiro de armas do povo angolano. Viva Angola independente! Conakry, 28 de Junho de 1961 MÁRIO DE ANDRADE

Declaração do Presidente do MPLA (Mário de Andrade) à Radio Guiné sobre semana de solidariedade (Conakry)

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