Memorando e Ordem de serviço do MPLA

 [rubrica de Viriato da Cruz] MEMORANDUM E ORDENS DE SERVIÇO 1 – O Graça deve ser imediatamente integrado no Comité de Acção para o Congo. 2 – A contabilidade das finanças deve-lhe ser confiada, bem assim como o controlo sistemático das despesas. O Graça deverá exercer esse controlo com o fim de: impedir a prodigalidade e o desperdício; imprimir um permanente senso de economia nas despesas do Movimento; circunscrever as despesas ao indispensável, nos limites da decência; introduzir, nas questões de finanças do Movimento, o hábito da previdência; manter um princípio de equidade racional na distribuição dos bens e dos valores materiais que o Movimento fizer aos seus “militantes profissionais”; fixar, definiti­vamente, dentro do Movimento o hábito de todos os militantes, a quem foram confiados valores, prestarem contas. 3 – É desejável, tanto quanto possível, um estilo de vida de messe. Combater o ­individualismo, mas impedir também que se caía na promiscuidade. 4 – Combater o liberalismo que se manifestar dentro da organização. 5 – Estar vigilante à formação de complots e de grupinhos dentro do Movimento. Denunciar e combater, a tempo, todos os complots e grupinhos – germes da divisão dentro do Movimento. 6 – Juntamente com os outros compatriotas responsáveis, o Graça fará os possíveis por dar ordem aos trabalhos de secretaria e de arquivo. A numeração e a classificação da correspondência e o arquivo imediato da correspon­dência. Os arquivos do Movimento não podem ter um carácter ­comercial ou burocrático. É necessário dar toda a atenção ao facto de que somos uma organização política. A correspondência secreta e confidencial terá um arquivo especial que estará sob a guarda de um membro do Comité Director. Os arquivos gerais não podem ser devassados por qualquer militante. O MPLA não é um clube de futebol. Em suma: Na questão de correspondência e arquivo é absolutamente indispensável prever e pôr em prática medidas de segurança que salvaguardem as nossas conveniências políticas e que nos possam defender, em qualquer momento, dos golpes dos nossos adversários e inimigos. 7 – As chaves do Bureau não podem ser confiadas a toda a gente. 8 – Defender os interesses do Movimento, utilizando métodos corteses e não rudes. 9 – Ajudar a numerar os cartões de membros com numerador automático. Tanto quanto possível, os recrutadores de membros deverão assentar, numa lista (caderno) os números dos cartões expedidos e os nomes dos titulares. Este trabalho tem em vista facilitar um trabalho de estatística. 10– O Graça fará todos os possíveis por enviar periodicamente ao bureau de Conakry material para a propaganda (fotos da luta no interior de Angola; fotos de aldeias destruídas, de massacres; fotos de refugiados e das condições de existência deles; fotos de manifestações públicas de todos os partidos angolanos etc.) As fotos devem vir acompanhadas de legendas explicativas. 11– Cuidar da conservação de todo o material do MPLA (máquinas de escrever, máquinas fotográficas, aparelhos de rádio, malas, mobiliário, material de ­escritório, etc.) Impedir que os valores e os objectos do MPLA entrem no circuito da vida privada dos militantes. O Movimento é uma empresa com personalidade própria impessoal, não se confunde com a pessoa de nenhum militante. 12 – Ordenar e disciplinar o trabalho não tem nada a ver com o burocratismo, com as papeladas e os formulários excessivos e inúteis. Combater o burocratismo e introduzir normas de trabalho prático e rápido. 13 – Fazer o impossível para salvaguardar a unidade de sentimentos, de ideias e de acção dentro do Movimento. Analisar tudo e fazer analisar tudo com espírito objectivo e tacto. 14 – Interessar-se permanentemente pela saúde, pela alimentação e pelas condições de vida dos companheiros. Buscar, junto dos membros do Comité Director, soluções para os problemas que surgirem nesses domínios. 15 – Todas as informações para nós (Conakry), para serem úteis, deverão responder às seguintes perguntas: Quem? Quando? Como? Onde? Porquê? Conakry, 24 de Agosto de 1961. [seguem assinaturas de V. da Cruz e de Silva Tavares]