Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»
Lausanne, 31/1/62 Amigo Não sabemos qual o motivo que o leva a não ter ainda respondido à nossa última carta de Dezembro do ano findo. Sejam quais forem os factos que impeçam a continuação normal da nossa correspondência, aqui deixamos expresso a nossa apreensão e a nossa crítica. Apreensão pelo facto do vosso longo mutismo e crítica porque a falta de contacto entre os militantes do nosso Movimento e os seus responsáveis superiores pode dar origem a uma diminuição da actividade dos respectivos comités de acção. Já formámos aqui o nosso Comité de Acção por motivos de troca de correspondência com o Ico Carreira em Rabat. Este contacto poderia ser suficiente pois cremos que ele põe-se em contacto com vocês e emite as vossas directrizes. Mas o Ico ainda não nos respondeu, e já lá vão 20 dias, e na sua última carta diz-nos que nos enviaria o quadro de trabalhos que deveriam começar em Janeiro. Já iniciámos um contacto com o Lara e achámos que nada pode impedir a sua continuação, mas, se em virtude de uma melhor coordenação tudo se fará, a partir de agora, por intermédio do Carreira, esperamos e fazemos votos para que a correspondência se realize no menor tempo possível. Isto, porque para a nossa actividade precisamos de bases concretas emanadas de vós; bases que nos darão um conhecimento geral sobre a actividade do Mov. e sobre os acontecimentos do nosso problema. Sem isso seremos um general sem armada! O que queremos nós? Tudo que possa alargar os nossos conhecimentos dentro do plano de actividades que o nosso Movimento realiza para a obtenção da liberdade para o nosso povo e o nosso país. Enfim, queremos estar em dia com o desenrolar dos acontecimentos. Assim queremos: Todo o material de propaganda (Conferências do Mário, Boletim da CONCP, Jornal “Unidade Angolana”, Estatutos e Programas em francês, livros vermelhos sobre Angola do Comité de Propaganda do Mov., emblemas para venda, propaganda sobre o Agostinho Neto, etc.) Tudo isto tem de vir no seu devido tempo, e não estamos a ser exigentes pelo seguinte: aqui em Lausanne temos oportunidade para fazer uma grande actividade, já porque o meio a isto proporciona, mas também porque aqui se encontra o grande contingente da UPA. Estes têm feito alguma coisa no sentido de dar a conhecer o seu movimento, e é claro que nós temos estado alerta e assim temos contra-atacado diplomaticamente no sentido de fazer a propaganda pelo nosso movimento. Mas se anteriormente o ambiente estava mais ou menos calmo, achamos que agora ele vai endurecer, pois a actividade de ambas as partes tem se tornado mais forte e mais descarada. Pensamos mesmo que eles querem abafar a nossa presença, mas isto não acontecerá pois nós estamos dispostos a defender os ideais da nossa causa dentro da política do nosso Movimento. Como podem os oportunistas ter mais moralidade que os homens honestos? O dia 21 de Fevereiro é um momento importante pois ele será o dia do anti-colonialismo aqui na Suíça. O Movimento Democrático dos Estudantes com o apoio de outras associações de estudantes, organizará um programa contra o colonialismo. Para isto foi pedida a colaboração dos estudantes africanos que aqui se encontram e a nossa contribuição será de molde a desmascarar e atacar o colonialismo por meio de conferências, filmes, fotos, dados, etc. Os upistas disseram que poderiam apresentar fotos, e um filme sobre a luta em Angola, com certeza com propaganda da UPA. Nós só podemos dar dados e bater papos atacando o colonialismo português e exaltando a luta do nosso povo pela libertação. Mas nós queremos apresentar o programa mais eficaz. Vocês podem-nos enviar fotos sobre o trabalho forçado, sobre os refugiados, sobre a guerra, ou mesmo algumas projecções? Pedimo-vos que nos enviem estes dados c/ a máxima urgência, se eles estiverem dentro das vossas possibilidades. A nossa actividade até agora tem sido a seguinte: 1 – Conseguimos assinaturas à favor do Agost. Neto. Já enviamos. 2 – Fizemos uma Conferência sobre o colonialismo português numa soirée organizada pelo MDE. 3 – Escrevemos um artigo sobre o começo da luta que o nosso povo opõe ao col. português numa revista “Partisans”. 4 – Temos feito propaganda do nosso Movimento e da nossa luta, dentro do meio estudantil e principalmente junto dos estudantes africanos. 5 – Tivemos (todos nós) uma reunião c/ um jurista de Genève. Todos os contactos que ele teve foram c/ militantes da UPA. Aqui reunimo-nos todos nós. Ele veio pedir dados sobre a aplicação das leis e decretos portugueses relativamente aos angolanos. Este trabalho está a ser executado pela Comissão Internacional dos Juristas em Genève que querem apresentar um trabalho idêntico ao da Comissão dos Juristas de Bruxelas para o caso argelino. Vendo a importância do caso, nós não perdemos o contacto c/ ele. Assim um de nós foi a Genève falar com ele e neste papo o nosso representante deu-lhe o livro de propaganda do MPLA sobre Angola, para ele tirar dados precisos e deu-lhe a sua direcção. Achámos que vocês poderiam tomar conta do caso. Para poderem dar dados concretos. O jurista disse que vai pôr-se em contacto com vocês. Mandem uma resposta ou uma resolução para nós. 6 – Vamos fazer na rádio de Lausanne um Programa sobre música e poesia angolana. 7 – Temos artigos para publicar em jornais de estudantes e outras revistas. Mais uma vez insistimos no caso dos nossos passaportes. Achámos que eles fazem-nos muita falta e pedimos o vosso contributo para a resolução do problema. Cremos que o Marcelino dos Santos, por meio de uma carta vossa, poderia obter os ditos passaportes junto do governo de Marrocos. Já enviámos as cotas do mês de Dezembro mas não sabemos se receberam o dinheiro, pois vocês ainda não responderam. As cotas deste mês seguirão quando tivermos a certeza de que receberam as outras. Sem sermos exigentes perguntamos, qual o auxílio financeiro que vocês podem dar aos Comités de Acção? Nós aqui temos dispensado algum dinheiro e isto está fora das possibilidades das nossas bolsas. O jornal “Unidade Angolana” é traduzido em francês? Nós aqui gostaríamos de ter traduções em francês do jornal, e temos possibilidades para a efectuar. Vocês têm alguma sugestão? Junto enviamos as fotografias de um novo militante. Mandem o seu cartão o mais breve possível. Sem mais assuntos terminamos, esperando que a partir de agora as respostas possam vir mais rápidas, e desejando receber tudo que pedimos. Receba um forte abraço de todos os amigos na Suíça.
Carta de militantes do MPLA na Suíça (Lausanne) à Direcção, criticando a falta de contacto entre os militantes e os responsáveis; informando a criação do comité de acção na Suiça e as actividades que se propoem desenvolver, assim como as dificuldades que encontram