Carta de Araújo e Gentil Viana aos militantes do MPLA em Lausanne

Cota
0030.000.044
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
José Araújo e Gentil Viana
Destinatário
Miltantes do MPLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
5
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

 14 de Fevereiro de 1962 Aos militantes do MPLA em LAUSANNE Caros compatriotas, Recebemos a vossa carta de 31 último, dirigida a título pessoal, a um dos responsáveis­ do nosso Movimento. O que nela dizem mereceu-nos a maior atenção. Em resposta, eis o que se nos oferece dizer: 1 – A vossa correspondência deve passar a ser dirigida ao MPLA, Bureau de Co­nakry, B.P. 800, onde se ocupa das relações com o vosso Comité de Ac­ção, a título especial, o Comité Jurídico. A razão do vosso contacto directo com esse Comité provém do interesse especial que tem esse Comité da actividade que vocês poderão exercer nos meios ­jurídicos e internacionais da Suíça. Isso não vos impede porém de manter correspondência com qualquer dos militan­tes e centros onde temos representação, nomeadamente com o Carreira, em Ra­bat, e com o Bureau Central, em Léopoldville. Essa correspondência será de máxima utilidade, mantendo-vos em contacto directo com dois centros vitais do Movi­mento. Vamos pôr-nos mesmo em contacto com os elementos desses cen­tros, pedindo-lhes especial prontidão nas respostas às vossas solicitações. O MPLA atribui grande importância à actividade dos seus elementos nos vários países. Mas no caso da Suíça o interesse é forçosamente maior, dado aí exis­tir uma grande representação de outro Movimento, e dado também o espírito de inicia­tiva e fervor patriótico que revelam os seus representantes. Temos a felici­tar-vos pela actividade que têm desenvolvido e aprovamos o vosso projecto de larga participação nas manifestações de 21 de Fevereiro. 2 – Seria útil para nós conhecer a organização do vosso Comité de Ac­ção. Somos de parecer que devem organizar-se, distribuindo responsabilidades e tarefas e, ao mesmo tempo, agir como um só corpo. Devem decidir com parti­cipação de todos, pelo que devem reunir-se, especialmente para trabalho mi­litante, quando for necessário. O Comité de Acção deve ter um elemento encarregado da Secretaria. Ele se ocupará também da guarda dos arquivos e da administração financeira. Acha­mos que esse membro deve ser nomeado mensalmente, segundo uma ordem ante­rior­mente escolhida, podendo assim todos participar nos trabalhos do Comité, no que respeita à sua gestão interna. A qualquer dos membros do Comité deverá caber o direito [de] propor activi­dades, aproveitando-se, assim, o espírito de iniciativa de todos. Adoptado um plano de actividade, todos deverão dar o máximo do seu esforço na sua execução, devendo, não obstante a divisão de trabalhos e para cimentar o espírito de corpo e a camaradagem, manter-se uma colaboração es­treita entre os vários elementos. 3 – Quanto ao pedido de auxílio financeiro temos a dizer-vos o seguin­te: a) Considerando o grande interesse da actividade do vosso Comité e dadas as ­despesas que ela exige, o Comité Director dispensa-vos do envio das coti­zações mensais. Essas cotizações serão entregues, em devido tempo, ao respon­sável pela gestão financeira, cabendo a sua administração ao conjunto dos membros do Comité. As despesas deverão por conseguinte, ser aprovadas por todos. Mensalmente deverão enviar-nos um balancete de despesas e receitas, para controle e informação. Dadas as grandes despesas que o Movimento enfrenta, não é possível manter-vos outra ajuda financeira regular que não seja essa. No entanto, para grandes projectos para que careçam de fundos extraordinários, formulem o vosso pedido concretamente. Ele será considerado no plano geral das activida­des do Movi­mento, decidindo-se ­concre­ta­mente a possibilidade de auxílio, a título excep­cional. 4 – Neste correio segue material. Enviamos duas colecções de documentos publicados pelo Movimento, que julgamos ser de utilidade para vocês. Alguns documentos não vão em duplicado, mas vocês poderão tirar cópias. Devem constituir com eles dois “dossiers”. Um deles deve ser arquivado (para caso de descaminho) e o outro será para circular entre vocês e para propaganda. Ao respon­sável que escolherem será confiada a guarda dos “dos­siers”, devendo manter um ­arquivado e devendo saber sempre o paradeiro do outro. Pensamos que esses documentos contêm muita matéria de informação (embo­ra alguma dela já desactualizada), útil ao conhecimento do Movimento, da sua actividade no passado e das suas intenções no futuro. Em apenso vai uma lista do material enviado. 5 – Devem escrever para o Jornal “UNIDADE ANGOLANA”, Administração, B.P. 720, Léopoldville, a pedir que mandem regularmente os jornais para vo­cês. Nós de cá faremos o mesmo pedido. No entanto, neste correio vão alguns exemplares do número especial de 4 de Fevereiro, em Português, Francês, In­glês. Não vos enviamos os números de Dezembro porque se esgotaram. Peçam ao jornal. O jornal tem uma edição em francês. Tem também edições regulares em Português, Kimbundu e Fiote. Neste número especial estão algumas fotografias das que o Movimento dispõe. De cá não podemos mandar-vos cópias, pois o serviço a que foram con­fiadas as ­fotografias são em Léopoldville. Escrevam para lá (MPLA, B.P. 720, Léopoldville), a ver se as poderão obter. No entanto com os números dos jornais que contêm as fotografias poderão fazer alguma coisa. Seguem tam­bém folhas soltas com fotografias publicadas pelo MPLA, há algum tempo. Podem servir-se delas. 6 – Os emblemas devem ser pedidos também a Léopoldville. Não dispomos aqui de muitos. No entanto seguem neste correio quatro emblemas, para os novos mi­lit­antes. 7 – O número de brochuras expedidos é insuficiente. No entanto enviare­mos mais desse material, assim como estatutos e programas, por algum militan­te que vá à Europa. Quanto aos “Regulamento Geral Interno” são suficien­tes, pois não se trata de material para propaganda, mas somente para circulação entre milit­antes. Só mandamos um exemplar da brochura da CONCP, por não dis­pormos de muitos. Peçam ao Carreira. 8 – Vão também alguns postais (“A Bas de colonialisme Portu­gais”) que vocês farão circular, na vossa correspondência, vendo bem para onde os en­viam. 9 – Só enviamos um exemplar dos Estatutos do CVAAR. Vocês poderão obter mais pedindo para “CVAAR”, B.P. 856, Léopoldville. No primeiro número do “Unidade Angolana” vêm alguns dados sobre a organização do CVAAR, pessoal, etc. Vocês podem fazer aí grande propaganda do CVAAR, organização criada pelo MPLA e cujo “apport” à luta é apreciável. O CVAAR aceita auxílio material (especialmente em medicamentos de que carece), venha de onde vier. O seu tra­balho na assistência aos 160.000 refu­giados é considerável. Dispõe actualmen­te de um dispensário central, em ­Léopoldville, onde prestam serviço 8 médi­cos e cerca de 30 enfermeiros. Todo o pessoal que trabalha actualmente no CVAAR é angolano. Está a encarar a possibilidade de criação de dispensários nas zonas fronteiriças. 10 – O “Aide Mémoire” é o documento mais recente do Movimento. Foi apresentado pela nossa delegação à 16ª Assembleia Geral da ONU. 11 – Vão também dois exemplares de um comunicado feito pelo Movimento sob­re o massacre de uma coluna nossa por homens da UPA. Esse comunicado foi dirigido apenas a militantes. O facto hoje já teve circulação no Mundo. Este facto de guerra fratricida movida pela UPA a elementos do MPLA poderá ser divulgado por vocês, mas somente em particular. Nada de fazerem declarações públicas sobre o assunto, o que poderá prejudicar a simpatia que muitos dedi­cam à causa angolana. Chamamos a vossa especial atenção para este delicado pro­blema. A UPA, evidentemente, desmentiu, antes mesmo de proceder a qualquer inquéri­to. 12 – Para ficarem informados sobre a situação militar leiam a Decla­ração feita pelo Presidente, numa das suas últimas conferências de Imprensa, dada em Léopoldville. Depois dessa ele deu uma Conferência em Rabat (em De­zembro), mas infelizmente os textos de que dispúnhamos esgotaram-se, não nos sendo possível tirar cópias. Peçam isso também ao Carreira. 13 – Tomámos conhecimento do que dizem sobre o jurista de Genève. Até hoje ele não se pôs em contacto connosco. Digam-lhe que escreva para MPLA, Comité Juridique, B.P. 800 CONAKRY, République de Guinée. Enviem-nos também o seu nome e endereço. Procurem obter todas as informações e documentos (esta­tutos, etc.) sobre essa Comissão de Juristas de Genève, e se possível o tal trabalho apresentado em Bruxelas sobre o caso argelino. Estamos especial­men­te inte­ressados nesse contacto, que não devem perder. Digam-lhe que o Comité Jurídi­co do MPLA tem ao seu serviço advogados angolanos. 14 – Achamos que será da máxima utilidade para vocês a leitura do “Rap­port du Sous-COMITÉ CHARGÉ D’EXAMINER LA SITUATION EN ANGOLA”. Poderão ad­quirir documentos desses na ONU, Palais des Nations, em Genève. É o documento A/4978, da Assembleia-Geral da ONU, de 27 de Novembro de 1961. Embora tenha algumas deficiências, o “Rapport” é uma boa fonte de informação. 15 – Devem enviar-nos os textos dos vossos artigos, conferências, etc., para termos uma ideia da vossa actividade. Devem enviar-nos pelo menos dois exemplares de cada jornal ou revista em que vierem publicados. Mandem-nos também recortes de jornais que trouxerem matéria que nos interesse. Cada um de vocês deve ocupar-se da leitura regular de determinado jornal ou revista da Suíça que verse temas do nosso interesse. Enviem-nos também o texto e a lista das pessoas de que obtiveram assi­natu­ras para Agostinho Neto. 16 – O problema dos passaportes é algo delicado. A solução do Marrocos não é fácil, o que não quer dizer que não se venha a tentar futuramente. No momento actual não convém fazer essa diligência. Achamos porém, que poderão tentar obter “travel documents” na Missão do Ghana, talvez em Genève. Podem apresentar-se ali como militantes do MPLA, dizendo que não seguiram para o Ghana com os 45 estudantes (os quais hoje dispõem desses ­documentos) por se encontrarem ao tempo na Suíça. Sabemos que alguns estudantes se apresentaram o ano passado nessa Missão a pedir “passaportes”. A obtenção de ­passa­porte não é tão fácil, mas também não é indispen­sá­vel. O “Travel document” já vos permite viajar. Algum de vocês pertencia ao grupo que fez o pedido de passaporte? Se a vossa tentativa de obtenção do “Travel document” ghanês falhar informem-nos para podermos agir. 17 – As cotas do mês passado foram recebidas. Às de Janeiro podem dar o destino que se disse atrás. 18 – O cartão do novo militante seguirá em breve. 19 – Na vossa acção aí na Suíça, vocês não devem levar a competição com os da UPA ao ponto de criar atritos. Não se furtem a qualquer colaboração com eles, procurando criar um espírito de unidade, nunca transigindo, porém, nos prin­cípios. Confiamos no vosso tacto e bom senso. Saudações fraternais, [assinatura de José Eduardo Araújo e Gentil Viana] MATERIAL ENVIADO AOS MILITANTES DA Suíça PARA OS “DOSSIERS” Estatutos – 2 exemplares Programa – 2 exemplares Regulamento geral Interno – 2 exemplares CVAAR – ESTATUTOS – 1 exemplar THE FACTS ABOUT PORTUGAL’S AFRICAN COLONIES – 2 exemplares FOLHETOS SOBRE AGOSTINHO NETO – 2 exemplares DECLARAÇÃO DE MÁRIO DE ANDRADE SUR LA LUTTE DU PEUPLE ANGOLAIS – 2 exemp. DECLARAÇÃO DO COMITÉ DIRECTOR DO MPLA DE 5 DE MARÇO DE 1961 – 2 exemplares DECLARAÇÃO AO GOVERNO PORTUGUÊS FEITA PELO MPLA EM 3/6/1960 – 2 exemplares COMUNICADO DO COMITÉ DIRECTOR DO MPLA DE 13/8/1960 – 2 exemplares BOLETIM DE INFORMAÇÃO Nº 1 DE DEZEMBRO DE 1960 – 2 exemplares NOUVELLES DES PROCES POLITIQUES – 2 exemplares APPEAL (de 18/6/1961) – 2 exemplares MENSAGEM AO POVO PORTUGUÊS, DE 30/6/1960 – 1 exemplar PROJET DE RESOLUTION SUR L’ANGOLA – 1 exemplar DECLARATION de 25 OCTOBRE 1960 – 2 exemplares APPEAL AUX ETATS MEMBRES de L’ONU – 2 exemplares GENESE DU MOUVEMENT NATIONALISTE ANGOLAIS – 2 exemplares STATUTES AND PROGRAMME OF THE MPLA – 2 exemplares AIDE MEMOIRE SUR LA SITUATION EN ANGOLA – 2 exemplares LES TRAVAILLEURS DE L’ANGOLA ACCUSENT – 1 exemplar CONVITE PRÉVIO – 2 exemplares ABAIXO ASSINADO DE 5/6/1961 – 2 exemplares COMMUNIQUÉ de 5/11/1961 – 2 exemplares SEGUNDO APELO À UNIDADE – 2 EXEMPLARES COMUNICADO DE 23/11/1961 – 2 exemplares COMUNICADO SOBRE A CARTA DE A. NETO – 2 exemplares DECLARATION ADRESSÉE AU GOUVERNEMENT PORTUGAIS de 13/6/1960 – 2 exemplares CONFERENCE DE PRESSE de 13/10/1961 – 2 exemplares PARA PROPAGANDA E PARA OS MILITANTES Brochuras “ANGOLA” – 20 exemplares (contendo cartões) STATUTS ET PROGRAMME – 40 exemplares REGULAMENTO GERAL INTERNO – 20 exemplares CARTÕES “A BAS LE COLONIALISME PORTUGAIS” – 40 exemplares Folhas soltas c/ FOTOGRAFIAS – 20 exemplares Brochura da CONCP – 1 exemplar Jornais “UNIDADE ANGOLANA” (número especial de 4 de Fevereiro) – 8 exempl. EMBLEMAS – 4 [Nota manuscrita e rubricada por Gentil Viana: P.S.: Este material segue por via marítima. Vamos despachar neste avião 26 exemplares de “Unidade Angolana” e 5 Brochuras.]

Carta de Araújo e Gentil Viana aos militantes do MPLA em Lausanne

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