Comunicado aos militantes do MPLA sobre 1ª Conferência Nacional

Cota
0044.000.008
Tipologia
Comunicado
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
Comité Director do MPLA
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
7
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA
MPLA
51, Avenida Tombeur de Tabora – C.P. 720
LÉOPOLDVILLE
PRIMEIRA CONFERÊNCIA NACIONAL DO MPLA
C O M U N I C A D O
aos militantes do MPLA
Terminados os trabalhos da Primeira Conferência Nacional, o Movimento Popular de Libertação de Angola leva ao conhec­imento dos seus milhares de militantes ­espalhados no interior e no exte­rior de Angola os resultados al­cançados.
Esta Conferência reuniu 70 delegados em representação dos organismos internos do Movimento – Comi­tés de Acção, Exército Popular de Libertação de Angola, Trabalhadores, Organização das Mulheres, Juventude e Corpo Voluntário Angola[no] de Assistência aos Refugia­dos – e constituiu o primeiro passo para a realiza­ção no futuro de iniciativas de maior envergadu­ra.
A ideia da realização desta Primeira Conferência Nacional resultou da necessidade de uma larga ausculta­ção dos militantes e da sua integração na vida do Movimento, em virtude da radicação do ideal revolucionário nas massas e do crescimento da Organização.
O Movimento Popular de Libertação de Angola congratula-se com o nível alcançado pela Confe­rência e com a demonstração de maturidade política feita por todos os participantes.
O balanço dos trabalhos foi largamente positivo, adquirindo o Movimento os instrumentos práticos que lhe permitirão ganhar um maior dinamismo.
LINHA POLÍTICA
Em matéria de linha política, a Primeira Conferência Nacional estabele­ceu que o MPLA deve garantir a representação da população rural na direcção do Movimen­to e dos organismos de condução da luta no interior do país, e acentuou que a Revolução Angolana deve concentrar todos os esforços na realização das aspirações das massas camponesas, na base duma aliança de todas as forças produtivas da nação.
Encarando o futuro do país, a Conferência determinou que o Movimento deve zelar pela implanta­ção em Angola de um regime que seja a emanação da vontade popular e que ofereça garantias ao povo de exercer o controle do poder, satisfazendo cabalmente os seus anseios de liberdade, justiça e pro­gresso em todos os domínios.
A Conferência manifestou-se categoricamente con­tra o tribalismo, o regionalismo, o sectarismo e a intolerância racial e contra as distinções de carácter político e religioso.
Estabeleceu que o MPLA se oporá à en­trada de investimentos que comprometam a independência económica e política de Angola.
Estabeleceu ainda que na Angola independente haverá lugar para todas as etnias e todos os credos religiosos.
O respeito pela vida e pelos bens dos portugueses e de outros es­trangeiros será condicionado pela atitude que os mesmos tomem em face da luta angolana.
A Primeira Conferência Nacional proclamou o princípio que garante o exercício do direito de cidadania angolana a todos os angolanos residentes ou nascidos no ­estrangeiro sem qualquer discri­mi­nação.
A Conferência adoptou o princípio da salvaguarda da unidade nacional e da inte­gri­dade do território angolano nas suas fronteiras actuais, conforme o espírito da ­resolução das Nações Unidas sobre fronteiras africanas.
A Conferência determinou que as bases para uma eventual negociação com o governo português são, nomeadamente:
– o reconhecimento do direito de Angola à auto­de­termi­nação e à inde­pendên­cia;
– a libertação dos presos políticos;
– a reti­rada de todas as forças arma­das portuguesas para as suas bases de origem;
– a ga­rantia de eleições livres para a cria­ção de um órgão legisla­tivo;
– o estabe­lecimento de um prazo que marque o fim do ­domínio por­tu­guês sobre o país.
A Primeira Conferência Nacional precisou que não confunde a luta contra o colonia­lismo portu­guês e o próprio povo português, e decidiu encorajar a opo­sição demo­crática por­tuguesa ­­na sua luta para o derruba­mento do regi­me fascista e colonial de Salazar. Decidiu encorajar igualmente a acção dos gru­pos políti­cos dirigidos por por­tugue­ses pro­gressistas nasci­dos em Angola que visem neu­tra­lizar o apoio dispensado às forças de re­pressão pelos colonos e a lutar pelos mesmos objectivos dos movi­mentos na­cionalistas ango­lanos.
A Primeira Conferência Nacional consagrou o princípio do neutralismo positivo praticado sem qualquer subterfú­gio pelo Movimento, como afirma­ção realista e o único compor­tamento possível num mundo pleno de ameaças, onde os povos ainda sob dominação estrangeira teriam muito a per­der se se empenhassem no jogo de ­competi­ção entre os dois blocos.
A Primeira Conferência do MPLA fixou os seguintes princípios orientado­res da política exterior do Movi­mento:
1. Criar uma diplomacia militante que, pelo seu carác­ter e pelos métodos ­utilizados reflicta a nossa organi­zação políti­co-mili­tar.
2. Coordenar a acção directa contra o inimigo co­mum com os movi­mentos naciona­listas das colónias portuguesas, no seio do organismo já criado – a CONCP.
3. Reforçar as nossas alianças africanas com os movi­mentos nacio­na­lis­tas dos países que lutam pela sua independência e em particular com o centro e sul de Áfri­ca, Rodésia, União Sul-Africana e Sudoes­te Africano. Alargar a nossa presença nos países africanos inde­pen­den­tes.
4. Reafirmar o não-alinhamento sobre a política dos blocos, para não cimen­tar em Angola os efeitos da guerra fria, cavando ainda mais a inge­rência dos países interes­sados nos assun­tos internos do nosso país e na di­visão do nacionalismo angolano.
5. Internacionalizar o problema angolano pela redução do campo dos nossos inimigos, levando a um maior isolacionismo de Portu­gal na cena política mundial; partici­par na organi­zação da boicota­gem política, diplomática e económica contra esse país pelo maior número possível de gover­nos dos Estados-
-membros da ONU.
A Conferência recomendou ainda a realização dentro do mais curto espaço de tempo possível de uma Conferência Africana no quadro da PAFMECSA, onde sejam defini­das as obrigações dos países limítrofes para os países ­ainda não inde­penden­tes da África Central, Oriental e do Sul.
PROGRAMA DE ACÇÃO
A Primeira Conferência Nacional estabeleceu que as preo­cu­pações imediatas da di­recção do MPLA devem ser especialmente concentradas:
– na ins­ta­lação do Movimento no con­junto do terri­tório nacio­nal e em par­ticular nos meios rurais;
– na elevação do espírito insurreccional do povo angolano;
– na criação entre a população civil de grupos de auto-defesa;
– no desenvolvimento duma campanha de esclarecimento junto do exér­cito e do povo portuguê­s;
– na elevação do nível da luta armada;
– no desenvolvimento da consciência nacional;
– na criação dum comité permanente pro-unidade, que tome iniciativas no sentido de promover o espírito unitário entre as organizações nacio­nalistas angolanas.
A Conferência estabeleceu que os aspectos essenciais da acção a exercer no Exterior de Angola devem consistir na mobilização políti­co-militar dos angolanos e na formação de quadros que preencham as necessida­des da nossa luta nos períodos da inde­pen­dência e da reconstru­ção.
Sobre a acção nas Repúblicas do Congo, a Conferência determinou a aceleração do re­gres­so a Angola e a formação de quadros político-militares.
A Conferência Nacional estabeleceu igualmente as linhas ge­rais duma vasta acção a empreender junto dos refu­giados nos domínios da as­sistên­cia médica, escolar, ­profissio­nal, junto dos emigrados ou no seio das organi­zações de massas: sindicatos, juventude, mulhe­res.
Esta Primeira Conferência Nacional determinou igualmente a recupe­ração acelerada da mulher angolana para a luta, cuja mobi­lização deverá ser realizada nos campos:
– da assistência social e sani­tária;
– da escolarização;
– do enquadramento político-militar e da participação nos órgãos dirigentes;
– da formação técnica e política.
A Primeira Conferência Nacional decidiu ser necessá­rio inculcar na criança angolana o espírito de fraternida­de, de cama­radagem, de disciplina e sacrifí­cio a favor do povo, e ainda o da igualdade de direitos na revolução.
Estabeleceu também que a criança angolana deve ser educada no sen­ti­do de compre­ender a necessidade e as finalidades da luta de libertação nacional para se transformar na semente de uma autêntica revolução.
A Confe­rência recomen­dou que os milit­antes do MPLA no exterior devem ­consi­derar-se inteira­mente à dispo­sição do Movimento e prontos a submeter-se à sua disciplina político-militar.
ESTRUTURAS
No domínio das estruturas, a Primeira Conferência Nacional do MPLA decidiu o seguinte:
1 – Adoptar uma estrutura simples e global, sem dei­xar de respon­der à realidade constituída pela existência de dois espaços, Inte­rior e Exte­rior, em que se desdobra o esforço de liberta­ção nacional.
2 – Generalizar uma disciplina de tipo militar a todos os orga­nis­mos do MPLA, de acordo com a síntese do polí­tico com o mili­tar.
3 – O primado do Interior sobre o Exterior.
4 – O exercício duma direcção colectiva baseada na responsabilidade indi­vidual.
5 – O cumprimento efectivo da ideia do centralismo demo­crá­tico como princípio base de toda a nova estrutura orgânica.
A Conferência estabeleceu a seguinte estrutura orgânica:
1 – Um Conselho Político Nacional, órgão supremo ­do MPLA, cons­titu­í­do por 70 delega­dos, representantes directos da massa mili­tante. Deste organismo sairá uma Comissão de Controlo de execução de manda­tos, cons­tituída por 10 membros, que deverá reflectir, tanto quanto possível, o conjunto de todas as regiões.
2 – Um Comité Director constituído por:
Presidente
Vice-presi­dente
Os chefes dos departamentos da Guerra; das Relações Exteriores; da ­Organização e Quadros; da Informação; dos Assuntos Sociais; das Finanças e Economia; da Segurança.
3 – Um Comité Político-Militar, único de­ten­tor dos segredos naturais da vida do Movimento, e que terá a seguinte consti­tuição:
– Presidente
– 1º Vice-Presidente
– Chefes dos departamentos da Guerra; Relações Exteriores; Economia e Finanças; Orga­ni­zação e Qua­dros
Ligados à Presidência, funcionarão os serviços de Secretaria.
A Conferência Nacional introduziu a seguinte alteração na estrutura de base:
O Distrito – reflexo da divisão adminis­trativa portu­guesa – é subs­tituído pelo Sector, criando-se a Região. A estrutura de base será a seguinte:
– Nação
– Região
– Zona
– Sector
– Lugar
Esta estrutura coincide com a militar.
A Primeira Conferência Nacional do MPLA decidiu unanimemente adoptar o ­prin­cípio da competência individual, espírito de sacrifício e fidelida­de aos princí­pios revolucionários como regra orientadora da escolha dos militantes para o pre­enchimento dos cargos administrativos do Movimento Popular de Li­bertação de Angola.
A Primeira Conferência Nacional do MPLA elegeu em plena liberdade de escolha os seguintes corpos directivos:

COMITÉ DIRECTOR
DR. AGOSTINHO NETO............... – Presidente
MATIAS MIGUÉIS......................... – 1º Vice-Presidente
Rev. DOMINGOS DA SILVA....... – 2º Vice-Presidente
MANUEL LIMA............................. – Chefe do departamento da Guerra
MÁRIO DE ANDRADE................. – Chefe do departamento das Relações Exteriores
LÚCIO LARA ............................. – Chefe do departamento de ­Organi­zação e Qua­dros
ANÍBAL DE MELO........................ – Chefe do departamento da Informação
DEOLINDA RODRIGUES............. – Chefe dos Assuntos Sociais
DESIDÉRIO DA GRAÇA............... – Chefe do departamento de Finanças e Economia
HENRIQUE CARREIRA................ – Chefe do departamento da Segurança

COMITÉ POLÍTICO MILITAR
O presidente
O 1º Vice-Presidente
Os chefes dos departamentos da Guerra; das Relações Exteriores; da Organização e Quadros; de Finanças e Economia

A Primeira Conferência Nacional do MPLA rendeu homenagem aos heróis ­tombados no campo da honra e não esqueceu aqueles que, detidos nas masmorras coloniais portuguesas, continuam a manter um comportamento exemplar.
Assim, o Rev. P. Joaquim Pinto de Andrade, detido em Portugal no Forte de Caxias foi eleito por aclama­ção Presidente de Honra do MPLA.
Igualmente por aclamação, a Conferência alargou o Presidium de Honra do Movimento de modo a honrar, prestigiar e homenagear outros nacionalistas que expiam nas cadeias portuguesas a pena do seu amor à causa nacional.

Léopoldville, 16 de Dezembro de 1962 [carimbo do CD]
O COMITÉ DIRECTOR

Comunicado aos militantes do MPLA sobre 1ª Conferência Nacional (Léopoldville)

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