Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»
DISCURSO PRONUNCIADO POR ALTURA DA ABERTURA SOLENE DA ESCOLA DE QUADROS DO MPLA 28 de Fevereiro de 1963 Caros irmãos, caras irmãs, O povo angolano acaba de celebrar no dia 4 de Fevereiro o 2º aniversário do desencadeamento de uma luta heróica que engajou em condições de uma desigualdade evidente. O balanço é positivo quanto ao desenvolvimento e ao melhoramento do nível da luta, mas muitos esforços estão por fazer para que o nosso povo possa entrever claramente qual será o seu final. Os problemas que se põem hoje aos que têm por tarefa conduzir a fase actual da guerra de libertação do povo angolano, consistem precisamente em evitar que os combates cristalizem em simples operações de rotina, que não terão o vigor (élan?) necessário para a liquidação definitiva da dominação colonialista e a instauração dos fundamentos de uma sociedade nova. A 1ª Conferência Nacional do MPLA estabeleceu os princípios de uma linha política coerente que teve em consideração todos os dados do problema angolano. A linha política e o Programa de acção imediata estabeleceram bem que somente um amplo apoio das massas, e em particular das massas camponesas, poderá enriquecer a nossa luta com os elementos indispensáveis, capazes de transformar a nossa luta de libertação numa verdadeira guerra revolucionária com objectivos nacionais. E para que possamos ganhar uma tal guerra, é preciso que o povo sinta a cada instante que a faz para conquistar os seus direitos e para defender os seus interesses. Impõe-se pois a mobilização de todas as camadas sociais angolanas, dado que a opressão colonialista recai sobre todo o povo angolano. Contudo a mobilização geral não basta. É preciso ir-se mais longe: é preciso aumentar a moral do povo; é preciso preparar, desde já, as condições que permitirão prosseguir a luta sem desfalecimento, até ao objectivo fundamental; é preciso que, desde já, o Povo possa sentir que a Revolução lhe pertence, inteiramente. O engajamento dos militantes não deve perder de vista estes pontos essenciais. O Programa de acção imediata do MPLA responde correctamente a todas estas preocupações. Agora é preciso somente acelerar a sua execução. E para isso é preciso divulgá-lo e explicá-lo às massas. Esta divulgação, para ser realizada num sentido correcto, só poderá ser executada por militantes conscientes, munidos dos instrumentos próprios à execução da tarefa grandiosa de assegurar o aumento constante da capacidade combativa do povo. A aquisição de tais instrumentos depende de uma militância revolucionária, com a preocupação constante de resolver todos os problemas relativos à vida do Povo, os problemas da Terra e do Trabalho, os da subsistência e da Saúde, e também os problemas directamente ligados à Revolução. Foi a partir desta preocupação que o MPLA decidiu, na 1ª Conferência Nacional, de se engajar numa política de formação de quadros, escolhidos entre as camadas mais oprimidas do nosso Povo. A abertura oficial da Escola de Quadros do MPLA vem ao encontro de uma tal decisão. O nosso Movimento pensa contribuir deste modo à elevação rápida da consciência política dos militantes e do espírito revolucionário das massas. Ao criar a Escola de Quadros, o MPLA quer colocar no ambiente próprio o militante responsável, que tem que viver junto do nosso povo, que verá nele o mais fiel defensor dos seus legítimos direitos. Assim ele se preparará ao sacrifício ilimitado que a Revolução exige. Assim o Povo compreenderá que as tarefas da Revolução só aumentam e se tornam mais difíceis. Com a Escola de Quadros o MPLA quer desenvolver e consolidar a disciplina severa, mas livremente consentida pela totalidade dos militantes. A via democrática que o nosso Movimento escolheu não pode tolerar que as responsabilidades se mantenham entre as mãos de um núcleo reduzido de quadros. Uma tal concentração das responsabilidades travaria a capacidade combativa dos nossos militantes e impediria o seu contacto com o Povo. Uma tal concentração das responsabilidades conduziria ao sectarismo e ao dogmatismo e às suas consequências perniciosas, entre as quais o aventureirismo – que nós já tivemos que combater – é uma das mais perigosas. Os nossos quadros deverão executar uma preparação teórica e prática que os tornará Monitores políticos. Em seguida, pelo seu trabalho prático no seio dos combatentes e pela elevação do seu nível de preparação teórica, obterão o grau de Comissários Políticos. Para tal precisam de estar incansavelmente devotados à Causa do nosso povo, auto-elevar o seu nível cultural nos planos político, técnico e militar. Os quadros que saírem desta Escola terão a seu cargo a alta responsabilidade de dar execução a todos os planos elaborados pelo executivo do nosso Movimento. As matérias que serão lançadas nesta Escola serão o grão que só germina se encontra condições favoráveis. Aqui, as condições favoráveis serão a militância consciente dos quadros, no seio das organizações em que militam. Nas condições actuais da nossa luta armada, os nossos quadros terão a preocupação fundamental de estudar os problemas militares, a fim de que a cada instante e em qualquer circunstância possam contribuir para abreviar a luta contra o nosso pior inimigo – o colonialismo português. Na fase actual da nossa luta, um outro problema se põe com acuidade – o da conjugação dos esforços de todos os angolanos engajados numa luta. Aí também os nossos quadros terão um papel importante a desempenhar. Pela consciencialização das massas, poderão acelerar a sua interferência na constituição de uma frente de libertação verdadeiramente nacional. O MPLA tem a certeza que os objectivos desta Escola de Quadros serão inteiramente atingidos. O plano de trabalho está dividido em três fases [só versão em francês]: Durante a primeira fase estudar-se-ão os documentos da 1ª Conferência Nacional, os problemas de estrutura e haverá ao mesmo tempo uma ligeira introdução a certos problemas práticos da luta de guerrilha. Na 2ª fase aprofundar-se-ão o estudo dos problemas da guerra revolucionária, estudando não só a experiência da luta dos povos irmãos, mas também a nossa própria experiência. Ao mesmo tempo haverá um estudo simples de História e Geografia de Angola. Na terceira fase, finalmente, estudar-se-ão os problemas políticos de maior alcance, tais como o colonialismo, o neocolonialismo, o imperialismo, o subdesenvolvimento, os regimes políticos, a História de África, etc. Estas três fases, que não ultrapassarão dois meses na sua totalidade, serão acompanhadas de conferências feitas por responsáveis do Movimento. Estamos certos que depois de tudo isto um novo sopro revolucionário se fará sentir à escala de toda a Nação angolana e que a duração da guerra será certamente mais curta. Irmãos, o MPLA espera que sejam dignos desta Escola. Viva o MPLA!
Discurso da abertura solene da Escola de Quadros do MPLA