Comunicado do MPLA sobre Conferência dos Chefes de Estado africanos

Cota
0051.000.016
Tipologia
Comunicado
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
Comité Director do MPLA
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO
DE ANGOLA
MPLA
51, Avenue Tombeur de Tabora
B. P. 720 – Tel. 2452
LÉOPOLDVILLE

Doc. 79/63
AM/LF

COMUNICADO

No mês de Maio realizou-se em Addis Abeba a Conferência dos Chefes de Estado Africanos.
Esta Conferência tinha uma grande importância para o nosso Continente. Se todos se lembrarem que a África foi um continente escravizado e explorado e que mesmo depois de começar a libertar-se continua a sofrer as más influências daqueles países que querem continuar a mandar em África embora atrás da cortina, compreendem bem porque é que esta Conferência tinha muita importância para todos os Africanos.
A verdade é que depois de alguns anos de experiência, os Chefes de Estado Africanos que anteriormente se dividiam em diversos em grupos – Grupo de Casablanca, Grupo de Monróvia, Grupo da UAM – sentiram necessidade de se unir, porque a união faz a força.
Realizou-se a Conferência. Os Chefes de Estado discutiram os problemas africanos e chegaram a acordo que nenhum país sozinho pode vencer as forças que querem continuar a subjugar a África, explorando as suas riquezas.
O mesmo tem dito o MPLA a respeito da luta em Angola. Antes de começar a luta em Luanda, já o nosso Movimento dizia que era preciso fazer a unidade do Povo Angolano, porque só com um Povo verdadeiramente unido é que se pode fazer um País forte, próspero e feliz.
Infelizmente, outros partidos que são inimigos da unidade têm feito tudo para separar o nosso Povo à custa de mentiras. Contra esses inimigos da unidade o MPLA tem travado uma luta constante para lhes demonstrar que estão enganados e que única forma de vencer rapidamente os portugueses é fazer a unidade do Povo Angolano e a unidade dos partidos políticos angolanos.
Felizmente para nós que a Conferência de Addis Abeba veio mostrar que o MPLA tinha razão. Pois se os grandes Chefes de Estado Africanos Independentes chegaram à conclusão que o triunfo só se pode obter por meio da unidade, porque é que certos partidos políticos angolanos hão de teimar em lutar separados e alguns até procurando assassinar os seus próprios irmãos que só querem lutar contra os colonialistas portugueses?
Ora, os Chefes de Estado Africanos não queriam só tratar dos problemas dos países africanos já independentes. Queriam também tratar dos problemas daqueles territórios que, como Angola, ainda lutam contra os seus opressores coloniais, porque a África só será verdadeiramente independente quando todos os territórios do nosso Continente ficarem livres.
Sabendo disto, o MPLA preparou-se para tomar parte na Conferência, mais do que nunca disposto a fazer triunfar o nosso ponto de vista que é o que melhor serve os interesses do Povo Angolano.
Assim, antes de começar a Conferência, o MPLA fez deslocar a diversos países de África o Chefe do Departamento das Relações Exteriores, nosso companheiro MÁRIO DE ANDRADE. Ele foi recebido por diversos Chefes de Estado Africanos a quem explicou os verdadeiros aspectos da luta do Povo Angolano desmascarando, assim, o jogo ruim dos inimigos da unidade.
Uma vez este trabalho terminado, aquele nosso companheiro de luta dirigiu-se então a Addis Abeba na altura de começar a reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros que tinha por fim preparar a Conferência dos Chefes de Estado.
Também nesta ocasião o trabalho do MPLA salvou o Povo de Angola de ser mais uma vez enganado. E isto porque já lá se encontrava um inimigo da unidade do Povo Angolano, que não se cansava de intrigar o MPLA e os outros partidos nacionalistas, dizendo que só o seu partido é que lutava e mandava em Angola.
Esse inimigo da unidade do Povo Angolano ainda queria mais: queria que os seus amigos reconhecessem o seu partido como o único que podia falar em nome do Povo Angolano e o único que devia receber todas as ajudas em armas e em dinheiro.
Felizmente que este jogo também foi desmascarado e tanto os Ministros dos Negócios Estrangeiros como os Chefes de Estado Africanos rejeitaram a opinião do inimigo da unidade do Povo Angolano e aceitaram as propostas feitas pelo MPLA.
Se a reunião preparatória já tinha sido uma vitória para o Povo de Angola, e para o nosso Movimento, a reunião dos Chefes de Estado foi um êxito completo.
Nessa reunião magna, todas as nossas recomendações foram aceites e adoptadas solenemente. E isto é tanto mais importante quanto é certo mesmo antes de começarem as reuniões demos a conhecer as nossas propostas. Quer dizer que a Conferência soube reconhecer o valor da nossa luta e a honestidade das nossas propostas.
Nós não queremos deixar de fora nenhum partido angolano, como queriam fazer os inimigos da unidade do Povo Angolano em relação ao nosso Movimento e a outros.
Nós recomendámos que a Conferência fixasse que todos os países africanos deviam ajudar os movimentos nacionalistas africanos e isso foi aceite.
Nós recomendámos que a Conferência devia estabelecer que todos os países africanos deviam fazer um boicote económico a Portugal e isso foi aceite.
Nós recomendámos que a Conferência devia fazer com que os países africanos se comprometessem a fechar os seus portos e os seus campos de aviação ao trânsito de navios e de aviões portugueses e isso foi aceite.
Nós recomendámos que a Conferência devia fixar que os países africanos devem cortar relações diplomáticas com o governo português e isso foi aceite.
Nós recomendámos que a Conferência devia nomear uma comissão neutra para receber e distribuir as ajudas pelos movimentos nacionalistas e isso foi aceite.
Nós recomendámos que a Conferência devia interessar-se pela criação de verdadeiras Frentes Unidas em cada território africano não independente, na intenção de vermos realizada a unidade dos partidos políticos angolanos na luta contra o inimigo comum e isso igualmente foi conseguido, pois os Chefes de Estado decidiram formar eles próprios uma Comissão integrada de representantes dos movimentos de libertação, Comissão essa que se encarregará de resolver todas as divergências que separam os partidos políticos não só angolanos como de outros territórios ainda colonizados, com vista a criar-se em cada um desses territórios uma Frente única que englobe todos os partidos nacionalistas. E assim por diante.
Por aqui se vê que o Movimento Popular de Libertação de Angola viu finalmente ser-lhe feita justiça. Aceitando a Conferência dos Chefes de Estado todas as recomendações feitas pelo nosso Movimento e adoptando-as nas suas resoluções significa que as teses do MPLA foram reconhecidas como sensatas, honestas e justas.
Numa palavra o nosso ponto de vista triunfou!
Claro que isto não quer dizer que possamos agora dormir tranquilos. Sabemos perfeitamente que os inimigos da unidade não vão descansar e que vão procurar mil e uma maneiras de estragar o que já está feito.
Mas nós estamos vigilantes e não deixaremos que o caminho da unidade seja sabotado.
Claro está que não é só a nós a quem compete estar vigilante. Todo o Povo Angolano deve estar também vigilante.
Na certeza de que a unidade na luta é o grande trunfo de que dispõe para derrotar rapidamente o colonialismo português, o Povo de Angola deve desmascarar os inimigos da Unidade para que rapidamente possamos unidos liquidar os colonialistas portugueses e seus agentes e instaurar numa Angola Unida um clima de paz, de bem-estar e de progresso.

VIVA A UNIDADE DE ÁFRICA!
VIVA A UNIDADE DO POVO ANGOLANO!
VIVA ANGOLA INDEPENDENTE!

Léopoldville, 13 de Junho de 1963 O COMITÉ DIRECTOR

Comunicado do MPLA sobre Conferência dos Chefes de Estado africanos em Addis-Abeba (Doc. 79/63-AM/LF) (Léopoldville)

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