Carta de demissão de Manuel Lima

Cota
0052.000.054
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Manuel Lima
Destinatário
Comité Político-Militar do MPLA
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

Léopoldville, 13 de Julho de 1963
AO COMITÉ POLÍTICO-MILITAR DO MPLA
CAMARADAS
Esta é uma carta de demissão e despedida, conformemente à minha posição expressa em reunião do CD de 6/7/63.
Parto cheio de amargura e largos desenganos. Quisera ter energias para recomeçar com o mesmo entusiasmo e as mesmas esperanças, mas sinto-me esgotado, impaciente e, pior ainda, incrédulo quanto ao futuro do nosso país.
Na verdade, a via pela qual enveredou vertiginosamente o nacionalismo angolano, só me permite duas soluções drásticas: retirar-me ou passar à violência extremista; opto pela primeira, uma vez que o Movimento não tem tradições nem alicerces para ­desencadear a segunda.
Passando em revista a soma de esforços do passado, lamento não ter podido fazer mais e melhor; porém as condições de trabalho, circunstâncias e factores de vária ordem, não favoreceram a constituição duma equipa militar adulta, decidida e sólida, capaz de mudar e orientar os destinos desta guerra nacional.
Não me desolidarizo da equipa constitutiva do CD eleito pela 1ª Conferência Nacional, equipa que, como nenhuma outra foi alvo dos mais torpes e maquiavélicos ataques; não fujo a responsabilidades nem a riscos; no meu trabalho enfrentei todos esses factores. Parto por me sentir descrente e com esta horrorosa sensação de frustração.
A minha decisão é demasiado grave para a ter tomado de ânimo leve, razão porque não se me põe um problema de revisão de atitude.
Sigo para Argel e daí por diante nada mais sei. No entanto, em qualquer parte do mundo onde vá parar, estarei à disposição do Movimento Popular de Libertação de Angola, para qualquer serviço em prol da libertação nacional.
Deixo ao CPM a liberdade de transmitir ao Comité Director e aos militantes esta decisão, quando achar mais conveniente. Pessoalmente custa-me não poder esperar “melhores dias” do Movimento, para fazer esta retirada, mas não creio que a minha presença viesse melhorar esta situação deteriorada pelos últimos acontecimentos.
Reparto o meu abraço por todos os camaradas e militantes de boa vontade.
Manuel Lima [com assinatura]

Carta de demissão de Manuel Lima (Léopoldville)

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